Epidemia ou 'infodemia'? A guerra de versões sobre coronavírus na Europa
A França precisa se preparar para uma epidemia do novo coronavírus, disse o presidente do país, Emmanuel Macron — mas a Itália, o país mais afetado da Europa, diz que informações falsas estão criando uma "infodemia".
Macron deve discutir a crise com o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, em Nápoles.
Segundo o governo italiano, 528 pessoas no país estão infectadas, e 14 morreram, em meio a esforços globais para impedir a disseminação do vírus causador da doença covid-19.
A Itália registrou um aumento de 25% nos casos de coronavírus em 24 horas, e as infecções continuam concentradas em duas regiões do norte — a Lombardia e o Vêneto. Mas alguns casos surgiram em áreas ao sul do país.
A Defesa Civil da Lombardia informou que 37 pessoas na região já se recuperaram do vírus.
O chanceler italiano, Luigi Di Maio, disse a repórteres que uma "infodemia" — uma "epidemia de informações falsas" no exterior — estava prejudicando a economia e a reputação do país.
Ele afirmou que todos os casos na Itália estavam associados aos dois surtos no norte, e que apenas 0,1% das cidades italianas tinham sido afetadas.
O governador da Lombardia, Attilio Fontana, impôs a si mesmo uma quarentena após um assessor seu ser diagnosticado com a doença. Ele afirmou no Facebook que os demais integrantes da equipe estavam livres da doença, mas que permaneceriam isolados por 14 dias.
A associação de turismo italiana Assoturismo diz que as previsões de receita com hospedagem para março caíram US$ 219 milhões por causa do vírus.
Na quarta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou pela primeira vez que o vírus estava se espalhando mais rapidamente fora do que dentro da China, onde se originou.
Mais de 80 mil pessoas em 40 países já se infectaram com o novo coronavírus, que surgiu em dezembro. A ampla maioria vive na China.
A doença respiratória covid-19, causada pelo vírus, matou mais de 2.700 pessoas até agora.
Em uma visita surpresa a um hospital na quinta-feira, o presidente francês alertou: "Estamos enfrentando uma crise, uma epidemia, que está a caminho".
Ele esteve no hospital La Pitié-Salpêtrière, em Paris, onde um homem de 60 anos morreu em decorrência de uma infecção pelo vírus. Houve outra morte na França — um turista chinês.
Mais dois pacientes foram diagnosticados com o vírus na Inglaterra, elevando para 15 o número de casos no Reino Unido.
O repórter da BBC Mark Lowen, em Milão, diz que o governo italiano está com uma postura reativa, tentando reduzir o pânico gerado pelo vírus. O primeiro-ministro italiano pediu à emissora Rai, a principal do país, para que "diminuísse o tom" de sua cobertura.
Nas primeiras páginas dos jornais italianos, notícias sobre o número crescente de casos deram lugar a apelos por calma. O prefeito de Milão, onde muitos hotéis e restaurantes estão com movimento fraco, pediu aos museus que reabram.
O governo divulgou um vídeo com cenas vibrantes da cidade e a mensagem: "não temos medo e estamos abertos para negócios".
Mas, nessa história, as percepções falam mais alto. O presidente dos EUA, Donald Trump, mencionou possíveis restrições de viagem à Itália. Israel barrou estrangeiros que cheguem de voos vindos da Itália e o Kuwait evacuou seus cidadãos de Milão.
Em outras partes da Europa
Na Espanha, uma súbita alta nas infecções provocou preocupação, mas não pânico, diz o repórter da BBC Guy Hedgecoe.
Um homem em Sevilha foi infectado sem ter viajado ao exterior recentemente, indicando que o vírus está na Espanha há mais tempo do que se pensava.
Em Tenerife, nas Ilhas Canárias, um hotel com quase mil hóspedes segue em quarentena. Há temores de que as celebrações do feriado da Páscoa na Espanha sejam afetadas pelo novo coronavírus.
A Alemanha também está enfrentando uma epidemia, segundo o ministro da Saúde, Jens Spahn. No país, 26 pessoas foram infectadas, 14 das quais trabalham em uma indústria na Bavária e tiveram contato com um colega que viajou à China. Centenas de pessoas estão em quarentena em suas casas.
Na Romênia, o primeiro caso de contágio pelo coronavírus foi confirmado na quarta-feira: um homem do condado de Gorj, no sul do país, que teve contato com um visitante italiano também infectado. O governo do país está tentando rastrear e colocar em quarentena todos que tiveram contato com o visitante.
O repórter da BBC Nick Thorpe relata que 91 pessoas estão em quarentena, e outras 7.174 estão isoladas em casa. Um milhão de romenos trabalha na Itália, e há vários voos diretos entre os dois países.
O presidente da Romênia, Klaus Iohannis, pediu aos cidadãos que não entrem em pânico após consumidores esvaziarem prateleiras de supermercados. Também houve relatos de intimidação de pessoas asiáticas.
Na Hungria, o time de futebol Honved Budapest suspendeu temporariamente o técnico italiano Giuseppe Sannino e seu assistente Alessandro Recenti por temer que eles possam ter tido contato com pessoas infectadas.
Há crescente preocupação no país e compra frenética de máscaras faciais, mas nenhum caso até agora foi confirmado.
Na Suíça, os mercados esgotaram o estoque de álcool gel em Berna, e cafés populares estão mais vazios que o habitual, segundo Imogen Foulkes, da BBC.
A feira de relógios de Genebra, altamente lucrativa para a cidade, foi cancelada. O turismo de chineses caiu 50%, e resorts relataram um prejuízo de mais de 20 milhões de francos suíços (R$ 91,8 milhões).
Quatro casos de coronavírus foram confirmados na Suíça, que tem uma extensa fronteira com a Itália; dezenas de milhares de pessoas atravessam-na todos os dias para trabalhar. As fronteiras não serão fechadas, mas guardas divulgam informações sobre o vírus e sobre prevenção.
Dez laboratórios foram preparados para analisar até mil possíveis casos por dia. Uma campanha nacional com o slogan "isso afeta a todos nós!" começará na sexta-feira.
Os seguintes países também registraram casos de coronavírus na Europa: Áustria, Croácia, Dinamarca, Estônia, Geórgia, Grécia, Noruega e Macedônia. Muitos dos infectados viajaram à Itália recentemente.
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