Castro lamenta que a polícia do Rio não possa matar com em SP
A segurança pública está bichada em todo país. Mas no Rio de Janeiro o cinismo ganhou status de política de estado. Em entrevista ao Globo, o governador fluminense Cláudio Castro reconheceu que as coisas não funcionam como deveriam. Mas afirmou que a culpa é dos outros. Declarou não ter "nenhuma" responsabilidade pelo aumento da criminalidade.
Para Castro, os culpados são o governo federal, que "faz um trabalho muito ruim no controle de fronteiras"; e o STF, que "trocou a ideia de ostensividade pela 'extraordinariedade' nas operações" policiais em comunidades pobres do Rio. Mencionou também "decisões recentes do CNJ e do STJ", a partir das quais "o cara que é pego com fuzil passou a ser solto em quatro, cinco meses."
A certa altura, Castro lastimou as críticas recebidas pelo colega de São Paulo por conta da violência policial. "O Tarcísio de Freitas passou dois meses apanhando da imprensa por causa de segurança pública. Aumentou a letalidade policial, porque ele não tem uma ADPF [do Supremo], como aqui. Minha avaliação da conduta dele é positiva."
Perguntou-se ao governador do Rio se concorda com a tese segundo a qual a redução de alguns índices de criminalidade em São Paulo ocorreu porque a polícia matou mais. E Castro: "Claro. Tem o efeito colateral, mas é uma forma de reduzir. [...] Não é que a polícia precise matar mais, ela precisa poder fazer o trabalho dela. A consequência acaba sendo aumentar a letalidade, embora não seja o objetivo."
Herdeiro político de Wilson Witzel, um bufão que cultuava a tática do "tiro na cabecinha", política que justificou a execução por policiais de cidadãos que empunhavam um guarda-chuva e uma furadeira, Castro governa um estado que extinguiu a Secretaria de Segurança. Passou a trabalhar com duas, a Militar e a Civil, cujo comando é definido no balcão da Assembleia Legislativa.
Castro patrocinou a divisão das polícias num estado em que a milícia se une ao tráfico na infiltração do aparato de segurança. Mas a culpa é dos outros, que não fazem o seu trabalho e ainda impedem a polícia do Rio de "fazer o trabalho dela", que inclui o "efeito colateral" de "matar mais", embora esse "não seja o objetivo."
Retorne-se, por oportuno, ao princípio de tudo: A segurança pública está bichada em todo país. Mas o cinismo ganhou status de política de estado no Rio de Janeiro. Não é sem motivo que o Rio ocupa a terceira colocação no ranking dos estados com a maior taxa proporcional de mortes pelas polícias, atrás apenas de Amapá e Bahia.
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