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Vítimas de abuso dizem que comentários do papa não são suficientes

Príncipe Philip e Rainha Elizabeth 2ª recebem papa Bento 16 em Edimburgo, na Escócia - AFP
Príncipe Philip e Rainha Elizabeth 2ª recebem papa Bento 16 em Edimburgo, na Escócia Imagem: AFP

16/09/2010 09h20

Grupos que reúnem vítimas de abusos cometidos por membros da Igreja Católica no Reino Unido afirmaram, nesta quinta-feira, que o reconhecimento do papa Bento 16 de que a Igreja administrou mal a situação não é suficiente.

A declaração foi feita momentos depois de Bento 16 ter afirmado que ficou "chocado" ao tomar conhecimento dos escândalos, e dito que sentiu "tristeza", pelo fato de a Igreja não ter sido suficientemente vigilante e rápida para tomas as "medidas necessárias".

"Não esperava que ele falasse nada menos do que isso", disse à BBC Brasil Peter Saunders, diretor-executivo da Associação Nacional para Pessoas Abusadas na Infância (Napac, na sigla em inglês).


Para Saunders, que sofreu abuso por parte de dois padres quando criança, o papa deve "apoiar suas palavras com ações" se quer recuperar a credibilidade da Igreja Católica.

Segundo ele, a Igreja Católica deve afastar definitivamente todos os padres envolvidos com casos de abusos e oferecer apoio às vítimas.

Uma associação de grupos de vítimas pediu um encontro com Bento 16 durante seus quatro dias de visita ao Reino Unido iniciados nesta quinta-feira, mas teve a solicitação negada.

O grupo pretendia entregar ao papa um livro com testemunhos de vítimas de abusos sexuais.

 

Chocado

As declarações do papa sobre o assunto foram feitas durante o vôo entre Roma e Edimburgo, na Escócia, onde o pontífice iniciou a visita oficial.

Segundo o papa, as vítimas de abuso cometidos por padres são a principal prioridade da Igreja hoje.

Em um encontro de vítimas realizado no último fim de semana, em Londres, eles já haviam pedido que a Igreja oferecesse ações concretas.

"Muitos sobreviventes têm que viver com medo, vergonha e culpa, porque quando eles relatam (os casos) eles são levados a se sentir como párias, desleais, agressivos, mentirosos que querem dinheiro e assim por diante", afirmou Margaret Kennedy, fundadora do grupo Sobreviventes de Abusos Sexuais de Sacerdotes.

"Não queremos mais palavras do Vaticano, queremos ações. As ações não aconteceram - decisões concretas e compreensíveis sobre quem vai cuidar dos sobreviventes de abusos de padres. O que eles vão fazer para reparar nossas vidas?", questionou.