Topo

Como armas químicas ajudaram Assad a estar perto da vitória na Síria

O maior número dos ataques relatados ocorreu na província de Idlib, no noroeste da Síria; outros incidentes aconteceram nas províncias vizinhas de Hama e Aleppo - Omar Sanadiki/ Reuters
O maior número dos ataques relatados ocorreu na província de Idlib, no noroeste da Síria; outros incidentes aconteceram nas províncias vizinhas de Hama e Aleppo Imagem: Omar Sanadiki/ Reuters

Nawal al-Maghafi - BBC Panorama

16/10/2018 16h49

Após sete anos de uma guerra civil devastadora na Síria, que deixou mais de 350 mil mortos até agora, o presidente Bashar al-Assad parece estar próximo da vitória contra as forças que buscam derrubá-lo.

Mas como Assad chegou tão perto de ganhar essa guerra brutal e sangrenta?

Uma investigação conjunta do programa BBC Panorama e do Serviço Árabe da BBC revela pela primeira vez como armas químicas tiveram um papel crucial em sua estratégia.

1. Houve um amplo uso de armas químicas

A BBC concluiu que há evidências suficientes para dizer com confiança que houve ao menos 106 ataques químicos na Síria desde setembro de 2013, quando Assad assinou a Convenção de Armas Químicas (CWC, na sigla em inglês), um tratado internacional que proíbe a produção, a estocagem e o uso desses armamentos, e concordou em destruir as armas químicas que detinha.

A Síria ratificou o acordo um mês após ataques químicos ocorrerem em diversos subúrbios da capital, Damasco, envolvendo o agente nervoso sarin e deixando centenas de mortos.

Leia também:

O sarin é um composto químico inodoro e incolor considerado 20 vezes mais mortífero que o cianeto. Assim como com todos os agentes nervosos, ele inibe a ação de uma enzima que auxilia no controle das células nervosas do organismo.

O coração e outros músculos, inclusive aqueles envolvidos na respiração, entram em espasmos. A exposição a ele pode levar à morte por asfixia em questão de minutos.

As imagens terríveis de vítimas convulsionando em agonia chocaram o mundo. Autoridades ocidentais disseram que os ataques só poderiam ter sido realizados pelo governo, mas Assad culpou a oposição.

Quando os Estados Unidos ameaçaram usar força militar em retaliação, um aliado-chave de Assad, a Rússia, o convenceu a eliminar o arsenal químico da Síria.

Apesar de a Organização pela Proibição de Armas Químicas (OPCW, na sigla em inglês), uma ONG com sede em Haia, na Holanda, e a Organização das Nações Unidas (ONU) terem destruído 1,3 mil tonelada de armamentos entregues pelo governo sírio, os ataques químicos continuaram no país.

"Ataques químicos são aterrorizantes", diz Abu Jaafar, que viveu na região da cidade síria de Aleppo, controlada pela oposição até 2016, quando foi retomada pelo governo.

"Uma bomba ou míssil mata as pessoas instantaneamente sem que elas sintam, mas produtos químicos sufocam. É uma morte lenta, como afogamento, por privação de oxigênio. É horrível."

Mas Assad continua a negar que tenha usado armas químicas.

"Não temos um arsenal químico desde que abrimos mão do nosso em 2013", ele disse neste ano. "[A OPCW] investigou, e ficou claro que não temos."

O que são armas químicas?

A OPCW, que supervisiona a implementação da Convenção de Armas Químicas, diz que uma arma química é um produto químico usado para ferir ou matar intencionalmente por meio de suas propriedades tóxicas.

O uso de armas químicas é proibido por leis internacionais de direitos humanos independentemente da presença de um alvo militar válido, já que os efeitos destas armas são indiscriminados por natureza e pensados para causar danos excessivos e sofrimento desnecessário.

Desde 2014, a Missão de Apuração de Fatos (FFM, na sigla em inglês) da OPCW na Síria e o agora desfeito Mecanismo de Investigação Conjunta OPCW-ONU analisaram alegações do uso de químicos tóxicos para fins hostis no país.

Eles determinaram que 37 inicidentes envolveram ou provavelmente envolveram o uso de produtos químicos como armas entre setembro de 2013 e abril de 2018.

Enquanto isso, a Comissão Internacional de Investigação Independente do Conselho de Direitos Humanos da ONU na Síria e outros órgãos afiliados à ONU concluíram que há motivos razoáveis para acreditar que armas químicas foram empregadas em 18 outros casos.

O Panorama e o Serviço Árabe da BBC examinaram 164 relatos de supostos ataques químicos que teriam ocorrido desde que a Síria assinou a CWC, há pouco mais de cinco anos.

A equipe da BBC concluiu haver evidências confiáveis de que armas químicas foram utilizadas em 106 destes incidentes.

"O uso de armas químicas gerou resultados para [forças do governo] que eles acreditam valer o risco, e foi demonstrado que [armas químicas] valem esse risco, porque eles continuam a usá-las, repetidamente", disse Julian Tangaere, ex-chefe da missão da OPCW na Síria.

Karen Pierce, representante permanente do Reino Unido na ONU, descreveu o uso de armas químicas na Síria como "vil". "Não apenas por causa dos seus terríveis efeitos, mas porque são armas banidas, proibidas há quase cem anos", ela afirmou.

Sobre os dados

A equipe da BBC levou em conta 164 relatos de ataques químicos a partir de setembro de 2013.

Os relatos foram feitos por uma série de fontes amplamente consideradas imparciais e que não estão envolvidas no conflito. Isso inclui órgãos internacionais, grupos de defesa de direitos humanos, organizações médicas e centros de estudos.

Em linha com investigações realizadas pela ONU e pela OPCW, pesquisadores da BBC, com a ajuda de vários analistas independentes, revisaram os dados disponíveis para cada um dos ataques relatados, inclusive relatos de vítimas e testemunhas, fotografias e vídeos.

A metodologia da equipe da BBC foi checada por pesquisadores e especialistas.

Os pesquisadores da BBC desconsideraram todos os incidentes em que havia apenas uma fonte ou em que foi concluído que não havia evidências suficientes. Levando tudo em conta, foi concluído que havia evidências suficientes para afirmar que armas químicas foram usadas em 106 incidentes.

A equipe da BBC não teve autorização para filmar na Síria e não conseguiu visitar os locais dos incidentes relatados e, portanto, não foi capaz de comprovar as evidências.

No entanto, foi levada em consideração a força das evidências disponíveis em cada caso, incluindo imagens em vídeo e fotografias de cada incidente, assim como detalhes sobre a localização e o momento em que ocorreram.

O maior número dos ataques relatados ocorreu na província de Idlib, no noroeste da Síria. Também houve muitos incidentes nas províncias vizinhas de Hama e Aleppo, e na região de Ghouta oriental, próxima a Damasco, segundo os dados da BBC.

Todas estas áreas foram redutos rebeldes por diversas vezes durante a guerra.

Os locais onde houve o maior número de vítimas por causa de supostos ataques químicos foram Kafr Zita, na província de Hama, e Douma, em Ghouta oriental.

Ambas as cidades foram palco de batalhas entre forças de oposição e do governo.

Segundo os relatos, o incidente mais mortífero ocorreu na cidade de Khan Sheikhoun, na província de Idlib, em 4 de abril de 2017. Autoridades da oposição na área de saúde disseram que mais de 80 pessoas morreram naquele dia.

Ainda que armas químicas sejam letais, especialistas em direitos humanos da ONU destacaram que a maioria dos incidentes em que civis foram mortos ou mutilados envolveram o uso ilegal de armas convencionais, como bombas de fragmentação e outros artefatos explosivos empregados em áreas civis densamente povoadas.

2. Evidências apontam para o governo sírio em muitos casos

Inspetores de uma missão conjunta OPCW-ONU anunciaram em junho de 2014 que eles tinham concluído a remoção ou destruição de todo o material de armas químicas declarado pela Síria, de acordo com os termos firmados por Rússia e Estados Unidos após o ataque com sarin de 2013.

"Tudo que sabíamos que existia foi removido ou destruído", disse Tangaere, um dos responsáveis pela inspeção. Mas, explicou ele, os inspetores tinham apenas as informações dadas a eles.

"Tudo que pudemos fazer foi verificar se estava lá o que nos disseram que estava", declarou. "A questão da CWC é que ela é baseada em confiança."

A OPCW identificou, no entanto, o que chamou de "lacunas, inconsistências e discrepâncias" no que foi declarado pela Síria e que uma equipe da ONG ainda tentar solucioná-las.

Em julho de 2018, o então diretor-geral da OPCW, Ahmet Üzümcü, disse ao Conselho de Segurança da ONU que a equipe "continuava a tentar esclarecer todas as questões pendentes".

Apesar do anúncio de junho de 2014 de que o material químico da Síria havia sido destruído ou removido, relatos de ataques químicos continuaram a vir à tona.

Abdul Hamid Youssef perdeu a mulher, seus filhos gêmeos de 11 meses, seu primo e muitos vizinhos no ataque de 4 de abril de 2017 em Khan Sheikhoun.

Ele descreveu as cenas que presenciou do lado de fora de sua casa, quando viu vizinhos e parentes caírem no chão de repente. "Eles tremiam e saía espuma de suas bocas", afirmou. "Foi aterrorizante. Foi quando soube que era um ataque químico."

Depois de ficar inconsciente e ser levado para o hospital, ele despertou perguntando por sua mulher e filhos. "Depois de 15 minutos, trouxeram eles até mim - mortos. Perdi as pessoas mais preciosas em minha vida."

A Missão Investigativa Conjunta OPCW-UN concluiu que um grande número de pessoas morreram por exposição ao sarin naquele dia.

A missão também afirmou estar confiante de que o governo sírio foi responsável pela liberação de sarin em Khan Sheikhoun, onde uma suposta aeronave teria lançado uma bomba na cidade.

As imagens de Khan Sheikhoun levaram o presidente americano, Donald Trump, a ordenar um bombardeio contra uma base aérea da Força Aérea síria de onde o ataque teria partido.

Assad disse que o incidente foi fabricado, enquanto a Rússia afirmou que a Força Aérea síria bombardeou um "depósito de munição terrorista" que estava repleto de armas químicas, liberando inadvertidamente uma nuvem tóxica.

Mas Stefan Mogl, integrante da equipe da OPCW que investigou o ataque, disse ter encontrado evidências de que o sarin usado em Khan Sheikhoun pertencia ao governo sírio.

Ele afirmou que havia uma "correspondência clara" entre o sarin empregado e amostras coletadas na Síria pela OPCW quando o estoque do país foi destruído.

O relatório da missão disse que o sarin identificado em amostras trazidas de Khan Sheikhoun foi provavelmente feito com um composto químico - difluoreto de metilfosfonilo (DF) - que seria originalmente do arsenal sírio. "Isso significa que nem tudo que existia foi removido", disse Mogl.

Tangaere, que supervisionou a destruição do estoque químico da Síria, disse: "Só posso presumir que esse material não fazia parte do que foi declarado nem estava no local a que fomos".

"A realidade é que só podíamos checar o que nos disseram que estava lá. Houve um outro processo para identificar lacunas no que foi declarado."

Mas e quanto aos outro 105 ataques relatados que foram mapeados pela equipe da BBC? Quem estaria por trás deles?

A missão concluiu que dois ataques envolvendo gás mostarda foram realizados pelo grupo extremista auto declarado Estado Islâmico. Há evidências que apontam que o grupo foi o autor de outros três ataques, segundo dados da BBC.

A missão e a OPCW não identifcaram até o momento que nenhum outro grupo armado de oposição além do Estado Islâmico realizou um ataque químico. A investigação da BBC não encontrou nenhuma evidência confiável que aponte o contrário.

Mas o governo sírio e a Rússia já acusaram combatentes da oposição do uso de armas químicas em uma série de ocasiões e relataram isso à OPCW, que investigou as alegações. Facções armadas da oposição negaram o uso de armas químicas.

Os indícios disponíveis, inclusive vídeos, fotografias e testemunhos, apontam que ao menos 51 dos 106 ataques relatados foram realizados a partir do ar. A BBC acredita que todos os ataques aéreos foram de autoria de forças do governo.

Ainda que aeronaves russas tenham realizado milhares de ataques em apoio a Assad desde 2015, especialistas em direitos humanos da ONU que integram a Comissão de Investigação disseram não haver indícios de que forças russas usaram armas químicas na Síria.

A OPCW também não encontrou evidências de que grupos armados de oposição tinham a capacidade de realizar ataques aéreos nos casos investigados.

Tobias Schneider, do Instituto de Políticas Públicas Globais, um centro de estudos baseado em Berlim, na Alemanha, também investigou se a oposição poderia ter realizado algum ataque químico aéreo e concluiu que não. "O regime de Assad é o único ator lançando armas químicas a partir do ar", disse ele.

Lina Khatib, chefe do programa para Oriente Médio e Norte da África da Chatham House, um centro de estudos baseado em Londres, no Reino Unido, disse: "A maioria dos ataques químicos que vimos na Síria parecem seguir um padrão que indica que eles foram obra do regime e de seus aliados e não de outros grupos na Síria".

"Às vezes, regimes usam armas químicas quando não são capazes de assumir o controle de uma área usando armas convencionais", ela acrescentou.

O sarin foi usado no mais mortífero dos 106 ataques - em Khan Sheikhoun -, mas as evidências apontam que o produto químico tóxico mais usado foi o cloro.

O cloro é conhecido como um químico de "uso duplo". Pode ser empregado de forma legítima e pacífica por civis, mas seu uso como arma é banido pela CWC.

Cloro teria sido usado em 79 dos 106 ataques relatados, segundo dados da BBC. A OPCW e a missão conjunta concluíram que o cloro foi provavelmente usado como arma em 15 dos casos investigados.

Especialistas dizem que é notoriamente difícil provar o uso de cloro em um ataque, porque é muito volátil, evapora e se dispersa rapidamente.

"Ser você vai a um local onde houve um ataque com cloro, é quase impossível obter evidências físicas, a não ser por um curtíssimo período de tempo", disse Tangaere, ex-inspetor da OPCW.

"Neste sentido, por ser possível usá-lo sem deixar evidências, você entende por que isso ocorreu muitas, muitas vezes."

3. O uso de armas químicas parece ser estratégico

Identificar os momentos e locais em que ocorreram os 106 ataques químicos relatados parece revelar um padrão da forma como essas armas foram empregadas.

Muitos dos ataques ocorreram em localidades dentro e ao redor das mesmas áreas e aproximadamente nos mesmos horários. Essas localidades coincidem com ofensivas do governo - em Hama e Idlib em 2015, em Idlib em 2015, e na cidade de Aleppo no fim de 2016, e em Ghouta oriental no início de 2018.

"Armas químicas são usadas sempre que o regime quer mandar uma forte mensagem para a população local onde sua presença não é tida como desejável", disse Khatib.

"Além de armas químicas serem a punição máxima, espalhando o medo, elas também são baratas e convenientes para o regime em um momento em que sua capacidade militar diminuiu por causa do conflito."

"Não há nada que deixe as pessoas com mais medo do que armas químicas, e, sempre que armas químicas foram usadas, moradores fugiram daquelas áreas e, com frequência, não retornaram."

Aleppo, uma cidade disputada por ambos os lados do conflito, parece ser um dos locais onde essa estratégia foi empregada.

Combatentes da oposição e civis ficaram presos em um reduto ao leste da cidade quando o governo lançou sua ofensiva final para retomar o controle da cidade.

Áreas sob o controle da oposição foram primeiro muito bombardeadas com armamentos convencionais. Teriam ocorrido então uma série de ataques químicos que teriam deixado centenas de mortos. Aleppo logo ficou sob o controle do governo, e as pessoas foram levadas a se mudar para outras áreas sob o controle da oposição.

"O padrão que estamos testemunhando é um em que o regime usa armas químicas em áreas que considera estratégicas para seus próprios fins", disse Khatib.

"O estágio final para reassumir o controle destas áreas parece ser empregar armas químicas para forçar a população a fugir."

Do fim de novembro de 2016 a dezembro do mesmo ano, nas semanas finais da ofensiva do governo no leste de Aleppo, houve 11 ataques com cloro relatados. Cinco deles foram nos últimos dois dias da ofensiva, antes de combatentes e apoiadores da oposição se renderem e concordarem em serem evacuados.

Abu Jaafar, que trabalhou na oposição síria como cientista forense, estava em Aleppo nos últimos dias do cerco. Ele examinou os corpos de muitas das vítimas dos supostos ataques químicos.

"Fui ao necrotério, e os corpos exalavam um forte cheiro de cloro", ele disse. "Quando os inspecionei, vi marcas claras de sufocamento por causa de cloro."

O uso de cloro tem um efeito devastador, ele explicou. "O gás sufoca as pessoas, espalhando terror e pânico", disse. "Havia aeronaves de guerra e helicópteros no céu o tempo todo, assim como restos de artilharia. Mas o que gerou o maior impacto foram as armas químicas."

Quando o cloro líquido é liberado, ele se transforma rapidamente em gás. O gás é mais pesado do que o ar e desce. Pessoas que estejam se escondendo em porões ou em abrigos subterrâneos contra bombas ficam particularmente vulneráveis.

Quando o gás de cloro entra em contato com regiões úmidas do corpo, como os olhos, garganta e pulmões, um ácido é produzido e pode danificar esses tecidos. Quando inalado, o cloro faz com que um fluido seja secretado nos alvéolos, basicamente afogando quem é afetado.

O governo sírio disse que nunca usou cloro como arma. Mas todos os 11 ataques relatados em Aleppo vieram do ar e ocorreram em áreas controladas pela oposição, segundo dados da BBC.

Mais de 120 mil civis deixaram Aleppo nas semanas finais da batalha pela cidade, segundo organizações que estavam no local. Foi o ponto de virada da guerra civil.

Um padrão similar de uso de armas químicas relatado pode ser identificado em dados de Ghouta oriental, o reduto final da oposição próximo a Damasco.

Mapas mostram que os incidentes coincidiram com a perda de território pela oposição.

Douma, a maior cidade de Ghouta oriental, foi o alvo de quatro ataques químicos relatados ao longo de quatro meses, conforme forças pró-governo intensificavam o bombardeio aéreo antes de lançar uma ofensiva por terra.

O último - e mais mortífero, segundo médicos e equipes de resgate - incidente ocorreu em 7 de abril, quando um cilindro amarelo de gás industrial foi supostamente lançado no terraço de um bloco de apartamentos. A oposição se rendeu um dia depois.

O governo russo disse que o incidente foi encenado pela oposição com ajuda do Reino Unido, uma acusação que o governo britânico refutou como "grotesca e absurda".

Uma Missão de Apuração de Fatos da OPCW visitou o local quase duas semanas depois e coletou amostras do cilindro de gás no terraço. Em julho, disse que "vários químicos orgânicos clorados" foram encontrados nas amostras, assim como resíduos de explosivos.

A missão ainda trabalha para apurar o significado dos resultados, mas autoridades ocidentais estão convencidas de que as pessoas que morreram na explosão foram expostas a cloro.

Uma semana após o incidente em Douma, os Estados Unidos, o Reino Unido e a França realizaram ataques aéreos a três locais que dizem que estavam "associados especificamente ao programa de armas químicas do regime sírio".

Os ataques do Ocidente ocorreram horas antes do Exército sírio declarar que Ghouta oriental estava livre de combatentes da oposição, quando cerca de 140 mil pessoas haviam deixado suas casas e até 50 mil haviam sido evacuadas para territórios controlados pela oposição no norte do país.

"Vi a destruição, pessoas chorando, dizendo adeus para suas casas e filhos. Pessoas em um estado miserável, exaustas, foi muito dolorido. Não me esqueço. As pessoas diziam que não aguentavam mais", disse Manual Jaradeh, que estava vivendo em Douma com seu marido e filho.

O governo sírio não respondeu perguntas enviadas pela BBC sobre as alegações de que teria usado armas químicas e se recusou a permitir que uma equipe do Panorama viajasse para Damasco para examinar o local do ataque relatado em Douma, além de ter rejeitado pedidos de entrevistas.

Quando questionado se a comunidade internacional havia falhado com o povo sírio, o ex-inspetor da OPCW Julian Tangaere disse: "Sim, eu acho que sim".

"Foi uma luta de vida ou morte com o regime de Assad. Não havia como voltar atrás. Entendo isso. Mas os métodos usados e a barbárie de parte do que ocorreu... bem, isso está além da compreensão. É aterrorizante."

Então, o presidente Assad escapará de ser responsabilizado? Karen Pierce, embaixadora britânica na ONU, acredita que não: "Há evidências sendo reunidas. Um dia, a Justiça será feita. Faremos nosso melhor para que isso ocorra o mais rápido possível".