Jamil Chade

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Reportagem

Jornal Le Monde usa Bolsonaro para alertar franceses sobre risco em eleição

Um dos principais jornais franceses usa o exemplo de Jair Bolsonaro para alertar os eleitores na França sobre o risco de uma vitória da extrema direita. A eleição que ocorre no dia 7 de julho vai definir a composição do governo. e as pesquisas de opinião apontam que o partido Reunião Nacional pode sair como vencedor.

Se obtiver maioria, o grupo ainda pode escolher o primeiro-ministro, no caso Jordan Bardella.

"A primeira lição útil para os franceses aprenderem com essa transição da extrema direita para o poder político nos trópicos é que, uma vez no poder, a extrema direita não se modera. Muito pelo contrário: no Brasil, ela aplicou o programa ponto a ponto", alertou a coluna do Le Monde assinada por Bruno Meyerfeld.

"Entre as elites, muitos apostaram em 2018 na moderação do caprichoso e perigoso capitão Bolsonaro, uma vez eleito. Isso não se provou ser o caso", disse.

"Pior ainda: uma vez no poder, a extrema direita está se tornando ainda mais radical e radicalizando a sociedade com ela. Esmagado por sua própria incompetência, diante de uma realidade complexa e da resistência das instituições, Jair Bolsonaro jogou descaradamente o povo contra o "sistema", assumindo o papel de defensor da democracia contra a "ditadura" dos juízes ou da esquerda", alertou.

"Ano após ano, ele tem liberado centenas de milhares de apoiadores nas ruas, convencidos de sua vitimização e teorias conspiratórias. A dupla Bardella-Le Pen poderia usar as mesmas alavancas", diz o texto, numa advertência aos que apostam numa suposta moderação do movimento francês.

"No poder, a extrema direita está se mantendo e criando raízes", disse. "Jair Bolsonaro construiu habilmente uma ampla coalizão no Congresso. Ele nomeou pessoais leais a ele no topo do Judiciário, do Exército, da Polícia e da Diplomacia. No Brasil, como em outros lugares, sua saída foi recebida com fúria e protestos", destacou.

"As investigações policiais agora mostram de forma crua como Jair Bolsonaro e seus seguidores, derrotados nas urnas por Lula em 2022, conspiraram durante semanas no mais alto nível para organizar um golpe militar. Tudo isso culminou no evento traumático de 8 de janeiro de 2023, quando multidões fanáticas saquearam as instituições de Brasília", insistiu o texto.

O jornal Le Monde ainda conclui:

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"A experiência brasileira mostra que a vitória da extrema direita nunca é insignificante e não pode ser resumida como um simples "teste" de uma nova oferta política, ainda não experimentada", disse. "Sua transição do poder deixa feridas que levarão muitos anos para cicatrizar, se é que serão cicatrizadas. Como Jair Bolsonaro, não há garantia de que o RN entregará voluntariamente as chaves do Estado", completou.

Pontos em comum

O texto também cita como existem semelhanças entre Bardella e Bolsonaro. Mas, acima de tudo, como, em muitos aspectos, a França de 2024 se assemelha ao Brasil de 2018.

"Há o desengajamento generalizado, alimentado por uma rejeição do sistema. Em 2018, o Brasil lançava um olhar desiludido sobre sua jovem democracia, atingida pela crise econômica, corrupção e insegurança. O capitão Bolsonaro não teve dificuldade em se apresentar como um homem novo, um vigilante, um candidato antissistema, apesar de seus sete mandatos sucessivos como membro do parlamento", disse.

Outro ponto em comum é o fato de que a França e o Brasil estão procurando bodes expiatórios, e os estão encontrando. "Para Bolsonaro, eleito com o apoio do trio agronegócio-evangélico-militar, o inimigo está dentro, personificado pelos 'comunistas', os sem-terra, os LGBT e os indígenas. Para Bardella, herdeiro da família Le Pen e obcecado com a 'invasão' migratória e a 'ameaça islâmica', o perigo vem do exterior", disse.

Os dois "J.B." dominam a batalha de ideias graças ao seu domínio das redes sociais — o WhatsApp para o brasileiro e o TikTok para o francês.

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Mas a coluna alerta que, no poder de 2019 a 2022, "o capitão conduziu o Brasil por quatro anos trágicos e onipresentes, com o desastre da covid-19, a devastação da Amazônia, a explosão das armas de fogo, a vulgaridade, o machismo e a homofobia exacerbada, o ostracismo internacional".

"Um histórico tão desastroso que até Marine Le Pen acabou se distanciando dele. Depois de lhe desejar calorosamente "boa sorte" em 2018, a líder da RN se absteve de apoiar seu alter ego sul-americano na eleição de 2022", constatou.

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