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Coronavírus: por que governo brasileiro decretará emergência mesmo sem caso confirmado no país

Ministro da Saúde disse que medida é necessária para preparar repatriação e quarentena de brasileiros - AFP
Ministro da Saúde disse que medida é necessária para preparar repatriação e quarentena de brasileiros Imagem: AFP

Rafael Barifouse - Da BBC News Brasil em São Paulo

03/02/2020 17h07

Medida permitirá contratar recursos para operações de repatriação e quarentena sem licitação, disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Ainda está sendo analisado onde brasileiros que virão da China serão mantidos em isolamento.

O governo federal anunciou que decretará situação de emergência no Brasil em meio à epidemia de coronavírus mesmo sem a confirmação de um caso no país.

Até o momento, o país se encontra no segundo dos três níveis de classificação de risco. No início da semana passada, a classificação havia subido do nível 1, de alerta, para o nível 2, de perigo iminente, após serem anunciados os primeiros casos de suspeita em território brasileiro.

O Ministério da Saúde havia informado anteriormente que o terceiro e último nível, de emergência de saúde pública, seria adotado quando fosse confirmado um caso no país.

No entanto, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse nesta segunda-feira (03/02) que esta etapa será antecipada, mesmo sem a comprovação da presença do vírus no Brasil.

De acordo com Mandetta, a medida é um "ato discricionário" seu e é necessária para fazer contratações emergenciais, sem a necessidade de licitações, e assim tomar medidas para preparar o país para receber os brasileiros que serão trazidos da China e mantê-los em quarentena.

"Para se fazer a busca destas pessoas, montar toda a estrutura, se definir o local (de quarentena), colocar todos os equipamentos, vamos reconhecer essa situação de emergência internacional, para poder ter os mecanismos, senão você tem que abrir licitação, leva 15 a 20 dias para se movimentar quando opera no status normal da lei de licitações", afirmou Mandetta.

"Isso envolve poder fazer determinadas despesas que vão ser envolvidas no processo de montar uma base de quarentena."

Situação de emergência internacional

Na quinta-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou uma situação de emergência de saúde pública internacional por causa do surto do novo coronavírus.

A OMS disse ter tomado esta medida devido ao registro de casos de transmissão do vírus fora da China, onde começou o surto, e por uma preocupação com a possibilidade de propagação para países com sistemas de saúde mais frágeis.

No mundo, já foram registrados mais de 17 mil casos, a maioria na China, e houve 362 mortes - 361 delas na China e 1 nas Filipinas.

Desde a semana passada, o governo brasileiro investiga casos de suspeitas do vírus, mas não houve nenhuma confirmação até o momento. De acordo com os dados oficiais mais recentes, há atualmente 16 casos suspeitos em cinco Estados: Ceará (1), São Paulo (8), Paraná (1), Santa Catarina (2) e Rio Grande do Sul (4).

Governo prepara repatriação de brasileiros

O anúncio da decretação da situação de emergência no país foi feito por Mandetta após uma reunião realizada na Casa Civil.

O encontro foi realizado para decidir como será feita a repatriação de aproximadamente 40 dos brasileiros que estão em Wuhan, cidade chinesa é considerada o epicentro do atual surto de coronavírus, e que disseram querer voltar ao país.

"Nem todos manifestaram interessem em retornar, tem pessoas que preferem permanecer na cidade, então, temos que primeiro definir quantas pessoas são", afirmou Mandetta.

O ministro disse que só serão retirados brasileiros que estão em Wuhan, porque a cidade concentra 70% dos casos. "É a única cidade em que o governo chinês fez bloqueio, ou seja, eles estão em quarentena", disse Mandetta.

"Quem está fora de Wuhan tem direito de ir e vir. Pode comprar uma passagem e sair do país."

Local da quarentena ainda está em estudo

O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse pela manhã, em entrevista à Rádio Gaúcha, que um voo fretado pelo Brasil deve decolar até a terça-feira a caminho da China e retornar na quinta ou sexta-feira.

Lorenzoni também afirmou que a quarentena poderá ser feita em uma base militar na cidade de Anápolis, em Goiás. No entanto, Mandetta disse que o local ainda não foi escolhido.

"Existe uma base militar em Anápolis que tem vantagens, tem proximidade com um hospital das Forças Armadas em Brasília, com leitos que podem ser separados. Tem uma (base militar) de Florianópolis que tem suas vantagens", afirmou o ministro da Saúde.

Mandetta disse os brasileiros que serão trazidos de Wuhan terão de passar por exames antes de embarcar e ficarão em quarentena no país por 18 dias. "O período de incubação por critério clinico é de 14 dias, mas vamos aumentar 20%", disse Mandetta.

O ministro disse que a princípio a tripulação do voo que repatriará os brasileiros poderá cumprir uma quarentena domiciliar, mas o governo federal está consultando o protocolo aplicado por outros países para saber se estas pessoas também deverão ficar isoladas em instalações militares.

MP da quarentena será enviada ao Congresso

O governo ainda prepara uma Medida Provisória a ser enviada em regime de urgência para aprovação no Congresso Nacional para estabelecer as normas legais para a realização de quarentena no país.

A falta de uma lei específica sobre o tema havia sido apontada pelo presidente Jair Bolsonaro como um dos motivos pelos quais o país não faria a repatriação de brasileiros na China. Bolsonaro também disse que não havia recursos financeiros para realizar a operação.

No entanto, os presidentes do Senado e da Câmara disseram que o governo tinha instrumentos orçamentários para viabilizar a repatriação e declararam que o Congresso estava disposto a aprovar as leis necessárias para que fosse possível manter cidadãos em quarentena no país.

Ao mesmo tempo, conforme revelado pela BBC News Brasil, um grupo de brasileiros em Wuhan divulgou um vídeo em que faziam um apelo para que o governo federal realizasse a operação de repatriação.

Na carta-aberta, gravada em um vídeo publicado no YouTube na manhã de domingo, eles destacaram que outros países estavam repatriando seus cidadãos e afirmaram estar dispostos a passar pelo período de quarentena fora do território brasileiro.

Poucas horas depois, os ministérios das Relações Exteriores e da Defesa informaram que o governo federal adotaria as medidas necessárias para trazer de volta os brasileiros.

"A decisão política do presidente Jair Bolsonaro foi de trazer as pessoas que queiram vir, que estejam em condições de vir e (de forma) que garanta a proteção do coletivo com as medidas que sejam necessárias. É dentro dessa missão que vamos trabalhar", disse Mandetta.