Na Venezuela em crise, nem túmulos estão a salvo dos ladrões
Ladrões estão vandalizando túmulos do maior cemitério de Caracas, na Venezuela.
O cemitério General del Sur virou alvo de criminosos que já arrombaram diversos túmulos em busca de joias, dentes de ouro e até de ossos, vendidos para uso em rituais da religião afro-cubana Santeria.
Para parentes que visitam o local, é uma metáfora para a crise que a Venezuela enfrenta.
A situação no país vem se deteriorando em um cenário marcado por pobreza e hiperinflação.
Mas a crise não começou agora. A fome fez mais de 64% dos venezuelanos declararem, em uma pesquisa, terem perdido, em média, 11 kg no ano passado.
A violência esvazia as ruas das grandes cidades quando anoitece. E a situação provocou um êxodo em massa para países vizinhos.
"Eu venho aqui (no cemitério) toda semana, ou a cada 15 dias. Vigio (o túmulo da minha mulher). Tenho medo de chegar um dia e terem levado tudo", diz Eladio Bastida, cuja esposa morreu há um ano e meio.
"Quando enterrei ela, você conseguia andar por aqui. Mas, de pouco tempo pra cá, mal dá para chegar no túmulo, porque todos os túmulos foram arrombados e os restos foram retirados".
Destruição fora de controle
Em 2016, o governo disse que aumentou as rondas policiais para reforçar a segurança na área.
Funcionários do cemitério, entretanto, dizem que a destruição está fora de controle.
Até túmulos de personalidades históricas foram arrombados.
"Essa é uma terra sem lei, não existe respeito por nada aqui", diz Bastida.
Jorge Liscano quer exumar os restos mortais dos parentes. Eles ocupam um dos últimos túmulos intactos.
"Tudo isso é resultado de um colapso social, da falta de educação, da perda de valores em nossas casas e nas nossas instituições", diz ele.
"Aqui, nos últimos tempos só se foca em política. Nos esquecemos dos valores que nos tornam humanos".
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