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Sérvia: perfil do país que mira a União Europeia para tentar superar passado de guerras

14/11/2022 07h39

Mercado pelo conflito que caracterizou a dissolução da antiga Iugoslávia nos anos 1990, país europeu se tornou uma república soberana independente somente em 2006.

A Sérvia se tornou uma república soberana independente em 2006, depois que Montenegro decidiu em referendo abandonar a união federativa entre os dois países em maio daquele ano.

O fim da união nos Bálcãs marcou o capítulo final da separação das seis repúblicas da antiga Iugoslávia, proclamada em 1945, que englobava a Sérvia, Montenegro, Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina e Macedônia.

O líder comunista da Iugoslávia, Josip Broz Tito, logrou manter tensões étnicas sob controle, mas estas recrudesceram após a sua morte, em 1980.

Em 1991, quatro repúblicas declaram sua independência: Eslovênia, Macedônia, Croácia e Bósnia. A secessão das duas primeiras foi relativamente pacífica, mas nas duas últimas os conflitos civis foram devastadores.

A guerra travada na Bósnia durante o governo sérvio de Slobodan Milosevic resultou na morte de cerca de 100,000 pessoas, o deslocamento forçado de mais de 2 milhões, e o estupro sistemático de 20 mil a 50 mil mulheres. O episódio mais conhecido foi o massacre de Srebrenica, quando mais de 7 mil prisioneiros bósnios muçulmanos foram sumariamente executados entre 13 e 19 de julho de 1995.

A Sérvia e Montenegro formaram a República Federativa da Iugoslávia entre 1992 e 2003, que se tornou uma união mais frouxa sob o nome de Sérvia e Montenegro entre 2003 e 2006.

Em fevereiro de 2008, a região independentista de Kosovo declarou unilateralmente sua independência da Sérvia, mas muitos países, inclusive o Brasil, ainda não reconheceram a decisão.

FATOS

LÍDERES

Presidente: Aleksandar Vucic

Aleksandar Vucic se tornou presidente da Sérvia ao ser eleito no primeiro turno em abril de 2017, após ter ocupado o cargo de primeiro-ministro do país entre 2014 e 2017. Ele é líder do Partido Progressista da Sérvia (SNS) desde 2012.

Sua plataforma gira em torno de liberalizar a economia, privatizar ativos do Estado e buscar a adesão à União Europeia (UE). Essas ideias se traduzem em medidas como a ênfase no equilíbrio orçamentário, cortes no setor público, privatização de empresas estatais e a expansão do setor privado.

Primeira-ministra: Ana Brnabic

Ana Brnabic é a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra da Sérvia, assim como a primeira mulher abertamente gay a fazê-lo.

Em 2019, ela foi considerada pela revista Forbes como uma das cem mulheres mais influentes do mundo, ocupando a 19ª posição entre as mulheres na política.

Brnabic substituiu Aleksandar Vucic depois que ele assumiu a presidência em 2017. Durante o governo dele, foi ministra da administração pública e do governo autônomo local.

Brnabic é independente - não é filiada a nenhum partido - mas tem dado continuidade às políticas de Vucic, assim como buscado impulsionar a adesão da Sérvia à UE.

MÍDIA

A televisão é a principal fonte de notícias e informação dos sérvios. Existem mais de 90 canais de televisão e o telespectador médio assiste à TV mais de cinco horas por dia, a estatística mais alta da Europa.

Um punhado de emissoras dominam o mercado, entre elas, a principal rede pública, a RTS1. O canal é o mais popular da Sérvia, concentrando até 25% da audiência em determinados eventos. O principal canal privado se chama TV Pink.

Seis emissoras de TV operam nacionalmente e 30 têm licenças regionais. As emissoras de TV nacionais atraem cerca de 70 por cento da audiência.

RELAÇÕES COM O BRASIL

Segundo o Itamaraty, o governo brasileiro reconhece a Sérvia como o sucessor legal da extinta Iugoslávia e da união federativa entre Sérvia e Montenegro.

As relações foram estabelecidas oficialmente com o então Reino da Iugoslávia, em 1938, e continuaram durante o período da antiga República Federativa Socialista da Iugoslávia, sob Tito. Também permaneceram ao longo da união federativa entre Sérvia e Montenegro e, desde 2006, no que se refere apenas à Sérvia.

Brasil e Sérvia mantêm um mecanismo de consultas políticas cuja mais recente reunião foi realizada em 2019, em Brasília. Os dois países também possuem acordos bilaterais e memorandos de entendimento em defesa, polícia e cooperação técnica, além de um acordo de isenção de visto para cidadãos de ambos os países. O ministro do Exterior da Sérvia, Ivica Da?i?, visitou o Brasil em 2019 para a posse do presidente Jair Bolsonaro.

O Brasil não reconheceu a independência unilateral de Kosovo declarada em 2008 e defende que o tema seja resolvido de forma pacífica e negociada sob os auspícios da ONU.

LINHA DO TEMPO

Algumas datas importantes na história da Sérvia:

1389 - Nobreza sérvia é dizimada na batalha do Kosovo Polje contra um império otomano em expansão.

Séculos 15 a 18 - A Sérvia faz parte do império otomano.

1817 - A Sérvia se torna um principado autônomo.

1878 - A independência sérvia é reconhecida em tratados internacionais.

1918 - Na esteira da Primeira Guerra Mundial, forma-se o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos.

1929 - O reino adota o nome de Iugoslávia.

1946 - Sob Josip Broz Tito, a Iugoslávia se torna uma federação composta por seis repúblicas: Sérvia, Croácia, Eslovênia, Macedônia, Bósnia e Montenegro. O país passa a ser a República Socialista Federativa da Iugoslávia, inicialmente mantendo alinhamento com o regime comunista da União Soviética.

1948 - O país rompe com a União Soviética após o líder soviético Josef Stálin ter discordado dos planos expansionistas de Tito que desejava incorporar a Albânia e partes da Grécia.

1980 - Morte de Tito.

1989 - Slobodan Milosevic vira presidente da Sérvia.

1991 - Eslovênia, Macedônia, Croácia e Bósnia declaram independência da Iugoslávia.

1992 - Montenegro e Sérvia formam a República Federativa da Iugoslávia. Tensões étnicas levam a sangrentas disputas com croatas e muçulmanos bósnios. As Nações Unidas impõem sanções.

1995 - Os acordos de Dayton, nos Estados Unidos, põem fim à guerra da Bósnia. Sanções da ONU são suspensas.

1997 - Milosevic se torna presidente da Iugoslávia.

1998-99 - Crise de Kosovo. Repressão sérvia contra os separatistas em Kosovo leva ao deslocamento forçado de milhares de kosovares de origem albanesa, levando a uma intervenção militar da Otan. Milosevic concorda em retirar as forças da região. Kosovo se torna um protetorado da ONU, mas continua a fazer parte da Sérvia.

2002 - Slobodan Milosevic começa a ser julgado por um tribunal de crimes de guerra da ONU. Ele é acusado de genocídio e crimes de guerra.

2006 - Milosevic é encontrado morto na sua cela.

2006 - Montenegro aprova em referendo a sua separação da Sérvia e declara independência.

2008 - Kosovo declara independência unilateral, que não é reconhecida por vários países. Um endosso oficial no âmbito do Conselho de Segurança da ONU é impossibilitado pela Rússia, que tem poder de veto no órgão e é aliada da Sérvia.

2013 - Sérvia e Kosovo assinam um acordo histórico sobre a normalização das relações.

2014 - Início das negociações para adesão da Sérvia à UE.

2016 - Tribunal da ONU para crimes de guerra considera o ex-líder da região sérvia da Bósnia, c, culpado de genocídio e crimes de guerra e o condena 40 anos de prisão.

2018 - Presidente Vucic e o seu homólogo kosovar, Hashim Thaci, se encontram em Bruxelas para negociar a longa disputa em torno da independência de Kosovo, possivelmente através de uma troca de território. A paz entre os vizinhos é uma medida condição para entrada da Sérvia na UE.