Resgate na Tailândia: retirada de meninos de caverna após 9 dias é desafio

Todos os 12 garotos e seu técnico de futebol que estavam perdidos havia nove dias em uma rede de cavernas na Tailândia foram encontrados com vida nesta segunda-feira, segundo o governo da região.

Segundo militares da Tailândia, é possível que eles precisem esperar nas cavernas por meses, até que as águas que estão inundando o local retrocedam. Ou então, podem precisar aprender a mergulhar.

O grupo foi encontrado por dois mergulhadores britânicos, depois de uma maratona de buscas. Todos os 13 estavam em um ponto elevado dentro da rede de cavernas. Acredita-se que tenham chegado ali para fugir da elevação do nível da água. A previsão de mais chuvas para os próximos dias traz riscos adicionais ao resgate.

Logo depois que eles adentraram a rede de cavernas para um passeio, no dia 24 de junho, começou a chover. Com isso, a entrada principal ficou bloqueada. Isso pode impedido o grupo de voltar - além disso, impossibilitou que a equipe de resgate passasse.

O desafio agora é retirar o grupo das cavernas, já que água e lama continuam impedindo o acesso sem equipamento de mergulho. "Eles estão em segurança, mas a missão não está completa", disse em coletiva de imprensa Narongsak Osottanakorn, governador da província de Chiang Rai, onde fica a rede de cavernas, chamadas de Tham Luan Nang.

O encontro com os mergulhadores

Um vídeo postado no Facebook pela Marinha da Tailândia mostra o momento que a equipe de resgate encontrou o grupo que estava perdido. Sob a luz de lanternas, eles tentam conversar em inglês.

"Quantos vocês são?", o mergulhador pergunta. "Treze", respondem os meninos. "Treze! Ótimo!", diz o homem.

O grupo então parece perguntar quando será levado para um local seguro. Uma das pessoas da equipe de resgate, que não pode ser vista no vídeo, responde: "Não hoje. Somos apenas dois. Nós precisamos mergulhar. Mas nós estamos vindo. Ok? Muitas pessoas estão vindo. Nós somos os primeiros".

Um dos meninos diz: "Comer, comer, comer, fale para eles que estamos com fome".

Quando o grupo pergunta que dia é hoje, um dos mergulhadores diz: "Segunda-feira, segunda-feira. Vocês estão aqui... há dez dias. Vocês são muito fortes".

Os mergulhadores explicam que precisam voltar à superfície, mas dizem que vão voltar. "Muito obrigada", diz um dos meninos. "De onde vocês são?". Ao que os homens respondem: "Inglaterra. Reino Unido". "Ok! Vemos vocês amanhã".

Desafios à frente

Segundo o governador, médicos e enfermeiros seriam enviados para a caverna com os mergulhadores, para checar a saúde dos garotos e seu treinador. "Se os médicos disserem que a saúde dos meninos está forte o suficiente para serem retirados, é isso que vai acontecer", disse o político.

Edd Sorenson, membro da Organização Internacional de Resgate em Cavernas Subaquáticas, desaconselha retirar o grupo das cavernas inundadas usando equipamento de mergulho. "Isso é extremamente perigoso e arriscado. Eu só consideraria essa possibilidade como um último recurso", afirmou.

"(Ao) colocar alguém que não esteja familiarizado a condições extremas em uma situação de zero visibilidade, é provável que essa pessoa entre em pânico" e coloque sua vida e dos mergulhadores em risco, completou.

"Por isso, a essa altura, eu acho que seria melhor levar comida, água, sistemas de filtragem, oxigênio se necessário. E esperar, desde que eles recebam o suprimento para ficarem aquecidos, alimentados e hidratados".

Mais de mil pessoas já participaram das operações de busca, incluindo equipes da Inglaterra, Estados Unidos, China, Miamar, Laos, Austrália.

Como foram as buscas

As cavernas ficam em um parque na província de Chiang Rai. É a quarta maior rede de cavernas da Tailândia, bastante popular entre turistas e quem vive ali, devido suas impressionantes formações rochosas de pedra calcária.

Primeiro, as cavernas se abrem e formam um ambiente amplo e de teto alto, parecido com o de um grande anfiteatro. Depois, dão em passagens estreitas, que levam a uma rede de cavernas menores. A população local diz não ser seguro se aventurar por essas passagens, especialmente durante a temporada de chuvas, que normalmente começa em julho.

Antes de entrar nas cavernas, o grupo amarrou as bicicletas do lado de fora. Um guarda então notou que elas continuavam por ali, mesmo depois do horário de fechamento do parque.

Deu-se, então, início a uma angustiante busca pelos meninos, que têm entre 11 e 16 anos, e seu treinador, de 25 anos. Mensagens enviadas pelos garotos antes de começar a exploração indicavam que eles tinham levado lanternas e comida. Mas é improvável que estivessem preparados para passar mais do que algumas poucas horas ali dentro.

Equipes de resgate tentaram usar bombas industriais para drenar a água da entrada da caverna, mas o nível subia mais rápido do que o volume que era possível retirar.

Na última sexta-feira, foi identificada uma pequena abertura nas montanhas onde ficam as cavernas. Especialistas britânicos entraram por meio dela e conseguiram chegar a uma profundidade de 20 metros. Policiais também a usaram para atingir uma grande câmara que ainda estava seca.

Durante as buscas, os mergulhadores viram pegadas recentes em áreas secas dentro do complexo de cavernas. Isso alimentou as esperanças de que os desaparecidos estivessem em segurança.

Caso mobilizou o país

A Tailândia parou para acompanhar as buscas pelos meninos. Uma hashtag que pode ser traduzida como "os estranhos que queremos conhecer mais" foi usada para transmitir a preocupação com o grupo.

Outras hashtags que se traduzem em frases como "13 vidas devem sobreviver" e "tragam para casa os jogadores Moo Pa" (nome do time de futebol dos meninos e do técnico) também foram usadas.

Na sexta-feira, o primeiro-ministro Prayut Chan-o visitou uma base de resgate que foi montada no estacionamento da entrada da caverna. Ali, estão 840 soldados, 90 integrantes de forças especiais, quatro helicópteros, escavadores e equipamentos para situações de desastre. Familiares dos desaparecidos também estão acampados do lado de fora da caverna.

Este texto está sendo atualizado à medida que são divulgadas mais informações.