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Rússia x Ucrânia: o que é um ataque de bandeira falsa e quando ele foi usado na história

O conflito no leste da Ucrânia se intensificou, com vários incidentes suspeitos Imagem: Reuters

22/02/2022 08h40Atualizada em 22/02/2022 08h52

À medida que o conflito no leste da Ucrânia se intensifica, a Grã-Bretanha e os EUA suspeitam que a Rússia esteja planejando ataques de "bandeira falsa" com o objetivo de criar um pretexto para uma invasão.

Separatistas apoiados pela Rússia já acusaram os militares da Ucrânia de uma série de ataques altamente duvidosos, e agora estão pedindo que os civis saiam das áreas ocupadas.

O que é uma bandeira falsa?

Uma operação de bandeira falsa é uma ação política ou militar realizada com a intenção de culpar um oponente pelo ocorrido.

No passado, algumas nações fizeram isso por meio de encenações de um ataque real e culpando o inimigo logo na sequência, como pretexto para ir à guerra.

O termo foi usado pela primeira vez no século 16 para descrever como os piratas hasteavam a bandeira de uma nação amiga para enganar os navios mercantes, que se aproximavam da embarcação sem saber que corriam risco.

Como você vai ver a seguir, os ataques de bandeira falsa têm uma longa história.

Invasão alemã da Polônia, 1939

Na noite anterior à invasão da Polônia pela Alemanha, sete soldados alemães da SS (organização paramilitar ligada ao Partido Nazista) fingiram ser poloneses e invadiram a torre de rádio da cidade Gleiwitz, no lado alemão da fronteira.

Eles transmitiram uma mensagem curta para dizer que a estação estava agora em mãos polonesas.

A torre de rádio Gleiwitz foi invadida por tropas da SS disfarçadas em 1939 Imagem: NurPhoto via Getty Images

Os soldados também deixaram para trás o corpo de um civil, vestido como um soldado polonês, para fazer parecer que ele havia sido morto no ataque.

Adolf Hitler fez um discurso no dia seguinte citando o ataque de Gleiwitz e outros incidentes orquestrados de forma semelhante para justificar a invasão da Polônia.

Eclosão da Guerra Russo-Finlandesa, 1939

Naquele mesmo ano, a vila russa de Mainila ficou sob fogo de artilharia. Ela ficava perto da fronteira e a União Soviética usou o suposto ataque para quebrar seu pacto de não agressão com a Finlândia, dando início à chamada Guerra de Inverno.

Passadas algumas décadas, os historiadores concluíram que o bombardeio da vila não foi realizado pelo exército finlandês, mas foi um ataque realizado pela própria agência de segurança estatal soviética NKVD.

Boris Yeltsin, o primeiro presidente da Federação Russa, admitiu em 1994 que o conflito foi uma guerra criada pelos soviéticos.

Incidente no Golfo de Tonkin, 1964

A data de 2 de agosto de 1964 ficou marcada por uma batalha naval entre um destróier norte-americano e torpedeiros norte-vietnamitas no Golfo de Tonkin, na costa do Vietnã.

Os dois lados sofreram danos em seus navios e baixas nas tripulações.

À época, a Agência de Segurança Nacional dos EUA afirmou que, dois dias depois da batalha, outro conflito semelhante aconteceu.

É provável, no entanto, que o segundo ataque dos norte-vietnamitas nunca tenha acontecido.

O capitão de um destróier naval dos EUA informou inicialmente que estava sendo cercado e alvejado por torpedeiros inimigos. Mas, depois, ele disse que, devido ao mau tempo e à baixa visibilidade, ele não tinha certeza de que estava realmente sob risco.

Documentos que perderam a confidencialidade em 2005 sugerem que a marinha norte-vietnamita não estava atacando o navio dos EUA naquela data. O objetivo era salvar dois dos barcos danificados na batalha anterior, de 2 de agosto.

No entanto, o então presidente americano Lyndon B. Johnson e sua equipe decidiram acreditar na versão inicial dos eventos e apresentaram os incidentes ao Congresso como dois ataques não provocados às forças dos EUA pelo Vietnã do Norte.

Isso levou à Resolução do Golfo de Tonkin, que permitiu que o presidente Johnson iniciasse bombardeios no Vietnã do Norte e aumentasse muito o envolvimento militar dos EUA na Guerra do Vietnã.

'Homenzinhos verdes' na Crimeia, 2014

Nos primeiros dias da anexação da Crimeia pela Rússia, começaram a aparecer nas ruas pessoas vestidas e armadas exatamente como soldados russos, mas sem a insígnia do país nos uniformes.

O Kremlin insistiu que eram membros de "grupos de autodefesa" locais que queriam a devolução do território, antes sob domínio da Ucrânia, à Rússia.

Os 'homenzinhos verdes' da Crimeia não usavam identificação, mas seus uniformes e armas eram russos Imagem: Reuters

Representantes do governo russo ainda disseram que eles compraram as roupas e os equipamentos em lojas.

Jornalistas russos passaram a chamar essas pessoas de "homens educados", enquanto os moradores locais da Crimeia preferiram o termo "homenzinhos verdes", numa dupla referência à cor dos uniformes e à origem não confirmada deles.

Fronteira da Caxemira, 2020

A Índia e o Paquistão frequentemente se acusam mutuamente de realizar ataques de bandeira falsa ao longo da disputada fronteira da Caxemira para provocar um conflito militar.

Em 2020, o Ministério das Relações Exteriores do Paquistão acusou tropas indianas de atirar em um veículo que continha observadores da ONU (Organização das Nações Unidas) no lado paquistanês da fronteira, considerando que a ONU poderia pensar que as tropas paquistanesas eram as responsáveis pelo ataque.

Índia e Paquistão frequentemente se acusam de ataques de bandeira falsa na fronteira da Caxemira Imagem: NurPhoto via Getty Images

Os representantes do governo paquistanês disseram que a Índia estava tentando semear a discórdia entre o país e a comunidade internacional. O primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, chegou a classificar a medida como "imprudente".

A Índia negou a acusação e, por sua vez, culpou o Paquistão por não manter seu próprio lado da fronteira seguro.

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