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Ataques nos EUA: de Barack Obama a George Soros, onda de bombas enviadas por correio assusta o país

Ricardo Senra - @ricksenra - Da BBC News Brasil em Washington

24/10/2018 16h07

Reportagem atualizada às 11h de 25 de outubro de 2018, com novas informações de explosivos

Enquanto apresentadores falavam sobre a interceptação de pacotes com potencial explosivo endereçados ao escritório do ex-presidente americano Barack Obama e à casa da ex-secretária de Estado Hillary Clinton, nesta quarta-feira, um alarme sonoro interrompeu uma transmissão ao vivo dos estúdios da rede CNN em Nova York.

O alarme disparou porque a própria CNN acabava de se tornar mais um alvo dos pacotes e o prédio, no coração de Manhattan, estava sendo evacuado.

Os três envios desta quarta foram registrados dois dias depois de uma bomba ser encontrada na casa do bilionário americano George Soros.

Pacotes semelhantes também foram enviados para o ex-diretor da CIA John Brennan (destinatário do envelope mandado para a CNN, onde hoje atua como comentarista) e o ex-Procurador-Geral Eric Holder, entre outros endereços de autoridades ainda em investigação. No fim do dia, o FBI confirmou a interceptação de sete pacotes - dois deles endereçados à congressista democrata Maxime, da California.

Após os anúncios desta quarta, evacuações por pacotes suspeitos estão acontecendo em escritórios de políticos democratas e veículos de comunicação em diferentes partes do país.

O conteúdo dos envelopes, segundo o FBI, ainda está sendo investigado e "se parece com bombas caseiras feitas com tubos".

As tensões prosseguiram nesta quinta-feira, com informações de que outros conhecidos democratas críticos ao presidente Donald Trump também receberam supostos explosivos: o ex-vice-presidente Joe Biden e o ator Robert DeNiro.

Um pacote suspeito foi entregue a um restaurante nova-iorquino pertencente a De Niro, que já trocou farpas com Trump - chamou o presidente de "desastre nacional" e foi chamado por este de "indivíduo com QI muito baixo".

São, até agora, ao menos nove aparentes ameaças, caso seja confirmada uma conexão entre elas.

O presidente Donald Trump classificou os atos como "desprezíveis" nesta tarde, ao lado da primeira-dama Melania, em um evento sobre a crise de opioides como a heroína no país.

"A segurança do povo americano é minha mais alta e absoluta prioridade", disse, afirmando que "atos e ameaças de violência política não têm lugar nos Estados Unidos da América."

Ele se referiu a "pacotes suspeitos enviados para atuais e ex-funcionários do alto escalão do governo" e não citou diretamente os alvos das cartas. Em coro com outras autoridades, ele pediu união nacional: "Nestes tempos, temos que nos unir. Temos que nos unir".

Mas, depois, num comício em Wisconsin, ele voltou a criticar a mídia ao dizer que a imprensa também a responsabilidade de acabar com o que achamou de "intermináveis hostilidades".

A comoção instantânea gerada pelo que pode ser uma ação coordenada por um "serial bomber" - algo como um "bombardeador em série" - gerou condenações como a do vice-presidente Mike Pence, que classificou as ações como "covardes" e "desprezíveis" e disse que elas "não têm lugar neste país".

"Os responsáveis serão levados à Justiça", afirmou o vice-presidente pelo Twitter - em seguida compartilhado por Trump, que completou: "Eu concordo do fundo do meu coração".

Já o presidente da CNN, Jeff Zucker, criticou Trump e a secretária de imprensa da Casa Branca pelas críticas frequentes dos dois à imprensa. "Há uma total falta de dimensão na Casa Branca sobre a seriedade e as consequências dos contínuos ataques à mídia", disse.

'Atos de terror'

Três horas depois da evacuação, o prédio da Time Warner, onde fica a CNN em Nova York, ainda estava sendo vasculhado para averiguação de um pó branco suspeito que foi encontrado junto ao pacote enviado à redação.

Em coro com outras autoridades, o prefeito de Nova York, Bill di Biasio, classificou os episódios como "terrorismo".

"Isso claramente é um ato de terror, tentando minar nossa imprensa livre e líderes deste país por meio de atos de violência", disse Blasio.

À imprensa americana, um porta-voz do Centro Nacional de Contraterrorismo disse que autoridades ainda investigam uma eventual conexão estrangeira com o envio dos pacotes. O FBI assumiu a liderança da investigação.

Diferentemente da rede de TV, os pacotes enviados a Hillary Clinton e Barack Obama foram interceptados por agentes antes de serem encaminhados para seus respectivos destinatários.

"Os pacotes foram imediatamente identificados durante procedimentos rotineiros de triagem de correio como potenciais dispositivos explosivos e foram adequadamente tratados", disse o Serviço Secreto em nota na quarta-feira.

"Os destinatários não receberam os pacotes, nem correram o risco de recebê-los."

Segundo John Miller, vice-comissário de inteligência e combate ao terrorismo da polícia de Nova York, os pacotes enviados a Clinton e Obama eram "quase idênticos".

'Unir o país'

O destinatário indicado no envelope do dispositivo enviado para a CNN era John Brennan, diretor da CIA durante o governo de Barack Obama, que teve o direito a segurança especial revogado por Trump.

Como remetente dos pacotes enviados à TV e ao bilionário Soros aparecia o nome da congressista da Flórida Debbie Wasserman-Schultz, ex-presidente do Comitê Nacional Democrata e uma importante voz de oposição ao governo Trump.

O comitê da congressista também foi evacuado nesta quarta-feira e é investigado pelo FBI após ter recebido pacotes com características semelhantes aos demais.

"É um momento preocupante", disse ela, "e temos de fazer tudo o que pudermos para unir nosso país".

O governador de Nova York, Andrew Cuomo, pediu que o "presidente Trump, o Senado, o Congresso, os governadores derrubem a retórica" de divisão e polarização o país.

Após o governador informar que seu escritório também tinha recebido um pacote suspeito, a polícia de Nova York disse que o caso não tem relação com os demais envios de artefatos explosivos.

Voz importante do governo, o presidente da Câmara, Paul Ryan, disse que "não podemos tolerar qualquer tentativa de aterrorizar figuras públicas".

No início de outubro, autoridades afirmaram que "vários pacotes suspeitos de conter a substância letal ricina" foram endereçados ao presidente Trump e a funcionários do Pentágono - eles foram interceptados com sucesso antes de chegarem aos destinos.

A notícia dos dispositivos explosivos também desencadeou uma pequena onda de alarmes falsos. Alguns meios de comunicação informaram que um dispositivo semelhante foi endereçado ao presidente Trump na Casa Branca, até que o Serviço Secreto desmentiu a história.

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