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7 de Setembro: em Copacabana, Bolsonaro volta a atacar Lula na comemoração do bicentenário da Independência

07/09/2022 17h29

Presidente repetiu temas de discurso feito mais cedo na Esplanada dos Ministérios em Brasília e disse que esquerda deveria ser 'extirpada da vida pública'.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a discursar no feriado da independência à tarde, desta vez na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.

Em um discurso que seguiu a linha do realizado na parte da manhã em Brasília, Bolsonaro fez menção ao Supremo Tribunal Federal (STF) e também atacou o candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva.

"Vocês sabem como funciona o Supremo Tribunal Federal", disse Bolsonaro à multidão, que reagiu com vaias.

Afirmou que o Brasil é "referência para o mundo inteiro" e deveria ser comparado com outros países da América do Sul, como Argentina e Venezuela. Ao atacar o adversário petista, disse que "amigos do quadrilheiro querem voltar à cena do crime, mas não conseguirão. Esse tipo de gente tem que ser extirpado da vida pública".

Um pouco antes no discurso, falou a apoiadores: "Não sou muito educado, fala palavrões, mas não sou ladrão".

Bolsonaro também afirmou que esteve com empresários que foram alvo de uma operação da Polícia Federal que teriam defendido um golpe de Estado caso Lula vença eleições presidenciais deste ano.

Ato em São Paulo

Diferentemente do ano passado, o ato de Sete de Setembro na Avenida Paulista, em São Paulo, não contou com a presença de Bolsonaro. Apesar disso, porém, inúmeros apoiadores dele participaram de uma manifestação na avenida, que foi fechada e recebeu trios elétricos.

O ato contou com a presença de nomes como o filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, a deputada federal Carla Zambelli, a ex-secretária de Cultura Regina Duarte, o ex-ministro de Ciência e Tecnologia e atual candidato ao Senado por São Paulo, Marcos Pontes, e o candidato bolsonarista ao governo de São Paulo, Tarcísio Freitas.

Em seu discurso, o filho do presidente repetiu pautas tradicionais do bolsonarismo: ideologia de gênero, contra as drogas, contra a descriminalização do aborto e a favor da "família tradicional". "Chamam a gente de radicais, somos radicais, sim, contra a erotização da família e contra as drogas", afirmou.

De verde e amarelo, os apoiadores do presidente começaram a chegar na região por volta do fim da manhã. Ao longo do dia, enfrentaram chuva em alguns momentos e seguiram no ato até por volta das 17h.

A Secretaria Estadual de Segurança Pública de São Paulo informou à BBC News Brasil que não há dados sobre a quantidade de pessoas que compareceram à manifestação.

No evento, houve discurso antivacina, antidemocrático e contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Diversas faixas de apoiadores do presidente exaltavam a gestão dele e criticavam o ex-presidente Lula, principal adversário dele.

Na rua, os caminhões se dividiram entre várias correntes bolsonaristas, como o Foro Conservador e um veículo dedicado aos partidários da volta da monarquia no Brasil.

O Hino Nacional foi cantado várias vezes, assim como o Pai Nosso. Os manifestantes também criticavam a imprensa e as pesquisas de intenção de voto, que mostram o ex-presidente Lula à frente de Bolsonaro.

A advogada Viviane Scarazzati, 44, levou a filha à manifestação. "A gente é bolsonarista porque é patriota, a gente defende a liberdade, a família, contra o aborto. O Bolsonaro não finge que é bonzinho, ele fala a verdade".

A agente de viagens Débora Meira, 28, levou um berrante para acompanhar a manifestação. "A gente que é do country e do sertanejo é grande apoiador do Bolsonaro, então a gente vem caracterizado para ele saber que tem gente de todos os lugares", diz ela, que mora em Ribeirão Pires (SP).

"É região metropolitana, mas é uma área em que a gente anda bastante de cavalo, gosta bastante de agricultura, essas coisas", afirma.

O ato também foi usado como campanha eleitoral para candidatos de direita, que distribuíram santinhos para pessoas que estavam presentes no ato.

Diversos vendedores ambulantes comercializaram bebidas, comidas, bandeiras e camisas com as cores e o símbolo do Brasil.

Em Brasília

Na capital federal, Bolsonaro adotou tom de campanha em discurso na Esplanada dos Ministérios e conclamou o público a votar em 2 de outubro.

"Vamos todos votar. Vamos convencer aqueles que pensam diferente de nós", disse Bolsonaro, que aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenções de voto, atrás do candidato do PT e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Durante o discurso, Bolsonaro disse que há "uma luta do bem contra o mal", puxou gritos para si mesmo de "imbrochável", sugeriu comparação entre primeira-damas e terminou com um "uivo".

Antes do Dia da Independência, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontaram que o presidente correria risco de cometer crimes eleitorais ao participar de manifestações neste 7 de setembro.

A lei eleitoral veda o uso de bens, recursos e espaços da administração pública para a promoção de candidatos, ou seja, quando um agente público se vale da sua função para beneficiar eleitoralmente a si mesmo ou outro candidato.

Antes de o presidente discursar, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, fez um discurso recheado de menções religiosas.

Antes de participar dos eventos na Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro também disse que "o bem sempre venceu o mal", após citar rupturas e eleição.

"Queria dizer que o Brasil já passou por momentos difíceis, mas por momentos bons, 22 [revolta tenentista], 35 [intentona comunista], 64 [golpe militar], 16 [impeachment de Dilma Rousseff (PT)], 18 [eleição presidencial] e agora, 22. A história pode se repetir, o bem sempre venceu o mal. Estamos aqui porque acreditamos em nosso povo e nosso povo acredita em Deus", disse.

A seguir, veja as 5 frases que marcaram discurso de Bolsonaro em Brasília no 7 de Setembro:

1. 'Vamos todos votar'

Em meio a dúvidas sobre se adotaria tom de campanha em discursos do Dia da Independência, Bolsonaro conclamou o público a votar nas eleições.

"A vontade do povo se fará presente no próximo dia 2 de outubro. Vamos todos votar. Vamos convencer aqueles que pensam diferente de nós, vamos convencê-los do que é melhor para o nosso Brasil", disse.

2. 'Luta do bem contra o mal'

Após dizer que o Brasil estava "à beira do abismo" há poucos anos, Bolsonaro disse que há "uma luta do bem contra o mal".

"O mal que perdurou por 14 anos no nosso país, que quase quebrou nossa pátria e que deseja voltar à cena do crime. Não voltarão, o povo está do lado do bem, o povo sabe o que quer", disse o presidente.

3. Comparação 'entre primeiras-damas'

Em um momento do discurso, o presidente sugere comparações "entre as primeiras-damas", sem citar nomes.

"Podemos fazer várias comparações, até entre as primeiras-damas. Não há o que discutir. Uma mulher de Deus, família e ativa na minha vida. Não é ao meu lado não. Muitas vezes ela está é na minha frente. Tenho falado para os homens solteiros: procurem uma mulher, uma princesa, se case com ela para serem mais felizes ainda", disse, beijando a primeira-dama em seguida.

4. 'Imbrochável, imbrochável'

Depois de beijar a primeira-dama e dizer "obrigada, meu Deus, pela minha segunda vida", Bolsonarou tentou puxar coro de "imbrochável" para si mesmo. Ele repetiu a palavra cinco vezes seguidas.

5. 'Indireta' ao Supremo

O presidente citou o Supremo Tribunal Federal em sua fala após dizer que "é obrigação que todos jogarem dentro das quatro linhas da nossa Constituição" e dizer que "Deus está ajudando chegar até vocês a verdade".

"Hoje todos sabem quem é o Poder Executivo. Hoje todos sabem o que é a Câmara dos Deputados. Todos sabem o que é o Senado Federal. E também todos sabem o que é o Supremo Tribunal Federal", disse.

Houve vaias no público após o presidente mencionar o Supremo.

Uma das principais bandeiras das mobilizações a favor de Bolsonaro é a crítica ao Supremo, devido a decisões de ministros da Corte que contrariam o governo e atingem seus apoiadores, como a liminar que Edson Fachin deu na segunda-feira (5/9) restringindo o número de armas e munições que podem ser obtidas por CACs (caçadores, atiradores e colecionadores), sob a justificativa de conter o risco de violência política na campanha eleitoral.

É o caso também das investigações contra o presidente e seus aliados realizadas sob a jurisdição do ministro Alexandre de Moraes, que em agosto determinou uma operação da Polícia Federal contra oito empresários bolsonaristas suspeitos de apoiar a realização de atos antidemocráticos, o que eles negam.

Atos de natureza político-partidária

Antes do início do desfile, o Ministério Público Federal do Distrito Federal divulgou nota na qual diz ter pedido que o Poder Executivo adote medidas para garantir que "os atos oficiais e o desfile cívico-militar de 7 de setembro não sejam confundidos com atos de natureza político-partidária".

"As medidas foram motivadas diante das manifestações político-partidárias agendadas para o mesmo dia, horário e local do desfile cívico-militar que acontecerá amanhã, 7, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF). Nesse contexto, foram distribuídos convites a servidores civis lotados nos ministérios para que comparecessem ao evento", diz a nota.

O órgão disse que solicitou medidas para garantir "a integridade de militares que atuarão no evento e a ida de servidores civis de forma livre, sem coação".

Tribuna de honra com Luciano Hang

Antes, o empresário Luciano Hang, conhecido como 'Véio da Havan', desfilou ao lado de Bolsonaro no evento oficial de 7 de setembro na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Após caminhar ao lado do presidente, Hang subiu na tribuna de honra e se posicionou do lado esquerdo de Bolsonaro, na primeira fila. Ele apareceu entre Bolsonaro e o presidente português, Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa.

A tribuna de honra é a área em que ficam as autoridades e onde estariam os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), da Câmara e do Senado, que não compareceram ao evento neste ano.

Hang é um dos oito empresários alvos de operação da Polícia Federal em agosto por suspeita de terem defendido um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença as eleições presidenciais deste ano.

A defesa teria sido feita em um grupo privado de mensagens no aplicativo WhatsApp. A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e faz parte do inquérito que apura o funcionamento de milícias digitais.

Segundo o portal Metrópoles, Hang é um dos integrantes do grupo. Nas reportagens publicadas pelo portal, não há menção de que Hang tenha defendido a realização de um golpe caso Lula vença as eleições.

À BBC News Brasil, a assessoria de imprensa de Hang enviou uma nota informando que o empresário estaria "tranquilo" e negando que tenha falado em golpe no grupo de empresários.

"Que eu saiba, no Brasil, ainda não existe crime de pensamento e opinião. Em minhas mensagens em um grupo fechado de WhatsApp está claro que eu nunca, em momento algum falei sobre Golpe ou sobre STF", disse.

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62827489


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