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Entenda em 5 pontos o que querem Trump e Kim em cúpula histórica

Cúpula histórica entre presidente dos EUA Donald Trump e o líder norte-coreano Kim Jong-un acontecerá às 9h da terça-feira em Singapura - BBC
Cúpula histórica entre presidente dos EUA Donald Trump e o líder norte-coreano Kim Jong-un acontecerá às 9h da terça-feira em Singapura Imagem: BBC

Tamara Gil - BBC News Mundo

11/06/2018 15h25

Donald Trump e Kim Jong-un... cara a cara.

É uma cena difícil de imaginar, mas, se tudo correr como planejado e os presidentes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte se reunirem pela primeira vez nesta terça, em Cingapura, o encontro entrará para a História.

Mas o que pode sair daí? O que o líder norte-coreano realmente quer? Kim e Trump vão repetir os insultos que ambos trocaram no passado? Ou vão se abraçar como Kim fez com o presidente sul-coreano Moon Jae-in dois meses atrás?

Por que o encontro de Cingapura é tão importante?

A BBC News tenta responder a esta e a outras questões sobre esse encontro aqui.

Por que essa reunião será histórica?

Analistas e a imprensa vêm repetindo que esta será uma reunião "histórica", mas já houve outros encontros muito importantes ao longo das negociações que tentam normalizar a situação na península coreana.

Há apenas dois meses ocorreu outra "cúpula histórica": a dos dois líderes coreanos na fronteira que separa o Norte e o Sul, onde ambos se comprometeram a buscar a "completa desnuclearização" da península e o fim do conflito que se arrasta desde 1950.

No entanto, a conversa entre os governos norte-americano e norte-coreano é mais relevante.

Por quê? Por uma razão simples: é uma situação sem precedentes. Nunca antes um presidente dos EUA, no exercício do cargo, reuniu-se com o líder norte-coreano no poder.

E isso não significa que essa conversa não tenha sido tentada antes ou que as negociações entre os dois países não ocorriam; mas nunca aconteceu de os governantes de ambas as nações se sentarem à mesma mesa.

Por que Cingapura?

Depois de cogitar lugares como a Mongólia e até a zona desmilitarizada que separa as duas Coreias - e que, apesar de seu nome, é uma das fronteiras mais militarizadas do mundo -, a Coreia do Norte e os Estados Unidos decidiram se reunir em Cingapura.

O pequeno e moderno país, localizado no sudeste da Ásia e considerado um dos "tigres" econômicos da região, é uma nação com a qual tanto os EUA quanto a Coreia do Norte têm boas relações e, portanto, é um espaço neutro e seguro.

Pyongyang tem até uma embaixada na cidade-Estado, algo não muito comum, e sempre manteve com Cingapura uma estreita cooperação comercial, interrompida no ano passado pelo aperto das sanções internacionais.

Além disso, Cingapura também se orgulha de sua estabilidade e segurança, graças às inúmeras e rígidas regras que tem (como a proibição de protestos).

O que Trump está procurando na reunião? E Kim?

Vamos começar com Trump.

No início, o presidente dos EUA deixou claro que seu objetivo era que Kim se livrasse de suas armas nucleares imediatamente e de forma unilateral, mas depois moderou seu discurso.

Em entrevista ao canal Fox News, Trump disse que gostaria que a desnuclearização da Coreia do Norte fosse realizada "imediatamente, mas fisicamente uma fase transitória poderá ser um pouco necessária".

"Eu gostaria que soubéssemos o que Trump quer alcançar. De certa forma, o que ele está fazendo é redefinir o êxito que ele busca", diz David Kang, diretor do Instituto de Estudos Coreanos da Universidade do Sul da Califórnia.

A desnuclearização verificável, a meta estabelecida pelo presidente dos Estados Unidos, pode levar anos, segundo especialistas da área.

No entanto, o mero fato de que a reunião ocorra pode ser interpretado por ambos os líderes como um êxito.

"Ironicamente, o senso comum nos diz que a Coreia do Norte é quem quer reconhecimento e vê a reunião como um prêmio, mas, de certa forma, Trump também está feliz com esse encontro apenas para mostrar ao mundo que ele pode fazer algo que os outros não conseguiram no passado ", afirma Kang.

Kim, por sua vez, ao se sentar à mesa com Trump, busca ser "aceito internacionalmente como um poder nuclear", diz Sue Mi Terry, que trabalhou como analista de assuntos coreanos para a CIA (agência de inteligência dos EUA) entre 2001 e 2008 e como conselheira dos governos de George W. Bush e Barack Obama.

"Ele quer respeito (...). Após levar sete anos para terminar um programa de armas nucleares como o que ele diz ter concluído, ele não se importa em sentar com Washington como um igual e falar sobre o controle de armas."

Michael Madden, especialista em liderança norte-coreana, também acredita que ele vai buscar "segurança": facilitar futuras interações diplomáticas com os americanos e abrir as negociações para assinar o tratado de paz para acabar com a Guerra da Coreia - o conflito nunca terminou formalmente, apenas foi "congelado" pelo armistício assinado em 1953.

Tudo isso pode levar a Coreia à sua abertura para o mundo exterior, e assim o país conseguiria ajuda para sua debilitada economia. Este seria seu terceiro objetivo: melhorar a situação interna do país.

O que eles conseguirão?

Em geral, analistas consultados pela BBC News Mundo não esperam grandes anúncios em Cingapura. Mas, segundo eles, isso não quer dizer que o encontro não seja considerado um sucesso diplomático.

"Se eu acredito que isso vai levar ao desmantelamento total e verificável do programa de armas nucleares da Coreia do Norte? Não. Mas será que vamos ter algum acordo sobre alguns aspectos do seu programa nuclear? Claro", diz Sue Mi Terry, atualmente associada ao Centro de Estudos Estratégicos e de Segurança de Washington.

"Esperamos um comunicado conjunto semelhante ao que aconteceu em Panmunjom", diz Madden, referindo-se às conclusões do encontro entre Kim e o líder sul-coreano em abril.

O melhor resultado possível, na opinião de Kang, é que os EUA e a Coreia do Norte falem em detalhes sobre como irão manter suas relações e que Pyongyang dê alguns passos a mais em direção à desnuclearização.

O mundo será um lugar mais seguro após esse encontro?

Embora ambos os líderes sejam bastante imprevisíveis e Trump tenha dito que abandonará a reunião caso as coisas não saiam bem, são poucas as chances de que a situação piore, diz Kang.

Para o diretor do Instituto de Assuntos Coreanos, já foram alcançados resultados inimagináveis ??há seis meses.

"Se eu tivesse dito que a Coreia do Norte pararia voluntariamente seus testes de mísseis e testes nucleares, que desmontaria seus locais desses testes e estaria disposta à desnuclearização em seus termos, que iria aos Jogos Olímpicos de inverno realizados na Coreia do Sul, e que falaria de se abrir para o mundo, as pessoas teriam rido de mim!", diz ele. "E foi isso que ela fez, são grandes concessões (...) Então, mesmo que (a reunião) dê errado, teremos uma situação diferente da anterior."

Há também aqueles que são mais pessimistas.

"Trump e Kim não têm uma relação. O problema no caso da cúpula de Kim e Trump é que eles não têm um ponto para onde voltar", diz Nikolai Sokov, que trabalhou para o Ministério das Relações Exteriores da antiga União Soviética e participou de negociações com os EUA sobre as armas nucleares da Rússia. "Se eles falharem, será ruim."