O fim trágico de um sonho
Praticamente falida, Chapecoense foi salva por empresários e iniciou ascensão meteórica no futebol brasileiro. Profissionalismo na gestão levou clube à primeira final internacional. Um conto de fadas com final triste.É o fim abrupto de um sonho, de um conto de fadas do futebol brasileiro. No melhor ano de sua curta trajetória, a Chapecoense entra para a história por uma tragédia – talvez a maior do esporte brasileiro. A queda da aeronave que levava a delegação catarinense à Colômbia resultou na morte de 71 dos 77 passageiros a bordo, entre jogadores, dirigentes e comissão técnica. Fundado em 1973, o Verdão do Oeste, como o clube de Chapecó é conhecido, estava em ascensão meteórica no futebol brasileiro. Depois de quase fechar as portas em 2003 por problemas financeiros, um grupo de gestores assumiu e reestruturou a Chapecoense. E, lentamente, voltou às conquistas. Em 2009, o clube disputava ainda a Série D do Brasileirão – quatro anos depois, em 2013, sacramentava o acesso à elite do futebol brasileiro com o vice-campeonato da Série B. A gestão moderna e eficaz não trouxe apenas resultados em campo, mas também nas contas do clube. A cota de TV da Chapecoense é de 28 milhões de reais, modesta se comparada aos 179 milhões do Corinthians. Já o patrocínio da Caixa Econômica Federal rende apenas 4 milhões anuais. O Palmeiras, por exemplo, recebe cerca de 66 milhões da Crefisa. Com menos recursos, o time de Santa Catarina mantém a cautela e não faz contratações mirabolantes. A direção trabalha com atletas esquecidos em outros clubes e conta com o bom trabalho de analistas de desempenho. Com elencos sem grandes estrelas e fazendo aquisições pontuais, a Chapecoense fez boas campanhas, conquistou títulos estaduais e é o menos endividado na Série A. E logo em sua segunda temporada na elite brasileira se classificou para a Copa Sul-Americana de 2015 – seu primeiro torneio internacional, quando parou o tradicional River Plate, nas quartas de final. Ascensão no futebol O ano de 2016 é apenas a terceira temporada da Chapecoense na Série A e, independentemente do resultado da partida restante, já está concretizado como sua melhor campanha na história do Brasileirão. No primeiro semestre conquistou o Campeonato Catarinense (apenas o quinto) e, na segunda metade do ano, fez de sua Arena Condá um caldeirão eliminando grandes equipes sul-americanas como o Independiente (ARG), nos pênaltis, Junior Barranquilla (COL) e o San Lorenzo (ARG), graças a uma defesa milagrosa nos acréscimos do goleiro Danilo, uma das vítimas do acidente. No voo na madrugada desta terça-feira (29/11), a Chapecoense estava a caminho de disputar sua primeira final internacional, em apenas sua segunda participação na Copa Sul-Americana. A partida de ida da decisão, contra o Atlético Nacional, estava marcada para quarta-feira. Porém às 22h (horário local), o aeroporto José Maria Córdova, em Rionegro, perto do destino Medellín, recebeu uma mensagem de emergência por falha técnica. Quinze minutos depois, a torre de controle perdeu contato com a aeronave. O avião da companhia LaMia, modelo Avro RJ85 e matrícula CP2933, caiu em Cerro Gordo, uma pequena montanha cerca de 30 quilômetros ao sul de Medellín. A aeronave tinha apenas 17 anos de uso e, segundo relatos da mídia espanhola, foi utilizada pela seleção da Argentina para enfrentar o Brasil pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018, no Mineirão, poucas semanas atrás. Desastre histórico O presidente do Brasil, Michel Temer, decretou três dias de luto oficial. A prefeitura de Chapecó decretou luto de 30 dias e cancelou as aulas. A comunidade esportiva brasileira está em choque, com clubes, atletas e dirigentes prestando solidariedade ao Verdão do Oeste. A queda do avião com a delegação da Chapecoense é a maior tragédia do esporte brasileiro. Em números – de mortes de atletas e membros de uma agremiação esportiva – é também a maior tragédia do esporte mundial. Historicamente, as tragédias envolvendo o Torino, em maio de 1949, e o Manchester United, em fevereiro de 1958, carregam mais simbolismo. O Grande Torino era considerado a melhor equipe de futebol do mundo na época e formava a base da seleção italiana. O retorno de um amistoso com o Benfica acabou com a morte de 31 pessoas – o clube nunca mais alcançou a grandeza que gozava naquela época. Já no acidente envolvendo o clube inglês, que ocorreu no aeroporto de Munique e matou 23 pessoas, sete jogadores do United sobreviveram – entre eles Bobby Charlton, o maior da história da Inglaterra e que viria a ser campeão do mundo em 1966. Na América do Sul há ainda as tragédias com membros do clube boliviano The Strongest (17 atletas mortos), em 1969, e do peruano Alianza Lima (16 atletas mortos), em 1987. Nomes famosos Ao todo, 47 integrantes da delegação da Chapecoense estavam no voo. Segundo relatos, apenas o lateral-esquerdo Alan Ruschel, o zagueiro Neto e o goleiro reserva Jackson Follmann sobreviveram. Ruschel sofreu múltiplas fraturas nos braços e pernas e uma lesão na coluna. Neto sofreu traumatismo cranioencefálico, e Follmann, segundo a imprensa brasileira, teve uma perna amputada. Entre os mortos, estão nomes de destaque do futebol brasileiro. O treinador Caio Júnior, ex-jogador de 51 anos de idade e com passagens por Grêmio, Internacional e Paraná, começou sua carreira de técnico em 2000 e comandou equipes importantes como Palmeiras, Flamengo, Bahia, Vitória, Grêmio e Botafogo. Do elenco, o mais consagrado era Cléber Santana, um meia veterano 36 anos e capitão da Chapecoense. Formado no Sport, o pernambucano passou por Vitória, Santos, São Paulo, Flamengo e Atlético de Madri, onde conquistou a Liga Europa de 2010. Destaque também para Bruno Rangel, o maior artilheiro da história da Chapecoense com 77 gols. Além disso, o preparador físico da Chapecoense era Anderson Paixão, filho de Paulo Paixão, que trabalhou na seleção brasileira com os técnicos Luiz Felipe Scolari, quando participou da campanha vitoriosa da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2002, e Dunga. A dor dos que ficam Há apenas uma semana, o jogador Tiaguinho, de 22 anos, ficou sabendo da gravidez de sua esposa por meio de uma surpresa preparada por companheiros de time. Ele estava no avião. "Ontem de manhã, eu me despedindo deles, eles diziam que iam em busca do sonho para tornar esse sonho uma realidade e nós, muito emocionados compartilhamos muito com eles desse sonho, e o sonho acabou nesta madrugada", disse à Rede Globo o presidente do Conselho Deliberativo da Chapecoense, Plínio David de Nes Filho, que estava na lista de convidados da viagem para Medellín. O objetivo da Chapecoense era chegar à tão sonhada Copa Libertadores. E o caminho mais fácil era conquistando a Copa Sul-Americana. Mas a tragédia na Colômbia destruiu este sonho. Na memória ficarão as imagens festivas no vestiário na Arena Condá de cinco dias atrás, quando conquistaram a inédita classificação à final.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.