Topo

Candidato apoiado por Lula na Argentina 'recicla' propaganda do PSDB

À esquerda, propaganda do candidato de Cristina Kirchner exibe atores com máscaras do rival Mauricio Macri; à direita, peça da campanha de Aécio Neves veiculada no final de setembro do ano passado - BBC
À esquerda, propaganda do candidato de Cristina Kirchner exibe atores com máscaras do rival Mauricio Macri; à direita, peça da campanha de Aécio Neves veiculada no final de setembro do ano passado Imagem: BBC

Marcia Carmo

De Buenos Aires para a BBC Brasil

12/11/2015 08h19

Um vídeo da campanha do candidato governista à Presidência da Argentina, Daniel Scioli, chamou a atenção pela semelhança com uma propaganda do PSDB veiculada no Brasil em setembro passado.

A peça de Scioli, veiculada na quarta-feira (11), mostra pessoas com máscaras do rosto do candidato opositor Mauricio Macri, da coalizão de centro-direita Cambiemos (Mudemos).

Homens e mulheres tiram as máscaras à medida que o locutor cita medidas do governo que seriam combatidas por Macri.

"Essa é Rosa. Ela queria votar em Macri, até que soube que ele foi contra a estatização dos fundos de pensão e aposentadorias (AFJP, na Argentina)", diz o locutor, enquanto uma atriz levanta a máscara e expõe o rosto à câmera. A estatização em questão foi implementada pela presidente Cristina Kirchner, em 2008.

Com música suave ao fundo, a propaganda exibe cinco casos para convencer o eleitor a desistir do voto em Macri, que lidera a maioria das pesquisas do segundo turno.

O spot termina com o locutor conclamando o eleitor a votar no próximo dia 22 - data do 2º turno da eleição presidencial - "por uma Argentina sem máscaras".

Original tucano

O vídeo emula uma peça usada em setembro em um programa do PSDB: as máscaras, o ritmo musical e, nesse caso, promessas da então candidata à reeleição que não teriam sido cumpridas.

"A Maria votou na Dilma porque ela prometeu inflação sob controle. A inflação voltou e a Maria está sentindo no bolso", diz a locutora enquanto a brasileira afasta a máscara do rosto de Dilma.
O vídeo do PSDB traz outros três exemplos e se encerra com a locução: "Com tanta mentira, um dia a máscara cai". E a frase "Xô mentira, xô corrupção".

A semelhança entre os filmes foi logo notada na Argentina, motivando críticas ao candidato da situação. Pelo Twitter, eleitores e políticos afirmaram que Scioli estava "copiando" o vídeo do PSDB.
"Scioli copiou spot contra Dilma", escreveu um usuário. "Esse homem não sabe fazer campanhas originais", escreveu uma leitora.

O autor da ideia, o jornalista e marqueteiro político Augusto Fonseca, da empresa MPB (Marketing Político Brasil), negou que a peça de Scioli seja uma cópia.

"Não é uma cópia porque a ideia é a mesma", afirmou à BBC Brasil.

Segundo ele, o objetivo da propaganda é alertar o eleitor sobre as convicções do candidato opositor.

Ex-profissional do "Jornal do Brasil", Augusto trabalha na estratégia da campanha de Scioli, que inclui a produção de vídeos, e já assessorou campanhas do PT antes de trabalhar para o candidato do PSDB Aécio Neves, na eleição presidencial passada.

Comparações

No atual pleito argentino, Macri costuma ser comparado a Aécio por se aproximar mais da centro-direita, enquanto Scioli representaria a linha de governos de centro-esquerda como o de Dilma.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a subir em palanque com Scioli na campanha do primeiro turno, em uma localidade na periferia de Buenos Aires.

O gesto explícito de apoio de Lula não foi visto com bons olhos por assessores de Macri, que entenderam ser uma interferência na campanha do país vizinho.

Nesta quarta-feira, ao ser entrevistado na TV, Scioli foi questionado se o vídeo das máscaras não seria "campanha suja" contra o adversário, enquanto um painel no estúdio exibia a imagem das máscaras do vídeo com o rosto de Macri.

Ele respondeu: "Não é campanha suja, é uma visão publicitária sobre a campanha".

Segundo três pesquisas de opinião divulgadas esta semana, Macri lidera a intenção de votos para o pleito que será realizado em menos de duas semanas.

No entanto, com cerca de 10% de indecisos, assessores de Scioli afirmam que "a disputa está aberta" e o panorama ficará mais claro após o debate entre os presidenciáveis neste domingo. Será o único debate da campanha entre os dois. No primeiro turno, Scioli não foi ao programa.