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Red, o novo filme da Pixar que rompe tabu da menstruação: 'Todas temos, vamos celebrar isso'

14/03/2022 20h12

O desenho, que acaba de estrear na plataforma de streaming Disney Plus, aborda de forma delicada chegada da puberdade, tema que não surge com frequência em filmes de família.

"Todas as garotas menstruam. Então, vamos normalizar e comemorar!", diz a atriz Sandra Oh, que faz a voz de uma personagem do novo filme da Pixar, Red - Crescer é uma fera, uma animação que fala sobre vergonha, grandes emoções e, sim, a menstruação.

Conhecida pelas séries Killing Eve e Grey's Anatomy, Oh dubla Ming, a mãe de Mei, uma menina sino-canadense de 13 anos que é a personagem principal. A animação estreou em 11 de março na plataforma de streaming Disney Plus.

"Fiquei muito feliz que houvesse um filme sobre isso", diz Oh à BBC. "É um assunto sobre o qual não se fala o suficiente, então fazer parte de um filme que fala sobre puberdade é importante para mim."

A personagem principal, Mei, é inteligente, extrovertida e se dá bem com seus pais, um casal feliz.

A diretora Domee Shi e a dramaturga Julia Cho, corroteiristas do filme, se inspiraram em suas próprias infâncias para criar uma heroína reconhecível e original.

Mei lida muito bem com a pré-adolescência, até que a onda de hormônios a atinge.

De menina a panda

A corrida hormonal pode nos fazer perder o rumo em algum momento, mas, para o filme infantil, as autoras criaram uma grande metáfora em Mei: sempre que ela se sente sobrecarregada ou algo a deixa desconfortável, ela se transforma em um panda vermelho gigante, uma versão fofa do Incrível Hulk.

Uma manhã, Mei acorda e percebe que se tornou um panda. Ela fica irritada com essa transformação repentina e se esconde no banheiro, um pouco enojada com os novos pêlos no corpo e o cheiro das suas axilas.

Essa metáfora direta tenta mostrar o que as mulheres jovens enfrentam quando chegam as grandes mudanças físicas e mentais que a puberdade acarreta.

Depois de um tempo, sua mãe lhe faz uma pergunta sutil: "A peônia vermelha floresceu?". A delicadeza termina quando Ming entra no banheiro com uma pilha de absorventes higiênicos e analgésicos.

Rosalie Chang, que interpreta Mei, tinha 12 anos quando começou a gravar e atualmente tem 16. "Passei pela puberdade ao longo deste filme", explica.

"O filme não pede desculpas por abordar a puberdade. Não tenta esconder, não tenta fazer piada, apenas fala diretamente. É um assunto realmente tabu, mas todo mundo passa por isso", diz Chang.

A importância de falar sobre a menstruação

A Pixar já explorou as emoções de uma jovem na animação Divertidamente (2015) e as tensões entre mãe e filha em Valente (2012), mas Red é a primeira incursão no tema da puberdade - um tema que não surge com muita frequência em filmes de família.

A diretora, Domee Shi, diz que a ideia de falar da menstruação e do constrangimento que as meninas podem sentir estava na cabeça dela "desde o início". O filme trata do tema com delicadeza e mostra como Mei se sente constrangida principalmente com a reação da mãe.

Shi, que ganhou o Oscar de curta de animação por Bao (2018), coescreveu Red com Julia Cho.

A produtora Lindsey Collins diz que elas avaliaram a recepção do filme nas primeiras projeções que fizeram para outros colegas da Pixar. "Foi uma mistura de risos e choque - a melhor resposta que pudemos obter", diz ela.

Carolyn Danckaert, fundadora do site A Mighty Girl, que tem conselhos para meninas e pais sobre menstruação, diz à BBC que muitos pais "têm dificuldades para iniciar conversas com seus filhos sobre tópicos como puberdade e menstruação, algo que os pré-adolescentes geralmente acham embaraçoso."

"No entanto, quando eles assistem a um filme juntos, eles podem usar a experiência do personagem como uma oportunidade para abordar essas questões com um pouco de distância emocional, o que pode deixar as crianças mais à vontade", diz ela.

Emma Thompson O'Dowd, especialista em saúde e bem-estar da instituição de caridade global para crianças Plan International UK, chama a inclusão da menstruação no filme de "maravilhosa".

Sua pesquisa sugere que, "quando as meninas começam a menstruar, mais de dois quintos se sentem ansiosas e um terço se sente envergonhada".

"Todas as crianças, mas especialmente as meninas, precisam aprender que a menstruação é uma parte saudável e normal da vida. Filmes como Red ajudam a quebrar tabus e criar oportunidades para conversas abertas e honestas."

Um marco da animação

Este filme também se destaca como o primeiro filme da Pixar dirigido exclusivamente por uma mulher, com uma equipe principal e um elenco principal femininos.

A Pixar, que foi comprada pela Disney em 2006, ganhou vários prêmios, incluindo 18 Oscars.

Collins diz que a equipe feminina se sentiu muito apoiada pelos executivos, que não se intimidaram com o tema do filme. Ela acrescenta que a equipe ser feminina "nos deu permissão para sermos ousados".

Red também faz parte do fenômeno de popularidade dos filmes e programas de TV dirigidos por asiáticos. Além da popularidade, é uma questão de visibilidade.

A diretora do filme, que é sino-canadense, fala sobre a importância da representatividade. "Eu não sentia que havia muita representatividade para mim e minha família quando era pequena, eu não via meu reflexo na mídia", diz.

Sandra Oh, que é asiática-canadense-americana, disse à revista Elle Canadá em 2020 que está "especialmente interessada em papéis que exploram a raça de um personagem".

"Este é exatamente o projeto que eu estava procurando", diz ela sobre Red, feliz por agora haver "mais oportunidades de contar histórias que eu não poderia contar no início da minha carreira".

Relacionamento mãe e filha

A animação também fala sobre mães e filhas de todas as gerações da família de Mei.

Ming quer que sua filha honre suas tradições trabalhando no templo da família e ressente o desejo de Mei de ser uma adolescente típica.

Oh descreve Ming como uma mãe "amorosa e hipervigilante". "Não conheço ninguém que não tenha um relacionamento complicado com a mãe", diz ela. "É amor, mas também pode ser difícil."

Shi acrescenta que havia muitas pessoas na equipe que têm ascendência asiática ou migrantes com "histórias semelhantes, que sentiam essa pressão e tensão com suas mães e pais".

"Foi muito importante para nós contar essa história cheia de nuances", diz ela.

"Mei realmente ama sua mãe e quer ser uma boa filha, mas ela está crescendo em um mundo muito diferente do mundo de seus pais."


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