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Seu dia é tão produtivo como o da Beyoncé?

27/02/2016 05h57

Visite qualquer site sobre a americana Beyoncé Knowles e você encontrará uma lista longa de suas ocupações: cantora, compositora, dançarina, atriz, fundadora de instituição de caridade, empresária, esposa e mãe.

Recentemente, ela até ensaiou se tornar ativista política ao estrelar uma performance na TV americana com referências ao movimento por direitos civis para negros. E tudo isso com apenas 34 anos de idade.

Daí surgiu um meme na internet com um desafio para usarmos melhor nosso tempo, com a seguinte afirmação: "Seu dia tem tantas horas como o dia da Beyoncé".

Hoje, ela pode contar com os benefícios de ter uma equipe para resolver tarefas menos importantes, mas seu sucesso não veio sem sacrifício e trabalho duro.

Então, o que podemos aprender com pessoas como ela, que realizam tantas coisas ao mesmo tempo? De médicos campeões de vendas de livros a atletas olímpicos que estudam astrofísica - como o modo de agir e pensar desses profissionais pode nos ajudar a nos tornar mais produtivos?

Concentração



Stacie Powell conciliou carreira olímpica com formação em astrofísica

A inglesa Stacie Powell, de 30 anos, é uma pessoa determinada. Hoje ela mora em Boston, nos Estados Unidos, onde trabalha em uma empresa do mercado financeiro, mas, há poucos anos, levava uma "vida dupla".

Ela se dividia entre a carreira como atleta olímpica de salto ornamental e estudos de astrofísica em duas das instituições de maior prestígio do mundo, as universidades de Harvard e de Cambridge.

Powell diz que foi sua ambição de ter uma medalha que a levou a subir nos rankings de salto ornamental e fazer sua estreia em competições internacionais aos 14 anos.

O "grande momento com todas as câmeras e espectadores" olhando para ela veio aos 16 anos, nos Jogos do Commonwealth em Manchester, em 2002, mas ela não foi para a Olimpíada de 2004 em Atenas, na Grécia, para se dedicar a obter notas A suficientes para garantir seu lugar em Harvard.

Powell diz acreditar que um segredo de seu sucesso seja a habilidade de se concentrar em um objetivo. "Quando não estou focada em uma coisa, estou focada em outra. Tento ver isso como algo bom, porque a razão de eu amar a astrofísica é porque é um mundo totalmente diferente do mundo do salto ornamental."

Ela diz que, em razão desse contraste, estar imersa em uma atividade torna-se um período de descanso da outra. Powell conseguiu entrar em Harvard em 2008, o mesmo ano da Olimpíada de Pequim.

"Voltei da China em uma segunda-feira, desfiz as malas, refiz e me mudei para Boston na quarta-feira", afirma ela, que gostar de prazos curtos. "Quando não é assim, levo mais tempo para fazer as coisas. Tirava folga em um dia da semana e não mergulhava ou estudava, por exemplo."

Agora, ela não só está formada, como têm um PhD - e integrou a equipe britânica nos Jogos de Londres, em 2012.

"Você não chega ao topo se não quiser estar lá, mas acho que ser capaz de compartimentalizar as coisas é muito importante. Se você está fazendo uma coisa, faça isso e não pense nas milhões de outras tarefas que tem naquele dia."

Powell teve a família a seu lado também e dá crédito a seus pais "dedicados", por levá-la onde fosse necessário. Reconhece, contudo, que seu estilo de vida teve um impacto em sua irmã e seu irmão: "Eles ficavam me esperando no carro por uma hora depois da escola, e não era o que queriam estar fazendo de verdade".

Habilidade e dedicação

Na esfera pública, há muitas pessoas que realizam mais do que muita gente pensa. O prefeito de Londres, Boris Johnson, está terminando seu segundo mandato, mas o ano de 2015, seu penúltimo no cargo, foi muito prolífico.

Ele foi eleito parlamentar pela região de Uxbridge e South Ruislip, lançou seu 11º livro, The Churchill Factor (O Fator Churchill, em inglês), e assinou o contrato para escrever mais um. Ele também tem uma mulher e filhos.

Nós podemos esperar ser um dia tão produtivos assim?

Segundo Sttaford Lightman, professor de medicina da Universidade de Bristol, no Reino Unido, pessoas que conseguem realizar diferentes tarefas ao mesmo tempo podem ter a biologia a seu favor. "As pessoas têm conexões um pouco diferentes em seus cérebros e partes específicas mais eficientes que outras", diz ele.

Alguém com a habilidade de compartimentalizar "com certeza" realiza mais coisas. "Você pode treinar seu cérebro, dentro de certos limites. Políticos fazem isso para lembrar nomes. Sou muito ruim neste aspecto - mas, se realmente me dedicasse a ele, seria capaz de me lembrar."



Conexões cerebrais podem ajudar a explicar por que certas pessoas realizam mais que outras

Uma forma de melhorar esta habilidade, diz Lightman, é reconhecer quando se está saindo dos trilhos e simplesmente forçar a retomada da concentração.

Para a médica Jane Shemilt, outra "realizadora", ter determinação é mais importante que ter habilidades específicas. Ela sempre tem alguém pedindo por sua atenção, sejam seus pacientes ou, agora, seus fãs, após o sucesso de seus dois primeiros romances, Daughter (Filha, em inglês) e The Drowning Lesson (A Lição de Afogamento).

Em princípio, escrever era um hobby, mas ela começou a ter aulas de escrita criativa e conseguiu um contrato para publicar seus trabalhos, enquanto comandava um pequeno negócio de família, como secretária de seu marido, que é neurocirurgião, e sendo mãe de seus cinco filhos, que já são adultos.

"Se você pode se alternar entre tarefas, é como se estivesse usando diferentes músculos, e pode ser estimulante", diz Shemilt. "Quando estava trabalhando em Daughter, era muito prazeroso deixar de lado meu trabalho e ir para outra sala para escrever. Era quase como ir para o céu."

Prazer



Médica e autora de sucesso, Jane Shemilt diz que vida social foi prejudicada

Para ela, o prazer "vem da sensação de estar realizando algo" e do próprio "processo". "Isso me conecta a uma época quando era criança e passava o final de semana escrevendo no sótão. Você só realiza coisas que realmente ama."

Mas os dias de Shemilt têm uma estrutura complexa que exige total dedicação. "Ao final de The Drowning Lesson, eu estava trabalhando 18 horas por dia. Era como se estivesse de volta à época de provas na faculdade. Apesar de ser prazeroso, não dava para continuar daquele jeito para sempre."

O sucesso exigiu sacrifício. "Em certo ponto, percebi que tinha de tomar uma decisão, senão não teria mais vida social. Tenho um grupo de amigos próximos que me apoiam. Se quero vê-los, alguém vem ir comigo levar o cachorro para passear ou fazer algo que ia acontecer de qualquer jeito", afirma.

"Quanto a jantares e almoços longos, isso quase nunca acontece mais, porque não tenho muito tempo disponível. Cozinhar é um motivo de negociação constante com os membros da minha família. Temos como pedir comida na internet, então, isso me economiza muito tempo."

Essa preocupação em maximizar os 1.440 minutos do dia não é algo exclusivo de uma sociedade que vive em ritmo acelerado como a nossa.

Em 1910, o escritor Arnold Benner lançou o livro Como viver 24 Horas por dia, com instruções de como conseguir oito horas "extras" em uma semana para sair em busca de algo "que valesse a pena".

Ele afirma que a maioria das pessoas só usa 16 horas por dia para trabalhar e dormir e sugeria reservar 90 minutos à noite e 30 minutos ou mais pelas manhãs como tempo livre - algo mais simples de falar do que fazer, especialmente quando se mora longe do escritório, se dá expediente em mais de um lugar ou se tem filhos.

Bennett garante a seu leitor: "Você terá três noites sobrando para ficar com amigos e a família, jogar cartas ou tênis, ler, fumar, cuidar do jardim, fazer cerâmica ou participar de competições". E dizia que dormir é uma "questão de hábito - ou de preguiça".

Shemilt diz também roubar horas de seu sono. "Pego esse tempo em que estaria dormindo para ler. Ou, quando levo o cachorro para passear, eu corro em vez de andar. Você pode fazer muito mais coisas do que normalmente pensa".