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Mourão diz que apoia a construção de muro entre México e EUA

Ricardo Senra - Enviado especial da BBC News Brasil a Boston

Boston

06/04/2019 20h44

Vice-presidente afirmou endossar a posição de Bolsonaro, que em março declarou ver 'com bons olhos' o projeto que foi a principal proposta de campanha de Trump - mas que enfrenta resistência no Congresso.

O vice-presidente Hamilton Mourão disse hoje, em Boston, que apoia a construção de um muro separando os Estados Unidos e o México. O projeto é a principal proposta de campanha do presidente americano, Donald Trump e, mais de dois anos depois das eleições, caminha a passos lentos e enfrenta resistência.

Na última quinta-feira, a câmara dos Deputados americana, que tem maioria democrata, de oposição a Trump, abriu um processo judicial em um tribunal federal de Washington contra membros da administração do governo.

O presidente americano declarou estado de emergência no país para poder utilizar recursos militares para viabilizar a construção do muro, cujo financiamento não era apoiado pela maioria dos parlamentares. No processo judicial, a oposição alega que a declaração de emergência desrespeita a vontade dos parlamentares.

Em visita a Washington, em março, o presidente Jair Bolsonaro deu entrevista à emissora Fox News e declarou que "vê com bons olhos" a construção do muro na fronteira que divide norte-americanos e mexicanos.

Questionado durante entrevista coletiva pela BBC News Brasil se concordava com o apoio à controversa construção, o vice-presidente reagiu com surpresa: "Ele falou isso mesmo?"

Após a confirmação de auxiliares, Mourão completou: "Bom, se o presidente apoia, eu também apoio."

'Que o diga meu dedinho'

Na mesma entrevista à Fox News, em março, Bolsonaro chamou atenção internacional ao declarar que "a maioria dos imigrantes não tem boas intenções".

Diante da má repercussão da frase, o presidente disse a jornalistas no dia seguinte, horas depois de se reunir com Trump, que havia se enganado.

"Uma boa parte tem boas intenções, a menor parte, não. Houve um equívoco da minha parte, peço desculpas. Agora, tem muita gente que está de forma ilegal aqui e isso é uma questão de política interna deles, não é nossa."

Um mês antes, durante uma festa no resort de Donald Trump na Flórida, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, também apoiou a medida. "Como trabalhei na fronteira entre o Brasil e a Bolívia, nós sabemos como as coisas funcionam. Então, construam o muro. Nós, brasileiros, estamos apoiando vocês", disse.

O parlamentar também afirmou que "brasileiro ilegalmente fora do país é problema do Brasil, é vergonha nossa".

As declarações do presidente na época criaram desconforto nas relações bilaterais entre Brasil e México, segundo diplomatas ouvidos pela BBC News Brasil.

"Em um momento em que precisamos melhorar nossa economia e nossas relações comerciais, uma declaração como esta nos afasta de uma das maiores economias da América Latina", afirmou um membro do governo em condição de anonimato.

Questionado pela imprensa mexicana sobre as frases de Bolsonaro, o presidente Andrés Manuel López Obrador fez troça.

"Que o diga meu dedinho", afirmou, enquanto fazia sinal negativo com as mãos.

Relação com Bolsonaro

O suposto desgaste na relação entre o Mourão e o presidente, ventilado por parte da base de Bolsonaro insatisfeita com o vice, foi um dos principais assuntos abordados durante a entrevista coletiva.

"Estou aqui autorizado pelo presidente da República, isso despachado com ele no fim de janeiro e fim de fevereiro", disse Mourão. "Ele me autorizou a comparecer."

"O único objetivo disso (comentários sobre suposto desentendimento) é buscar causar uma divisão entre o presidente e o vice, divisão essa que não existe em hipótese alguma."

Mourão afirmou que o objetivo de sua visita a Boston, pouco mais de duas semanas após o encontro entre Bolsonaro e Trump, é ter a oportunidade de dialogar com brasileiros que vivem nos EUA e "poder trazer a mensagem do governo brasileiro" para os participantes da Brazil Conference, evento organizado por estudantes de Harvard e do MIT.

"E, obviamente, trabalhar para a construção da imagem positiva do nosso governo e, obviamente, do nosso país."

De Boston, Mourão viaja para Washington, onde se encontra com o vice-presidente americano, Mike Pence.

"O grande objetivo, único e exclusivo, é a gente estabelecer um canal. Já que os dois presidentes já estabeleceram, é importante que tanto eu como o vice-presidente americano tenhamos esse canal aberto. A gente só consegue estabelecer um canal dessa natureza quando a gente se senta para conversar e trocar opiniões."

"Eu deixo muito claro para todo mundo. O meio onde eu vivi durante toda a minha vida, a disciplina intelectual e a lealdade para com o comandante são cláusulas pétreas. A minha lealdade para com o presidente Bolsonaro é total e todos os meus movimentos são do conhecimento dele."

Dificuldade de articulação com o Congresso

Sobre a dificuldade que o governo enfrenta em conseguir apoio do Congresso para a aprovação da reforma da Previdência, a principal promessa da gestão Bolsonaro a empresários e investidores, Mourão disse que "o presidente não construiu base como se costumava ver nos governos anteriores".

"O presidente era eleito, aí começava um diálogo com diferentes partidos, naquela distribuição de ministérios, naquela composição chamada de governo de coalizão. A nossa base era muito frágil. O PSL, como diz o meu amigo (Carlos Alberto dos) Santos Cruz, era um partido de redes sociais e teve uma porção de gente eleita na esteira da grife Bolsonaro", afirmou. "E o meu partido, o PRTB, é um partido pequeno e não conseguiu eleger ninguém."

Mourão afirmou que, no primeiro momento, Bolsonaro recorreu a bancadas temáticas - como a da bala e a evangélica -, mas "chegou à conclusão de que isso não funcionou".

"Então ele partiu para uma segunda linha de ação, que é conversar diretamente com os presidentes dos partidos, apesar de que, durante a transição, houve reunião com as bancadas."

"Isso faz parte do jogo político. É um processo de ensaio e erro."