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Viúva de líder da ex-Alemanha Oriental quebra silêncio

Margot Honecker, viúva do ex-líder da Alemanha Oriental Erich Honecker ainda defende o comunismo daquela época - NDR TV/EFE
Margot Honecker, viúva do ex-líder da Alemanha Oriental Erich Honecker ainda defende o comunismo daquela época Imagem: NDR TV/EFE

Bernd Gräßler

04/04/2012 15h58

Após anos sem dar entrevistas, Margot Honecker, viúva do ex-líder da RDA Erich Honecker fala à televisão. Mais de 20 anos após o fim da Alemanha Oriental, ela continua a defender o Estado comunista.

Durante anos, jornalistas viajaram até o Chile, onde a alemã Margot Honecker vive exilada, na esperança de conseguir uma entrevista. A viúva do ex-líder da Alemanha Oriental Erich Honecker recusou-se repetidamente a falar com os repórteres alemães –insultando-os ou molhando-os com a mangueira do jardim.

Neste ano, porém, Honecker –que foi ministra da Educação da República Democrática Alemã (RDA), a Alemanha Oriental, entre 1963 e 1989– publicou um livro sobre a educação popular no leste do país [Zur Volksbildung, no título original], assim como os últimos registros do diário de seu marido. Ela também concedeu uma entrevista à emissora de TV alemã ARD nesta segunda-feira (2).

Em um documentário de 90 minutos sobre a era Honecker, exibido pela emissora para mais de 4 milhões de espectadores, a viúva de 84 anos defendeu veementemente a Alemanha comunista.

Honecker disse nunca ter compreendido por que se tentava escapar para o oeste, por cima do Muro de Berlim, se tantos morriam durante a fuga. "Não havia necessidade disso. Não era preciso escalar o Muro. Ter de pagar por tal estupidez com a própria vida é doloroso, principalmente para as mães que sofriam com isso", considerou.

Um sistema melhor

O marido de Margot Honecker, Erich, que supervisionou a construção do Muro de Berlim em 13 de agosto de 1961, foi forçado a renunciar seu cargo político pouco antes de o Muro cair, em 9 de novembro de 1989.

É claro que havia prisioneiros políticos, pessoas que "prejudicavam o socialismo" na Alemanha Oriental, diz Honecker no documentário. "Ninguém precisa se desculpar por isso", afirma.

A maioria dos alemães que assistiram à entrevista nesta segunda-feira desaprovou os comentários da viúva, mas não esperava algo diferente da obstinada linha-dura. Mais de 20 anos após o colapso do Estado, vítimas da Alemanha Oriental mostraram-se ainda indignados. "Que tipo de pessoa é essa?", questionou uma mulher que foi presa por tentar escapar pelo Muro de Berlim e cujo filho pequeno foi, então, dado para adoção pelo Estado. "É um desaforo, inacreditável", diz.

A contrarrevolução

Honecker alega que a adoção forçada não existia na Alemanha Oriental –convicta de ter evitado acusações criminais. Vivendo no Chile desde 1992, ela recebe do governo alemão uma pensão mensal de 1.500 euros.

Na entrevista para a televisão, Honecker descreve a noite de outubro de 1989 em que a Alemanha Oriental celebrou seu 40º aniversário em Berlim. Em uma procissão à luz de velas, jovens aclamavam Mikhail Gorbachev –então secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética–, acompanhado do marido Erich, com endurecidas feições.

Erich Honecker não acreditava mais na ilusão de conseguir salvar a Alemanha Oriental, disse a viúva. Para ele, a queda do Muro de Berlim era uma "contrarrevolução".

"Os outros é que devem se desculpar"

Durante alguns meses, os Honecker – que um dia foi o casal mais poderoso do país – foram abrigados pela família de um pastor luterano, antes de fugir para Moscou para evitar acusações criminais. Erich Honecker foi, então, extraditado para a Alemanha em 1992 e acusado de crimes cometidos durante a Guerra Fria. Em 1993, ele foi, porém, libertado ao adoecer de câncer no fígado e viveu com a esposa em Santiago do Chile até a sua morte, em 1994.

Eles tiveram sorte, afirma o ex-ministro do Exterior da União Soviética Eduard Shevardnadze no documentário de TV, relembrando que o líder romeno Ceausescu, por exemplo, foi sumariamente executado.

Quanto a um julgamento final sobre a Alemanha Oriental, Margot Honecker confia na história. Ela diz sempre acreditar "que se colhe o que se planta". A existência da RDA não foi à toa, afirma. Para a ex-ministra, o que há de errado no mundo é que as pessoas ainda são exploradas e mortas em guerras. "Os outros é que devem se desculpar", diz Honecker.