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Ucrânia cogita romper relações com a Rússia, que critica: 'Indesejável'

Colaboração para o UOL, em São Paulo *

22/02/2022 07h57Atualizada em 22/02/2022 11h27

A Ucrânia está avaliando a possibilidade de cortar relações diplomáticas com a Rússia, disse hoje o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em entrevista coletiva.

"Recebi um pedido do Ministério das Relações Exteriores a respeito e estou examinando a possibilidade", disse Zelensky em entrevista coletiva concedida na manhã de hoje.

A Rússia, porém, manifestou contrariedade com a possibilidade de a Ucrânia adotar a ação, dizendo que um cenário sem relações diplomáticas entre os dois países é "extremamente indesejável".

"O rompimento das relações diplomáticas seria um cenário extremamente indesejável, o que só tornaria tudo ainda mais difícil não só para os estados, mas também para seus povos", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em registro da agência russa de notícias TASS.

Segundo o chefe de Estado ucraniano, a medida poderá ser tomada devido ao fato de a Rússia ter reconhecido a independência de duas regiões da Ucrânia, abrindo espaço para um avanço de soldados russos para dentro do país vizinho.

O presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu ontem a independência da República Popular de Donetsk e da República Popular de Lugansk, ambas no leste da Ucrânia.

O leste do país está em guerra desde 2014, quando, após a derrubada de um presidente pró-Moscou do poder em Kiev, ocorreu a anexação da península ucraniana da Crimeia pelos russos e, em seguida, o início dos conflitos entre separatistas pró-Russia e as forças militares da Ucrânia.

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Imagem: UOL

Horas após o reconhecimento de independência, Putin deu ordens para soldados russos adentrarem o território das duas repúblicas reconhecidas por Moscou, com a justificativa de estar apoiando Estados aliados com uma "missão de manutenção de paz".

Ainda não há detalhes sobre o contingente de soldados russos que estão sendo enviados para a região, mas países ocidentais estimam que há cerca de 150 mil soldados ao longo da fronteira Rússia-Ucrânia.

Por causa da manobra de Putin, Zelensky cobrou respostas dos países ocidentais contra a Rússia, principalmente por meio de sanções contra o país eurasiático, antes que os russos avancem ainda mais e iniciem um conflito em território ucraniano.

"Essas sanções devem incluir a interrupção total do Nord Stream 2", afirmou, citando o gasoduto que, sem passar pela Ucrânia, liga a Rússia à Alemanha, mas que, por pressões geopolíticas e econômicas, ainda não entrou em operação.

A demanda de Zelensky sobre o Nord Stream 2 foi prontamente atendida pela Alemanha, que, nesta manhã, por meio do chanceler Olaf Scholz, anunciou a suspensão da autorização concedida pelo governo para o gasoduto operar.

Na Europa, ministros das Relações Exteriores de países da UE (União Europeia), bloco aliado da Ucrânia, se reunirão na tarde de hoje para avaliar a aplicação — ou não — de sanções contra a Rússia.

O Reino Unido anunciou hoje medidas contra cinco bancos e três oligarcas russos, e os Estados Unidos impuseram ontem sanções contra as áreas das repúblicas, cerceando as relações comerciais entre as regiões e os EUA, mas não contra a Rússia diretamente.

  • Veja as últimas da crise com Rússia e Ucrânia, análises de Joel Pinheiro e Leonardo Sakamoto e mais notícias no UOL News com Fabíola Cidral:

Contexto da crise

A crise é motivada pelo fato de os russos temerem que um avanço dos limites da Otan (Organização do Tratado Atlântico Norte) em direção à Ucrânia, algo desejado pelo bloco, comprometa a segurança nacional da Rússia, tendo em vista que ambos os países são vizinhos.

Além do mais, parte da Ucrânia, principalmente no leste do país, justamente onde as tensões são maiores, fala russo, e muitos ucranianos inclusive se consideram como parte do povo russo, posição que é endossada por Moscou.

Integram a Otan, além dos EUA, a Alemanha, o Reino Unido e a França, entre outros. Formada pós-Segunda Guerra Mundial e no contexto da Guerra Fria, o grupo tem como base a premissa de que, caso algum membro seja atacado militarmente, todos se unirão em resposta.

Porém, a Rússia é ressabiada em relação à premissa de a Otan ser apenas um bloco reativo, já que o grupo está se movendo cada vez mais ao leste, algo visto por Moscou como um movimento para fazer os russos cederem às pressões ocidentais.

* Com informações da AFP e da Reuters, em Kiev (Ucrânia)