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Olimpíadas, os Jogos que ninguém quer ganhar

Herbert Schalling (md)

10/07/2017 12h28

Evento perdeu prestígio nos últimos anos e passou a ser visto como fardo por organizadores. Para 2024, há apenas dois candidatos: Los Angeles e Paris. E COI, para evitar riscos, deve premiar ambos como sede.Alerta no Comitê Olímpico Internacional (COI): apenas duas cidades querem sediar os Jogos Olímpicos em 2024: Paris e Los Angeles. Um duelo assim ocorreu pela última vez há 36 anos, quando Seul perdeu para Nagoya para 1988. Cinco candidatos se registraram originalmente para 2024. Primeiro, os cidadãos de Hamburgo disseram que "não", através de um referendo popular, realizado há quase dois anos. Depois, Roma e Budapeste retiraram suas candidaturas.Por isso, o presidente do COI, Thomas Bach, lançou a ideia da dupla premiação. Ele não quer perder nem Paris nem Los Angeles. Pelo contrário, ambos deverão ser recompensados com a organização dos Jogos Olímpicos – um fica com 2024, outro com 2028. As cidades não são somente capazes de realizar excelentes eventos, mas também são metrópoles de democracias ocidentais. Exatamente aí é que os Jogos perderam, como espetáculos de massa, seu prestígio e popularidade nos últimos tempos entre grandes segmentos da população.Parece que Bach conseguiu vencer a resistência inicial do COI e das próprias cidades. Assim, pode ser possível que a eleição dupla possa ser realizada pela segunda vez na história dos Jogos Olímpicos. Há 96 anos, o COI elegeu Paris (1924) e Amsterdã (1928) para anfitriões olímpicos.Na 131ª sessão do COI, a ser realizada em setembro, em Lima, onde o anfitrião de 2024 deveria ser denominado, apenas deverá ser revelado o "segredo" de quem e quando realizará os Jogos. Os protagonistas de ambas as cidades afirmam oficialmente que só estão interessados no evento daqui a sete anos. Mas nos bastidores parece há muito tempo certo que Paris sediará os Jogos de 2024, e Los Angeles, os de 2028.Gunter Gebauer, filósofo e professor especializado em ciência do esporte da Universidade Livre de Berlim, acredita que o procedimento previsto não seja nada mais do que uma solução temporária. "O COI compra apenas tempo com isso. É bastante evidente que os Jogos Olímpicos não são mais atraentes. Ou seja, um país não espera mais lucrar com eles", avalia.Crise de modeloMuitos políticos querem modernizar suas cidades através dos Jogos Olímpicos. Para tais programas de construção gigantescos, muitas vezes os governos fazem grandes dívidas. A última sede dos Jogos Olímpicos, o Rio de Janeiro, ainda tem contas a pagar em valor equivalente a 30 milhões de euros, dez meses após o final do evento.No entanto, uma boa dose de culpa também tem o COI, como o único proprietário dos Jogos. O processo de candidatura é caro e perfeccionista demais, além de pouco transparente. As cidades devem cumprir exigências em excesso. As sedes dos Jogos Olímpicos ficam sujeitas a arcar com todo o risco financeiro – o COI fica com o lucro. No entanto, mais de 90% do lucro são distribuídos entre as federações esportivas internacionais. Algumas sequer poderiam existir sem os subsídios do COI."Mas o presidente do COI, Thomas Bach, reconheceu os problemas", diz o economista do esporte Wolfgang Maennig. Ele, que foi campeão olímpico de remo de 1988, trabalha atualmente com o presente e o futuro dos Jogos Olímpicos. "Bach abriu o COI a novos conceitos e ideias. A Agenda 2020, iniciada por ele, deve ser desenvolvida rapidamente rumo a uma Agenda 2030."Em sua história de 121 anos, os Jogos Olímpicos sobreviveram a várias crises. "Estou otimista de que a ideia olímpica tenha um futuro", diz Gunter Gebauer. "O esporte continua fascinando as pessoas do mundo", acrescenta.Entretanto, ele não espera muita coisa do Comitê Olímpico Internacional. "A chance é que apareça uma iniciativa de baixo para cima, um movimento popular. As futuras sedes devem ter a coragem de realizar Jogos Olímpicos mais modestos. Ser um bom anfitrião é envolver o público mais estreitamente e não realizar os Jogos como símbolo de prestígio, sem respeitar a população. Pequim 2008 foi um mau exemplo.", acredita.