A guerra de versões aberta pela operação da PF na residência do governador Witzel
Operação, que investiga gastos do governo fluminense com o combate à pandemia do coronavírus, acirrou questionamentos sobre possível interferência de Jair Bolsonaro na corporação.
A operação da Polícia Federal nesta terça-feira (26/05) na residência oficial do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), ampliou os questionamentos a respeito de uma possível interferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na corporação.
Na operação, que investiga um suposto esquema de corrupção associado a gastos públicos no combate ao coronavírus, foram apreendidos o celular e o computador do governador - hoje um dos principais adversários políticos de Bolsonaro.
A iniciativa ocorreu a pedido do Ministério Público Federal (MPF), que disse à Justiça considerar haver "provável envolvimento da cúpula do Poder Executivo fluminense" em suspostos desvios no campo da saúde.
Segundo os procuradores, "há prova robusta de fraudes" em contratos entre o governo do Rio e empresas escolhidas para montar hospitais de campanha para atender pacientes de covid-19.
A operação foi autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e integra um inquérito aberto em 13 de maio, baseado em investigações de órgãos estaduais do Rio.
Os mandados de apreensão foram solicitados na semana passada.
Os policiais também foram à antiga casa do governador e ao escritório de sua mulher, a advogada Helena Witzel.
Suspeitas de 'vazamento'
Questionado nesta terça-feira sobre a operação quando deixava o Palácio da Alvorada, Bolsonaro a elogiou. "Parabéns à Polícia Federal", disse o presidente.
A operação gerou uma troca de acusações entre Witzel e deputados ligados a Bolsonaro, e acirrou controvérsias iniciadas com o pedido de demissão do então ministro da Justiça, Sérgio Moro, em abril.
Ao deixar o governo, Moro acusou Bolsonaro de pressioná-lo para substituir o diretor-geral da PF e o superintendente da corporação no Rio.
Segundo Moro, Bolsonaro jamais apresentou justificativas razoáveis para as substituições dos profissionais, que foram efetivadas após a saída do ministro.
O novo superintendente da Polícia Federal no Rio, Tácio Muzzi, foi nomeado na segunda-feira (25/05), um dia antes da operação contra Witzel.
Em nota sobre a operação enviada à imprensa, o governador do Rio disse que, na véspera da iniciativa, deputados bolsonaristas revelaram em suas redes sociais que Witzel seria alvo de uma ação da Polícia Federal - o que, segundo o governador, "demonstra limpidamente que houve vazamento, com a construção de uma narrativa que jamais se confirmará".
"A interferência anunciada pelo presidente da República (na PF) está devidamente oficializada", disse Witzel, que negou participação em qualquer irregularidade e se disse à disposição da Justiça para que os fatos sejam apurados.
'Alguns governadores'
Na segunda-feira, uma deputada federal ligada a Bolsonaro de fato se manifestou sobre ações da PF que estariam prestes a ocorrer, embora não tenha mencionado Witzel diretamente.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), disse que "alguns governadores" estavam sendo investigados pela PF.
"A gente já teve algumas operações da PF que estavam na agulha para sair, mas não saíam. A gente deve ter nos próximos meses o que a gente vai chamar de 'covidão' ou não sei qual vai ser o nome que eles vão dar", afirmou Zambelli.
Questionada na terça-feira se ela havia sido avisada da operação contra Witzel com antecedência, ela negou.
"Eu não sabia, eu não tinha conhecimento. Falei como cidadã, como deputada, como alguém que observa o que está acontecendo no nosso país, que sabe que corrupção é endêmica no nosso país", afirmou Zambelli à emissora CNN.
Na entrevista, Zambelli criticou Witzel por ter rompido com o presidente após apoiá-lo durante a eleição.
"É melhor o senhor começar a procurar bons advogados para que não vá para a cadeia", afirmou.
Suspeita sobre mulher de Witzel
A decisão judicial que autorizou a operação desta terça-feira menciona transações suspeitas envolvendo a mulher de Witzel.
Investigadores tiveram acesso a um contrato de prestação de serviços e transferências bancárias entre a empresa DPAD Serviços Diagnósticos, do empresário Mário Peixoto, e o escritório de advocacia da primeira-dama.
Preso há dez dias pela Polícia Federal em investigação no âmbito da Operação Lava Jato que apura laços do empresário com a gestão do ex-governador Sérgio Cabral, Peixoto também participou de contratações emergenciais acerca da pandemia.
A Polícia Federal deverá ouvir a primeira-dama e o governador do Rio nas próximas semanas.
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