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ONU pede a militares que passem poder a civis em Burkina Fasso

Manifestantes contra o governo fazem protesto nas proximidades da sede do Parlamento em Uagadugu - Issouf Sanogo - 30.out.2014 / AFP
Manifestantes contra o governo fazem protesto nas proximidades da sede do Parlamento em Uagadugu Imagem: Issouf Sanogo - 30.out.2014 / AFP

02/11/2014 13h43

Os líderes militares no controle de Burkina Fasso devem entregar o poder aos civis ou enfrentarão as consequências, afirmaram as Nações Unidas e da União Africana.

O enviado da Organização das Nações Unidas na África Ocidental, Mohamed Ibn Chambas, disse que os militares poderiam enfrentar sanções se recusarem a passar o poder aos civis.

Enquanto isso, milhares de pessoas se reunem na capital, Ouagadougou, em uma manifestação contra a tomada de poder pelos militares.

Dias de protestos forçaram o presidente Blaise Compaoré, presidente há 27 anos, a renunciar em 31 de outubro e fugir para a Costa do Marfim.

"Nós esperamos que haja uma transição liderada por um civil e em consonância com a ordem constitucional", disse Chambas.

"Se não, as consequências são bastante claras. Queremos evitar a imposição de sanções a Burkina Fasso", complementou o representante das Nações Unidas.

A situação do país já levou a União Africana a se manifestar pedindo uma transição de poder liderada pelos civis e eleições livres e justas o mais rápido possível.

A presidente da União Africana, Nkosazana Dlamini-Zuma, pediu aos militares que "se abstenham de quaisquer atos ou declarações que possam levar a uma maior instabilidade".

Oposição

A oposição de Burkina Fasso afirmou no sábado que não aceitará a tomada de poder pelos militares.

"A vitória nascida desta rebelião popular pertence ao povo e a tarefa de gerenciar a transição fica, por direito, com o povo. Em nenhum caso, pode ser confiscada pelo Exército", afirmou a oposição do país em uma declaração.

Ainda no sábado, depois de divergências entre dois de seus mais altos oficiais, o Exército anunciou que o tenente-coronel Isaac Zida assumiu interinamente a presidência do país africano.

Em uma declaração, o Exército afirmou que Zida foi "escolhido de forma unânime para liderar o período de transição".

Protesto e credibilidade

A manifestação convocada pela oposição para este domingo ocorrerá na capital, Ouagadougou.

Segundo o correspondente da BBC Thomas Fessy, que está no Senegal, em um país onde o presidente que acabou de renunciar dominou a cena política por quase três décadas, a oposição é fraca.

Mas, o comparecimento do público no protesto poderá ser visto como uma medida da credibilidade dos oposicionistas.

Eleições

Blaise Compaoré, que renunciou depois de 27 anos na presidência de Burkina Fasso, fugiu do país e agora está em Yamoussoukro, a capital do país vizinho, Costa do Marfim.

Segundo a agência de notícias AP, uma declaração do gabinete do presidente daquele país, Alassane Ouattara, afirmou que a Costa do Marfim recebeu Compaoré, a família do ex-presidente e os amigos mais próximos dele, e está prestando muita atenção aos eventos de Burkina Fasso.

O correspondente da BBC Thomas Fessy afirmou que as comemorações pela partida de Compaoré estão sendo substituídas pelo temor de que esta rebelião popular possa estar sendo ameaçada por outro golpe militar.

Isaac Zida, que assumiu a presidência e era o segundo no comando da Guarda Presidencial do país, era muito próximo do ex-presidente, assim como o chefe do Exército, o general Honoré Traoré. E isto leva a questionamentos sobre quais são as verdadeiras intenções dos militares.

Além disso, segundo a Constituição do país, o presidente do Senado deve assumir a presidência em caso de renúncia e as eleições precisam ser realizadas entre 60 e 90 dias depois da saída do presidente.

Os protestos começaram no início da semana depois que Blaise Compaoré tentou aprovar uma emenda à Constituição e estender ainda mais sua permanência na presidência.

Na quinta-feira, o país entrou em estado de emergência e teve o Parlamento dissolvido para tentar controlar os manifestantes, que puseram fogo à sede do Legislativo e a edifícios governamentais.