Scholz demite ministro das Finanças e abre crise na Alemanha
BERLIM, 7 NOV (ANSA) - O chanceler de centro-esquerda da Alemanha, Olaf Scholz, demitiu o ministro das Finanças, o liberal Christian Lindner, e provocou um terremoto político na maior economia da Europa, que deve ir às urnas antecipadamente para eleger um novo governo.
Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), se irritou após Lindner, líder do Partido Democrático Liberal (FDP), ter pedido a convocação de uma eleição antecipada em janeiro de 2025 poucas horas antes de uma reunião da coalizão governista, que ainda inclui os Verdes.
"Muitas vezes o ministro Lindner se empenhou em táticas mesquinhas de partido. Muitas vezes ele traiu minha confiança.
Não há mais base para uma nova cooperação. Um trabalho sério de governo não é possível dessa maneira", declarou Scholz, enquanto o ex-ministro das Finanças rebateu que o chanceler "não tem força para liderar o país".
Lindner subiu o tom contra o governo nas últimas semanas, após as seguidas derrotas do FDP em eleições estaduais e em meio a pesquisas que mostram que o partido arrisca não atingir a cláusula de barreira para entrar no Parlamento no próximo pleito legislativo, previsto inicialmente para setembro de 2025.
A crise acontece enquanto o governo discute um pacote de estímulo econômico, ao mesmo tempo em que tenta preencher um buraco no orçamento. Uma das propostas Lindner era reduzir as despesas com políticas climáticas e benefícios sociais, ideia rechaçada pelos Verdes e pelos sociais-democratas.
Desdobramentos - Após a demissão de Lindner, o FDP anunciou que todos os seus ministros deixarão o governo Scholz, porém um deles, Volker Wissing (Transportes e Assuntos Digitais), rompeu com o partido e decidiu continuar no cargo.
Já Scholz se reuniu nesta quinta-feira (7) com o líder da oposição, Friedrich Merz, da União Democrata Cristã (CDU), para discutir os próximos passos.
O chanceler propõe deixar o voto de confiança no Parlamento para a segunda metade de janeiro e depois convocar eleições federais antecipadas para o fim de março; Merz, no entanto, quer a votação de confiança no Bundestag já na semana que vem, posição compartilhada pelo partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
"Não podemos nos permitir ter um governo sem maioria por diversos meses para depois fazer a campanha eleitoral", disse o líder da CDU.
Por outro lado, o ministro da Economia, Robert Habeck, dos Verdes, garantiu que a coalizão pode seguir no governo. "Faremos propostas mesmo conscientes de não ter mais a maioria", salientou.
Enquanto isso, o presidente da República, Frank-Walter Steinmeier, que não tem poderes executivos, cobrou "responsabilidade" para resolver a crise política e indicou que é possível manter um governo de minoria.
"Não é hora de táticas e escaramuças. O fim de uma coalizão não é o fim do mundo. Nos 75 anos de história da República Federal, raramente uma coalizão de governo não teve maioria no Parlamento antes do fim da legislatura, mas nossa Constituição prevê garantias para isso", salientou. (ANSA).
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