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Golpe, contragolpe e a bomba no colo de Bolsonaro

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Após o indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) e mais 36 pessoas nesta quinta-feira (21), o governo Lula começou a desenhar uma estratégia para tentar isolar o bolsonarismo, atraindo políticos que chegaram a orbitar o ex-presidente, mas nunca aderiram ao extremismo do núcleo duro da gestão passada.

O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.

Esse movimento visa a efeitos de curto, médio e longo prazos. O objetivo mais imediato do governo ao tentar isolar o bolsonarismo é conseguir uma melhor posição para articular com o Congresso. Isso passa por negociar emendas e mostrar benefícios que os deputados e senadores obteriam em caso de se aliarem ao Palácio do Planalto.

Em outras palavras, o governo vai tentar priorizar antigos e potenciais aliados com os recursos dos quais ainda dispõe, aproveitando a fragilidade da oposição bolsonarista.

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Conectas pede para ONU investigar morte de criança de 4 anos por PMs em SP

Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, morreu ao ser atingido por um tiro em meio a uma operação policial em Santos
Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, morreu ao ser atingido por um tiro em meio a uma operação policial em Santos Imagem: Arquivo pessoal

A organização brasileira de direitos humanos Conectas encaminhou pedidos de investigação às Nações Unidas (ONU) sobre operação da Polícia Militar do governo de São Paulo que resultou no assassinato de Ryan da Silva Andrade Santos, uma criança de 4 anos, e de Gregory Ribeiro Vasconcelos, adolescente de 17 anos.

Os tiros que resultaram nas mortes partiram de armas de PMs, segundo o porta-voz da corporação. A operação foi realizada em 5 de novembro de 2024, em Morro de São Bento, Santos (SP). Os policiais não portavam câmeras corporais e chegaram ao local em veículos descaracterizados, não em viaturas policiais.

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Os pedidos da Conectas foram encaminhados a vários relatores especiais das Nações Unidas: Morris Tidball-Binz (sobre execuções arbitrárias), Akua Kuenyehia (justiça racial) e K.P. Ashwini (racismo contemporâneo). Veja a íntegra do pedido aqui.

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'Kids pretos' pediram código malicioso contra urnas ao hacker de Araraquara

Walter Delgatti Neto em depoimento à CPMI dos ataques de 8 de janeiro
Walter Delgatti Neto em depoimento à CPMI dos ataques de 8 de janeiro Imagem: Reprodução/YouTube/Câmara dos Deputados

Único general preso fora de um quartel, Mario Fernandes confirma em suas mensagens de áudio que o chamado "hacker de Araraquara" manteve contato com militares de alta patente do MD (Ministério da Defesa) para ajudar a desacreditar as urnas eletrônicas.

O relatório final da Polícia Federal mostra que, mesmo sabendo que não houve fraude nas urnas, os golpistas insistiram em manter a versão da fraude.

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A busca da ajuda do hacker, dentro da cronologia do golpe, reforça a participação direta de Jair Bolsonaro e de seus auxiliares mais próximos na tentativa de desacreditar as urnas eletrônicas e o processo eleitoral.

Em mensagem ao coronel Marcelo Câmara transcrita pela PF, o general Fernandes diz ter se reunido com Walter Delgatti Neto e o general Vergara, que à época chefiava a Comunicação do MD.

Fernandes era secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência, e Câmara era chefe do serviço de espionagem paralelo de Bolsonaro, um de seus mais próximos auxiliares.

Tanto Fernandes quanto Câmara são "kids pretos", como se autointitulam os oficiais que se formaram no curso de Forças Especiais, o mais difícil e prestigioso do Exército.

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General sai da vida militar para entrar na história, pela cadeia

O general da reserva Mario Fernandes, em foto de 2022
O general da reserva Mario Fernandes, em foto de 2022 Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O general Mario Fernandes garantiu seu lugar nos livros de história do Brasil. É o primeiro de sua patente, a mais alta do Exército, a ser detido fora de um quartel das Forças Armadas. Ele foi preso por ordem do Supremo Tribunal Federal e indiciado pela Polícia Federal por crimes contra a República:

  • Abolição violenta do Estado Democrático de Direito: tentativa de, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais;
  • Golpe de Estado: tentativa de depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído;
  • Associação criminosa: associação de três ou mais pessoas para a prática de crimes.

O general Mario Fernandes se esforçou para conseguir esse reconhecimento histórico. Conspirou durante meses desde o quarto andar do Palácio do Planalto, de onde comandava interinamente a Secretaria Geral da Presidência, para cometer tais crimes. Conspirou porque os cometeu com outros militares formados pelo curso das Forças Especiais, o mais prestigioso do Exército - e, sabe-se agora, o ninho de onde saiu a maioria dos golpistas.

Às 17h09 do dia 9 de novembro de 2022, o "general Mario" - como era identificado na farda - imprimiu, usando o próprio nome de usuário na rede do Presidência ("mariof"), o planejamento detalhado do golpe em uma impressora do palácio. Batizou-o "Punhal Verde e Amarelo". O nome é adequado aos seus objetivos: elenca formas de assassinar os então presidente e vice eleitos, Lula e Geraldo Alckmin, com uso de veneno, tiro ou bomba.

O "punhal" do título é uma referência ao distintivo das Forças Especiais do Exército, no qual se destacam um punhal e uma luva. A simbologia foi explicada por outro general, Ridauto (ele também um "kid preto", como se autointitulam os membros das Forças Especiais), em entrevista a um podcast na véspera do primeiro turno de 2022: em vez de mão, a luva segura o punhal porque as Forças Especiais são treinadas para manipular terceiros, em geral, civis, para fazerem o serviço sujo da "guerra irregular".

O general Mario não imprimiu o plano de assassinato apenas uma vez. Foram duas, sempre usando impressora oficial do Palácio do Planalto. Na segunda vez, em 6 de dezembro de 2022, não era apenas Jair Bolsonaro que estava no prédio. O celular de outro "kid preto", o então major Rafael Martins de Oliveira foi usado nas cercanias do palácio, após sair de carro de Goiânia, sede da principal base operacional das Forças Especiais.

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Nos dias seguintes, o plano de golpe seria colocado em execução.

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Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h. O Canal UOL está disponível na Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64) e no UOL Play.

Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.