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Três sóis para um só planeta

Fabian Schmidt (av)

08/07/2016 15h33

Astrônomos do Observatório Europeu do Sul detectam sistema inusitado, com dois sóis e um gigantesco planeta gasoso em órbita em torno de um sol maior. Descoberta sugere diversidade sideral maior do que se imaginava.

Uma equipe internacional de cientistas do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês) descobriu um sistema planetário altamente complexo, de que participam nada menos do que três estrelas. A central, denominada 131399A possui 1,8 vez a massa do Sol, e é orbitada por um segundo sistema solar duplo, a uma distância 300 vezes maior do que a que separa a Terra do Sol.

Nesse sistema duplo, por sua vez, uma estrela menor circula à volta da maior. A distância entre esses dois sóis menores corresponde àquela entre o Sol e Saturno, ou 9,5 vezes a entre a Terra e o astro central do Sistema Solar.

Três auroras, três ocasos

Na órbita do maior sol dos três está o planeta HD 131399Ab, um gigante gasoso quatro vezes maior do que Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar. A descoberta do gigantesco planeta foi anunciada da edição online da revista especializada Science.

O triplo sistema solar está a 340 anos-luz de distância do nosso. Contando apenas 16 milhões de anos, seu planeta é um dos mais jovens que se conhece. Ele leva 550 anos terrestres para completar uma translação.

Essa constelação de três sóis e um planeta cria condições impensáveis em termos terrestres: cada dia tem três nasceres e três pores-de-sol, e em determinadas estações do ano - que duram bem mais do que uma existência humana - há sempre pelo menos um sol brilhando.

Raro superplaneta gasoso

O gigante gasoso pertence a uma categoria planetária extremamente rara. Primeiramente, trata-se de um exoplaneta, ou seja, externo ao nosso sistema solar. Em segundo lugar ele foi detectado por "formação direta de imagem" com o SPHERE (Spectro-Polarimetric High-Contrast Exoplanet Research Instrument) do Very Large Telescope (VLT) da ESO, no Chile.

A maioria dos planetas menores e mais frios é invisível por telescópio a partir da Terra, só sendo detectados indiretamente, geralmente quando passam diante de sua estrela central e a intensidade da luz que ela irradia se altera, ou por espectroscopia de Doppler. Nesta, a massa do planeta é calculada a partir das vibrações de rotação da estrela provocadas pela gravitação.

O novo superplaneta de gás se situa, portanto, pertence à categoria dos poucos "exoplanetas registrados por formação direta de imagem" conhecidos. Ele é bastante grande em relação a muitos outros corpos celestes do universo e, com uma temperatura de superfície estimada em 580ºC, nada cômodo. Ainda assim, comparado a outros de sua classe, os astrônomos o consideram, antes, pequeno e frio.

Estabilidade questionável

Os poucos exoplanetas visíveis a partir da Terra precisam ser extremamente grandes e luminosos para poderem ser registrados por telescópio. "O HD 131399Ab é um dos poucos exoplanetas já fotografados diretamente, e o primeiro numa configuração tão dinâmica", explica, entusiasmado, o professor de astronomia Daniel Apai, da Universidade do Arizona.

Um dos enigmas atuais para os cientistas é quão estável o sistema solar descoberto é, a longo prazo. "Nossas simulações mostram que esse tipo de órbita pode ser estável, mas também pode muito rapidamente tornar-se instável se ocorrer uma mudança mínima", comenta Apai.

"Não está claro como esse planeta sequer pôde entrar numa órbita tão ampla, nesse sistema extremo", completa Kevin Wagner, doutorando do astrônomo. Ele está curioso para ver o que o sistema solar triplo ainda revelará. "Ainda não sabemos o que isso significa para nossa melhor compreensão dos diversos tipos de sistemas planetários existentes lá fora. Mas mostra que a diversidade é muito maior do que alguns criam ser possível."