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Paris é berço da alta costura inventada por inglês

Elena Klein (ca)

24/01/2016 15h23

Com o início da temporada de "haute couture" na capital francesa, grandes casas de moda parisienses apresentam modelos exclusivos para um público seleto. A fina arte da alfaiataria, porém, foi inventada por um inglês.

No mundo da moda, Paris é sinônimo de elegância e extravagância. Duas vezes por ano, grandes nomes do ramo, de Versace a Chanel, apresentam suas novas coleções de alta costura - sinônimo de perfeição da vestimenta feita sob medida e com habilidade artística. Quinze costureiras trabalham durante 30 dias, por exemplo, numa única cauda de vestido de noiva para Chanel.

Responsável pela primeira semana de alta costura deste ano, que se inicia neste domingo (24/01) e vai até 27 de janeiro na capital francesa, é sempre a Câmara Sindical da Alta Costura. A associação parisiense foi fundada em 1973 e decide com olhos de águia quem deve ser incluído ou não no seleto círculo de designers de moda.

Os critérios são rigorosos, ano após ano, e os ateliês têm que se recandidatar. Em 2015, apenas 12 designers conseguiram entrar na lista. Suas criações devem ser peças únicas, confeccionadas a mão e feitas sob medida. Além disso, o estilista deve empregar ao menos quinze costureiras em seu ateliê.

A cada temporada, em janeiro e julho, as "maisons" precisam desenvolver, respectivamente, 35 modelos, tanto para o dia quanto para a noite. Também de grande importância: a sede da empresa deve se localizar em Paris - no caso de Versace e Giorgio Armani, ambos de Milão, essa regra foi abrandada. Para tal, no entanto, os italianos têm que se contentar somente com o título de "Couture" (costura), como também ser considerados apenas estilistas convidados.

O inventor da alta costura

O que poucos sabem é que o fundador da fina arte da alfaiataria não foi um francês, mas um britânico chamado Charles Frederick Worth. Ele iniciou sua formação profissional já aos 13 anos de idade como negociante de tecidos.

Na National Gallery, a Galeria Nacional de Londres, ele encontrou inspiração para suas coleções: os mantos nos retratos dos antigos mestres lhe sugeriram desenhos de vestimentas, que ele confeccionava sob medida para sua esposa Marie e que passaram a chamar a atenção de diversas clientes.

Durante a primeira Exposição Universal de Londres, em 1851, Worth recebeu uma medalha de ouro por suas criações. Quatro anos mais tarde, ele foi premiado na Exposição Universal de Paris também com o primeiro lugar - por um manto que se assemelhava a uma cauda de vestido de noiva.

Em 1858, ele abria na capital francesa, na "Rue de La Paix", o seu próprio ateliê, onde criava vestidos de noite de tule prata e lantejoulas, às vezes decorados com aplicações em forma de corações ou margaridas. Entre as suas clientes, estavam a imperatriz Elisabeth da Áustria, conhecida por Sissi; a rainha Vitória da Inglaterra ou a inesquecível atriz Sarah Bernhardt. Em 1870, ele já empregava 1.200 costureiras.

Quatro vezes por ano, Worth apresentava suas criações em desfiles de moda. Em seguida, a cliente mandava executar o seu vestido preferido, com um tecido à sua escolha e de acordo com as medidas de seu corpo - uma novidade, pois antes era comum que um costureiro desenvolvesse os seus modelos de acordo com as ideias das clientes. As roupas da Casa Worth eram escandalosamente caras e só podiam ser compradas pelas mais ricas damas da sociedade - algo que, até hoje, não mudou em termos de alta costura.

Fim da aneroxia na passarela

Nos últimos anos, no entanto, a alta costura tem sido alvo de críticas. Por um lado, por ser acessível somente para poucos, diferentemente da democratização proporcionada pela moda "prêt-à-porter" (pronto para vestir).

Outro motivo de censura é o fato de as modelos nas passarelas passarem, na maioria das vezes, a impressão de anorexia. Para as autoridades francesas, isso seria um mau exemplo para as jovens e não deve ser mais tolerado.

Por isso, em dezembro do ano passado, a Assembleia Nacional da França aprovou uma lei banindo modelos anoréxicas das passarelas. Antes dos desfiles, as manequins precisam apresentar um atestado de saúde. Se o médico a considerar magra demais, ela não poderá desfilar para as principais casas de moda do mundo.

Mas ainda resta a pergunta de quem compra, realmente, os modelos extravagantes. Os grandes ateliês, no entanto, mantêm a sua lista de clientes em sigilo. Certo é que, em todo o mundo, somente algumas centenas de superricas podem pagar os preços também extravagantes das peças de alta costura.