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Greve geral liderada por '500 Irmãos': entenda crise que afeta território europeu vizinho ao Brasil

28.mar.2017 - Multidão se manifesta em apoio à greve geral em Caiena, Guiana Francesa - jody amiet/AFP
28.mar.2017 - Multidão se manifesta em apoio à greve geral em Caiena, Guiana Francesa Imagem: jody amiet/AFP

04/04/2017 09h09

A Guiana Francesa, território ultramarino da União Europeia espremido entre o Brasil e o Oceano Atlântico, está sendo palco de uma onda de protestos e de greves que já dura 10 dias.

Líderes sindicais que comandam as paralisações exigem que o governo francês faça um pagamento imediato de 2,5 bilhões de euros (R$ 8,3 bilhões) a seu Departamento na América do Sul. Eles acusam Paris de ignorar os problemas da região, que oficialmente é um exclave da União Europeia no continente e usa o euro como sua moeda.

As tensões sociais na Guiana Francesa se transformaram até em um assunto da campanha presidencial francesa.

Pobreza e violência

Conhecida oficialmente como um departamento remoto da França, a Guiana Francesa está situada entre o Oceano Atlântico e o Estado do Amapá. Do final do século 18 a meados do 20, a região abrigou uma imensa colônia penal. Sua notória prisão da Ilha do Diabo teve como seus prisioneiros mais famosos o capitão do Exército francês acusado de traição Alfred Dreyfuss - protagonista do famoso caso Dreyfuss - e Henri Charièrre, autor de Papillon, romance supostamente autobiográfico.

A Guiana Francesa é também um local com vários problemas. A maioria de sua população de 250 mil pessoas não tem água encanada ou eletricidade. O desemprego é endêmico, atingindo 50% da população jovem, e o índice de homicídios é o maior entre os territórios franceses no exterior.

A principal parcela da população é mestiça, descendente de escravos e colonizadores franceses; há minorias francesas, haitianas, surinamesas, brasileiras e asiáticas. A língua oficial é o francês, mas a que predomina é o creole guianense francês.

O Departamento francês é governado por uma autoridade territorial, exercida desde 2015 pela Assembleia da Guiana Francesa, eleita localmente.

A Guiana Francesa também tem problemas com a imigração ilegal, incluindo de brasileiros, alimentada especialmente pelo setor da mineração - o país tem jazidas de ouro.

Algo que não é refletido pela renda per capita anual de US$ 15 mil, no mesmo patamar que a o Brasil - e metade da média da França.

Protestos

Milhares de pessoas foram às ruas no último 28, em apoio à greve geral.

Os protestos tiveram início quatro dias antes, quando 10 mil pessoas fizeram manifestações nas duas principais cidades do país, Caiena e Saint-Laurent-du-Maroni.

Foi o maior evento do tipo na história do país, e muitos trabalhadores permanecem de braços cruzados.

A paralisação causou uma série de transtornos, entre eles o fechamento da base espacial de Korou, adiando o lançamento de um foguete que colocaria satélites de Brasil e Coreia do Sul em órbita.

No comando dos protestos está um coletivo conhecido como Os 500 Irmãos.

Entre as principais reivindicações estão ainda mais segurança e amparo aos desempregados.

Em uma tentativa de acalmar os ânimos, o governo francês ofereceu um aporte de 1 bilhão de euros, mas o porta-voz dos 500 Irmãos, Olivier Goudet, disse que o grupo considera a oferta "insatisfatória", até porque os termos falavam em pagamentos ao longo de 10 anos.

Impacto na França

A menos de um mês das eleições presidenciais na França, os problemas na Guiana Francesa não passam despercebidos pelos candidatos. E o centrista Emmanuel Macron, um dos favoritos nas pesquisas, cometeu uma gafe ao descrever o território como uma ilha, embora tenha proposto novas políticas econômicas e melhorias na segurança da região.

Já a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, disse que os problemas na Guiana Francesa são causados pela "imigração em massa".