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Vacina contra o coronavírus: a verdade sobre os boatos de DNA alterado, microchips implantados e efeitos colaterais

Flora Carmichael - BBC Reality Check

20/11/2020 08h52

Ao mesmo tempo em que são divulgadas notícias animadoras sobre resultados de eficácia de vacinas contra o coronavírus, ocorre uma onda de divulgação de informações falsas na internet.

A divulgação de resultados de testes de vacinas que impediram mais de 90% das pessoas analisadas de contraírem covid-19 levou a uma onda de compartilhamentos de rumores antivacina nas redes sociais.

Parte das informações falsas esteve focada na vacina BNT162 (Pfizer/BioNTech), que tem como um de seus diferenciais o fato de que é baseada em RNA.

Nos últimos dias, a comunidade científica recebeu com grande entusiasmo a notícia de que a vacina atingiu 95% de eficácia, não causou efeitos colaterais preocupantes e ainda foi capaz de oferecer uma boa proteção para pessoas com mais de 65 anos e de diferentes raças e etnias.

Também houve outras candidatas à vacina com novos resultados divulgados recentemente, como a do laboratório Moderna, que também garantiu que o seu imunizante possui uma taxa de eficácia de quase 95%.

A equipe de checagem de fatos da BBC (Reality Check) examinou algumas das falsas alegações mais amplamente compartilhadas: sobre supostos planos para colocar microchips em pessoas através da aplicação da injeção, a suposta mudança de nosso código genético e sobre segurança em geral das vacinas.

Bill Gates e alegações sobre microchip

O nome de Bill Gates foi amplamente compartilhado no Twitter após anúncios de resultados de vacina. O bilionário fundador da Microsoft foi objeto de muitos falsos rumores durante a pandemia. Ele virou alvo devido a seu trabalho filantrópico em saúde pública e desenvolvimento de vacinas.

Uma das alegações mais compartilhadas (e que está circulando desde o início deste ano) é que a pandemia do coronavírus é uma cobertura para um plano de implantar microchips rastreáveis ??em pessoas e que Gates está por trás de tudo.

Os rumores surgiram em março, quando Gates mencionou em uma entrevista que "teremos alguns certificados digitais" que seriam usados ??para mostrar quem se recuperou, foi testado e, finalmente, quem recebeu a vacina. Ele não fez menção a microchips.

Essa resposta levou a um artigo amplamente compartilhado, com o título: "Bill Gates usará implantes de microchip para combater o coronavírus".

O artigo faz referência a um estudo, financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates, sobre uma tecnologia que poderia armazenar os registros da vacina de alguém em uma tinta especial administrada ao mesmo tempo que uma injeção.

No entanto, a tecnologia não é um microchip e é mais parecida com uma tatuagem invisível. Ela ainda não foi implementado, não permitiria que pessoas fossem rastreadas e informações pessoais não seriam inseridas em um banco de dados, diz Ana Jaklenec, uma cientista envolvida no estudo.

A Fundação Bill e Melinda Gates disse que "a referência a 'certificados digitais' está relacionada aos esforços para criar uma plataforma digital de código aberto com o objetivo de expandir o acesso a testes domésticos seguros."

Assim, não há evidência para basear afirmações de que existe um plano de implantar microchips rastreáveis e a Fundação Bill e Melinda Gates disse à BBC que essas alegações são totalmente falsas.

Apesar da falta de evidências, uma pesquisa de maio do YouGov com 1.640 pessoas sugeriu que 28% dos habitantes dos EUA acreditavam que Gates queria usar vacinas para implantar microchips nas pessoas (com uma parcela ainda maior, de 44%, entre republicanos).

Alegações de 'DNA alterado'

Uma correspondente da Casa Branca para um site pró-Donald Trump, Newsmax, disse a seus 264 mil seguidores no Twitter para "tomarem cuidado" com a vacina Pfizer/BioNTech. Emerald Robinson afirmou no Tweet que ela "interfere no seu DNA."

O medo de que uma vacina mude de alguma forma o DNA é outra alegação que vimos em várias postagens no Facebook.

A BBC perguntou a três cientistas independentes sobre isso. Eles disseram que a vacina contra o coronavírus não alteraria o DNA humano.

As pessoas que divulgam essas afirmações têm um mal-entendido fundamental sobre genética.

Um dos maiores diferenciais da vacina BNT162 (Pfizer e BioNTech) está no fato de que ela é baseada em RNA.

"Injetar RNA em uma pessoa não faz nada com o DNA de uma célula humana", disse o professor Jeffrey Almond, da Universidade de Oxford.

O porta-voz da Pfizer, Andrew Widger, disse que a vacina da empresa "não altera a sequência de DNA de um corpo humano. Ela apenas apresenta ao corpo as instruções para construir imunidade".

Esta não é a primeira vez que examinamos as alegações de que uma vacina contra o coronavírus alteraria o DNA. Investigamos um vídeo popular divulgando a teoria em maio.

Parte do mal-entendido parece resultar do tipo de vacina que está sendo desenvolvida.

A vacina Pfizer/BioNTech usa a tecnologia de RNA mensageiro, ou "mRNA".

Esse produto contém uma pequena sequência genética criada em laboratório que "ensina" as próprias células do corpo humano a produzirem proteínas parecidas com o Sars-CoV-2. A partir daí, o sistema imune reconhece a ameaça e cria uma resposta que protege o organismo de uma futura infecção.

O tuíte de Robinson incluiu a afirmação de que a tecnologia da vacina de mRNA "nunca foi testada ou aprovada antes".

É verdade que nenhuma vacina de mRNA foi aprovada antes, mas vários estudos de vacinas de mRNA em humanos foram realizados nos últimos anos.

Almond diz que a vacina Pfizer/BioNTech é a primeira a mostrar a eficácia que seria necessária para conseguir licenciamento.

Só porque é uma nova tecnologia, diz ele, "não significa que devamos ter medo dela".

As novas vacinas passam por verificações de segurança rigorosas antes de serem recomendadas para uso generalizado.

Nos ensaios clínicos de Fase 1 e Fase 2, as vacinas são testadas em um pequeno número de voluntários para verificar se são seguras e determinar a dose certa. Nos testes de Fase 3, são testadas em milhares de pessoas para verificar se são eficazes. O grupo que recebeu a vacina e um grupo de controle que recebeu o placebo são monitorados de perto para quaisquer reações adversas (efeitos colaterais). O monitoramento de segurança continua mesmo depois que uma vacina é licenciada.

Claire Wardle, autora de um relatório recente sobre os mitos a respeito de vacinas nas redes sociais, diz que há um "déficit de dados" em torno de tópicos como a tecnologia de mRNA. Ou seja, é uma situação em que há alta demanda por informações, mas há pouca oferta de informações confiáveis.

"Isso deixa as pessoas vulneráveis ??à desinformação, que se apressa em preencher a lacuna", disse Wardle, diretora executiva da organização sem fins lucrativos anti-desinformação First Draft.

"Enquanto as informações confiáveis ??lutam para atender à demanda, contas individuais não confiáveis ??e meios de comunicação alternativos conseguem diminuir a confiança nas vacinas", diz ela.

Efeitos colaterais

Outra afirmação no tuíte de Robinson estava entre os principais temas antivacina compartilhados nos últimos dias.

Ela afirmou que 75% dos voluntários do ensaio da vacina experimentaram efeitos colaterais. Mas a Pfizer e a BioNTech não relataram nenhuma preocupação séria de segurança em seu estudo.

Muitas vacinas têm efeitos colaterais. Mas a grande maioria não é tão assustadora quanto os ativistas antivacinas querem que a gente acredite.

"Como todas as vacinas, esta pode causar efeitos colaterais de curta duração, incluindo dor no local da injeção, febre, dores e dores musculares, dor de cabeça e fadiga", disse Penny Ward, professora visitante de medicina farmacêutica no King's College London.

Ward apontou que esses tipos de efeitos colaterais também são sentidos por um grande número de pessoas que recebem a vacinação anual contra a gripe. Os efeitos colaterais são geralmente leves, desaparecem após alguns dias, no máximo, e podem ser aliviados com paracetamol ou ibuprofeno.

Não está claro de onde Robinson obteve o número de 75%, mas pode ter sido escolhido seletivamente a partir da taxa de efeitos colaterais leves relatados em uma faixa etária em uma fase anterior do estudo.

Dados completos sobre os efeitos colaterais ainda não foram publicados para a fase mais recente do estudo, mas a Pfizer confirmou que eles não observaram efeitos colaterais graves.

A BBC contatou Emerald Robinson para comentar, e ela manteve suas afirmações.

Reportagem adicional de Kris Bramwell, Jack Goodman, Olga Robinson e Marianna Spring


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