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A onda de ataques a jovem que sobreviveu a tiroteio na Flórida e defende controle de armas nos EUA

AFP/Getty Images
Imagem: AFP/Getty Images

Redação - BBC Mundo

29/03/2018 13h53

Emma González já foi chamada de "skinhead lésbica" e acusada de representar "a cara terrível da traição".

Também foi chamada de comunista porque vestiu uma jaqueta verde-militar estampada com a bandeira cubana ao falar para milhares de pessoas em Washington, nos EUA, no dia 24 de março, na marcha que pedia o controle de armas de fogo no país.

A imprensa americana já lhe perguntou várias vezes o que ela sentia após receber constantes ameaças de morte por quase dois meses.

A jovem de 18 anos diz não ter medo. E afirmou em entrevista ao programa This Morning, do canal americano CBS, que se a atacam pessoalmente é "porque não sabem como criticar nossa mensagem".

A estudante González, filha de mãe americana e pai cubano, sobreviveu ao tiroteio na escola Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, na Flórida, onde o jovem Nikolas Cruz matou 17 pessoas com um rifle semiautomático em 14 de fevereiro.

A adolescente atraiu a atenção do país com um discurso duro dias após o massacre, no qual ela gritou e exigiu que a venda de armas de fogo fosse regulamentada nos Estados Unidos e criticou os políticos que recebem doações da Associação Nacional de Rifle (NRA, na sigla em inglês).

A partir daquele momento, González se tornaria um dos principais rostos de quem pede a proibição da venda de armas de fogo nos EUA, o que a levaria a receber muitos elogios, mas também a ser alvo de insultos.

Bandeira de Cuba

González tem sido atacada por políticos e comentaristas conservadores, por seguidores do movimento de direita Alt+right e por membros da comunidade de oposição aos governos de Raúl e Fidel Castro, em Cuba.

Por isso, quando a estudante apareceu na marcha em Washington vestindo uma jaqueta verde-militar com a bandeira de Cuba, foi duramente criticada. O congressista republicano Steve King escreveu no Facebook que González "ignorou o fato" de que "seus ancestrais fugiram da ilha quando a ditadura transformou Cuba em um campo de prisioneiros, depois de retirar todas as armas de seus cidadãos".

A deputada cubano-americana Ileana Ros-Lehtinen defendeu González no Twitter. "Falei com José González [pai de Emma], que explicou que Emma González se orgulha da herança de seu pai e de sua avó, e que de nenhuma maneira aquilo foi uma demonstração de apoio à ditadura de Castro", escreveu ela na rede social.

https://twitter.com/RosLehtinen/status/978654589376454657

'Atriz'

A ascendência cubana de González não foi o único elemento pelo qual ela foi atacada.

Por causa de sua aparência física e por ser bissexual, Leslie Gibson, então candidata republicana à Assembleia Legislativa do Maine, chamou González de "lésbica skinhead". Após ser muito criticada pelo comentário, Gibson desistiu da candidatura.

A estudante também sofreu ataques na internet. Foram feitas montagens de fotos por defensores do porte de armas.

Uma imagem de González feita pela revistaTeen Vogue, na qual ela aparece rasgando um alvo de tiro, foi alterada para que parecesse que ela estivesse jogando fora a Segunda Emenda da Constituição dos EUA, que contempla o direito dos cidadãos à posse de armas. O material alterado foi amplamente compartilhado nas redes sociais, especialmente por usuários conservadores.

https://twitter.com/getongab/status/977647957389459456

https://twitter.com/donmoyn/status/977700330954809345

González participa do movimento #NeverAgain (Nunca Mais), que pede mudanças na legislação da venda de armas, como aumentar a idade mínima para comprá-las, proibir a venda de fuzis e melhorar a verificação de antecedentes criminais dos compradores.

Um dos ataques mais fortes à estudante foi feito pelo vocalista da banda de rock Eagles of Death Metal, Jesse Hughes, que sobreviveu ao ataque terrorista no clube Bataclan em Paris em 2015.

Hughes descreveu González como "a cara terrível da traição" e disse que ela deveria "aproveitar o seu pequeno momento, que chegaria ao fim", em uma série de mensagens nas redes sociais que ele posteriormente apagou.

Outros meios de comunicação conservadores acusaram González e outros estudantes de Parkland que participaram da edição de abril da revista Time de "aproveitar uma tragédia para ganhar mais adeptos" nas redes sociais.

Dor real

Para aqueles que a acusam de querer se promover, a jovem respondeu em uma coluna de opinião na revista Harper's Bazaar: "Se esses funerais fossem para seus amigos, eles saberiam que essa dor é real, não é paga".

A estudante também tem recebido muitos elogios. Muitos estudantes nos EUA a veem como uma fonte de inspiração, a chamam de "heroína" e até colocam cartazes com seu rosto nos quadros de avisos da escola.

Mas outros se distanciaram de seu modo de pensar.

Kyle Kashuv, um estudante de 16 anos da mesma escola que González, a Marjory Stoneman Douglas, disse à emissora Fox que "primeiro você tem que criar escolas seguras e depois ter um debate sobre o controle de armas".

A jovem, junto com outros estudantes, prometeu no entanto não descansar até ver mudanças nas leis.