'Ainda estou aqui' chega a Veneza como alerta contra ditaduras

VENEZA, 1 SET (ANSA) - A história de uma grande mulher sozinha contra a ditadura brasileira foi um dos destaques do Festival de Cinema de Veneza neste domingo (1º).   

"Ainda estou aqui", de Walters Salles, traz Fernanda Torres no papel de Eunice Paiva, mãe de cinco filhos e cuja vida foi virada do avesso após o sequestro, prisão e desaparecimento de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, vítima do regime militar e interpretado por Selton Mello.   

Depois de algum tempo, ela e a filha mais velha também são detidas, torturadas e colocadas na prisão durante cinco longos dias. Uma vez libertada, a mulher é obrigada a se reinventar sem dinheiro e com as contas do marido bloqueadas. Então decide começar tudo de novo mudando-se para São Paulo, onde volta a lecionar.   

O filme, baseado no livro homônimo do jornalista Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice, repousa quase inteiramente sobre as costas de Fernanda Torres, desde já candidata a melhor atriz no Festival de Veneza e que está sempre em primeiro plano, capaz de transmitir bem a angústia claustrofóbica e desesperada enfrentada por Eunice.   

"Quando li pela primeira vez o livro de Marcelo Rubens Paiva, fiquei profundamente emocionado. Pela primeira vez, a história dos desaparecidos era contada a partir da perspectiva de quem ficou", disse Salles em Veneza.   

"Na experiência de uma mulher, Eunice Paiva, havia tanto a história de como vivenciar uma perda quanto o sinal da ferida deixada em uma nação", acrescentou o cineasta, amigo da família desde criança.   

"Nos sete anos em que trabalhamos em 'Ainda estou aqui', a vida no Brasil chegou perigosamente perto da distopia da década de 1970, o que tornou ainda mais urgente contar essa história", afirmou Salles.   

Marcelo Rubens Paiva, por sua vez, traçou um paralelo com as "muitas famílias que sofrem em Israel e Gaza". "Frequentemente são as próprias mulheres que dirigem essas famílias", salientou o escritor, que também tem cidadania italiana.   

"Quando escrevi o primeiro livro sobre minha família chorei, muito, mas depois isso nunca mais aconteceu, a não ser quando fui ao set do filme e encontrei aquela casa, idêntica à minha, mas sem móveis, assim como quando fugimos para São Paulo", disse.   

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"Ainda estou aqui" participa do concurso principal no Festival de Veneza, que termina no próximo domingo (8). (ANSA).   

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