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O triste balanço da violência policial contra negros nos EUA

Wolfgang Dick (rc)

23/09/2016 14h18

A morte de um homem afro-americano pela polícia em Charlotte e os protestos que se seguiram são mais um trágico episódio de uma série de casos semelhantes nos Estados Unidos. Relembre alguns deles.

Os protestos dos últimos dias contra a morte de um homem negro pela polícia americana na cidade de Charlotte se somam a uma série de casos semelhantes ocorridos recentemente nos Estados Unidos.

O episódio que gerou maior revolta aconteceu há dois anos. Em agosto de 2014, um policial branco matou com doze tiros o jovem negro Michael Brown, em Ferguson, no estado do Missouri. A polícia sustenta que ele teria tentado roubar diversos pacotes de cigarrilhas de uma loja e se comportado de forma "agressiva", antes de ser alvejado. Testemunhas dizem que, ao receber os tiros, Brown estava com as mãos para cima e desarmado.

A cidade virou palco de violentos protestos, que culminaram na renúncia do chefe da polícia local. O Departamento de Justiça dos EUA reportou, então, casos diários de cunho racista por parte de policiais americanos.

Após os incidentes em Ferguson, o jornal americano Washington Post começou a divulgar dados públicos do FBI e da polícia em artigos e nas redes sociais, os listando em forma de calendário. O ano de 2016 foi se tornando mais sombrio a cada mês. Em janeiro, quatro dias aparecem marcados em cinza no calendário - o que significa zero mortes causadas pela polícia. Em meados do ano, nos meses do verão americano, apenas um dia não foi marcado por assassinatos. Em mais de 20 dias foram registradas as mortes de mais de dois civis por policiais.

Abaixo, listamos apenas alguns exemplos da violência policial contra afro-americanos nos EUA:

2014

Um jovem negro de apenas 17 anos foi morto a tiros em Chicago após fugir de um policial. Vídeos com as imagens do incidente foram divulgados. O chefe de polícia foi demitido, e o policial acabou formalmente acusado de homicídio.

Em novembro, um menino de 12 anos foi assassinado em Cleveland, após um policial pensar que a arma que ele portava era de verdade, quando na verdade era apenas uma pistola de ar comprimido.

Em Phoenix, um pai de família negro foi morto após se recusar a tirar as mãos dos bolsos, onde não havia arma alguma, mas apenas medicamentos.

2015

Na Carolina do Sul, um policial atirou diversas vezes nas costas de um homem de 50 anos e acabou sendo acusado de homicídio. Em Baltimore, um homem de 25 anos morreu enquanto era transportado pela polícia, em razão de diversos ferimentos graves e uma fratura no pescoço. Após os policiais envolvidos serem inocentados, diversos protestos ocorreram na cidade.

Em Chicago, uma mãe de cinco filhos é alvejada. Em Cincinnati, um homem que dirigia um automóvel sem placa de identificação é morto durante um controle policial. Todas as vítimas eram afro-americanas. Todos os policiais, brancos.

2016

As cidades de Baton Rouge, em Louisiana, e Falcon Heights, em Minnesota, dominaram as manchetes deste ano. Na primeira, um negro de 37 anos foi alvejado porque, segundo as autoridades, estava armado. No outro caso, um homem de 32 anos morreu durante um controle policial ao tentar abrir o porta-luvas para pegar os documentos de registro do seu automóvel.

Situação semelhante ocorreu em Tulsa, no Oklahoma, onde uma policial atirou num homem de 40 anos, dizendo que ele não havia cooperado. Uma arma foi encontrada no carro.

A rede de pesquisa Mapping Violence avaliou que a polícia atira com frequência cinco vezes maior em negros desarmados do que em pessoas brancas.

Decepcionados com Obama

Após a morte de dois homens negros em julho deste ano, o presidente americano, Barack Obama, admitiu que a violência policial é um problema grave. Essas tragédias ocorrem numa frequência alta demais e "não são casos individuais isolados", disse. Num programa de uma emissora que atinge grande parte da população negra do país, ele foi bem claro: "O racismo contra afro-americanos está profundamente enraizado na sociedade americana."

O presidente, porém, apenas descreveu o que já era notoriamente conhecido. Os ativistas do movimento Black Lives Matter ("Vidas de negros importam") se perguntam onde estão as demonstrações de luto, as ações corajosas contra a violência policial e as leis mais rígidas sobre o controle de armas?

As expectativas dos afro-americanos e dos hispânicos quanto à presidência de Obama eram bastante altas. Eles esperavam maior igualdade perante a lei. Muitas dos integrantes das minorias estão decepcionados com o presidente em razão das poucas melhorias em respeito à sua proteção e com o fato de ele ter dito que as coisas estão melhor hoje do que há 50 anos. Obama pediu que os avanços fossem reconhecidos para que houvesse mais progresso, e disse que os incidentes não deveriam ser politizados.

Em seus discursos, o presidente pediu diversas vezes compreensão também para com os policiais, afirmando que fazem um trabalho difícil, que deve ser valorizado e respeitado. Em seu primeiro mandato, o presidente chegou a viajar aos locais de conflito, como em 2008 na Filadélfia. Com o passar dos anos, essas visitas ficaram cada vez mais raras. Na ocasião dos distúrbios em Ferguson, ele enviou seu procurador-geral, Eric Holder.

As conversas de Obama com representantes da polícia chamam mais atenção do que os contatos com movimentos sociais. Antes de tomar posse, ele afirmou publicamente não ser tão ingênuo de acreditar que as diferenças entre negros e brancos pudessem ser superadas num único mandato. Aparentemente, dois mandatos também não foram suficientes.