'Faremos oposição dura e não reconheceremos Temer', diz senador petista
Parlamentares pró-Dilma Rousseff prometeram reagir à decisão favorável ao afastamento da presidente aprovada na manhã desta quinta-feira, 12, pelo Senado Federal, em Brasília.
Um de seus principais defensores na Casa, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou, em entrevista à BBC Brasil, que não tratará Michel Temer como presidente– ele assume o cargo interinamente, por até 180 dias, até que o mérito do impedimento de Dilma seja julgado pelo Senado.
A principal estratégia petista será ressaltar a baixa popularidade de Temer. Segundo levantamento do Datafolha no início de abril, 61% dos entrevistados defendiam o impeachment de Dilma e 58% defendiam o impedimento de Temer.
Os petistas enfrentarão, entretanto, a ampla rede de apoio ao peemedebista formada tanto na Câmara quanto no Senado. Até o PSDB, que relutou em declarar apoio ao possível novo governo, dá sinais de definição.
"Obviamente o PSDB estará apoiando o próximo governo e esses ministros indicados" , disse o presidente do partido, Aécio Neves, em entrevista à BBC Brasil no plenário do Senado. "Estamos prontos para apresentar um novo e ousado projeto para o Brasil em 2018."
Batalha
Outra frente de ataque petista é tentar influenciar os senadores que votaram pela admissibilidade do processo, mas ressaltaram, em seus discursos, não ter opinião formada sobre a culpa ou não de Dilma nas acusações sobre pedaladas fiscais e decretos sem autorização do Congresso.
"Faremos oposição dura e não vamos reconhecer Temer", disse Lindbergh Farias. "É um governo ilegítimo, fruto de um golpe."
O afastamento de Dilma Rousseff foi aprovado por 55 votos contra 22. Nos próximos dias, a Comissão Especial que discutiu o impeachment nas últimas semanas volta a se reunir no Senado com a mesma composição.
Caberá a ela elaborar um novo parecer, agora chamado de "sentença de pronúncia", que precisaria ser aprovado por ao menos 41 dos 81 senadores para que o caso vá a julgamento.
Se isso ocorrer, Dilma seria julgada em uma sessão presidida pelo presidente do STF (hoje Ricardo Lewandowski); serão necessários os votos de ao menos 54 senadores para que ela perca definitivamente o cargo.
"O povo está muito desconfiado e esse Senado também funciona muito com a pressão da opinião pública", argumenta Lindbergh. "Muitos senadores disseram o seguinte: estou votando na admissibilidade, mas vou deixar meu voto para depois do julgamento para ver a questão do mérito."
Em cima do muro
É este o caso do ex-governador do Distrito Federal Cristovam Buarque, que disse à BBC Brasil achar justa a possibilidade de investigação, mas não tem opinião formada sobre a culpa de Dilma Rousseff.
"Hoje a maioria expressiva será pelo impeachment, depois a maioria também será, só que o quórum depois precisa ser de dois terços, então muita coisa pode acontecer nesses meses. Ele (Temer) vai ficar sujeito ao olho de muita gente. Ele pode fazer umas tropeçadas e o impeachment não passar", disse Buarque.
"Pode, por exemplo, cair ministros dele na Lava Jato e surgirem escândalos. Acho que hoje não há duvida, a admissibilidade passa, mas o impeachment depois eu não arriscaria dizer se passa ou não passa", prosseguiu.
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