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Maioria dos refugiados não está na Europa: fuga é comum para lugares mais próximos de casa

Migrantes viajam no teto de um trem no México: muitos morrem a caminho dos EUA - picture alliance/dpa/Str
Migrantes viajam no teto de um trem no México: muitos morrem a caminho dos EUA Imagem: picture alliance/dpa/Str

Stephanie Höppner (md)

18/12/2017 13h27

Nunca tantas pessoas deixaram seus locais de origem como agora, à procura de segurança e de uma vida melhor. Muitos rumam para a Europa, mas a maior parte recorre a regiões próximas, fugindo de crises e guerras

Cada vez mais pessoas deixam os países em que vivem em busca de uma vida melhor para si e suas famílias ou porque precisam fugir de crises humanitárias, opressão e perseguição. Segundo estimativas das Nações Unidas, cerca de 244 milhões de pessoas em todo o mundo já não vivem no país onde nasceram.

Assim, o número de migrantes aumentou significativamente – em 1990 eles eram cerca de 153 milhões de pessoas. Em breve, eles podem se tornar ainda mais numerosos: de acordo com uma pesquisa da Organização Internacional para as Migrações (OIM) realizada em 160 Estados, cerca de 23 milhões de pessoas estão se preparando para emigrar.

Embora muitos suspeitem do contrário, a maioria dos migrantes não busca refúgio na Europa. Cerca de 90% de todos os refugiados vivem, de acordo a organização alemã de ajuda humanitária Brot für die  Welt, em países em desenvolvimento, muitas vezes em nações africanas. A maioria deles se desloca internamente em seu próprio país ou busca abrigo no país vizinho. Falta dinheiro para viagens a locais mais distantes.

Viajando à noite: África Oriental

Refugiados do Sudão do Sul em Uganda: migrantes recebem terras para cultivar - Isaac Kasamani/AFP - Isaac Kasamani/AFP
Refugiados do Sudão do Sul em Uganda: migrantes recebem terras para cultivar
Imagem: Isaac Kasamani/AFP

Muitas pessoas procuram proteção na Etiópia, por exemplo. O país ocupa o quinto lugar entre os que recebem mais refugiados em todo o mundo, especialmente da vizinha Somália. Desde o início dos anos 90, a Somália vive uma guerra civil.

De acordo com números da ONU, cerca de sete milhões de cidadãos do país dependem de ajuda humanitária, e 800 mil estão ameaçadas pela fome. Mais de um milhão de pessoas já fugiram da Somália, se dirigindo, além da Etiópia, para o vizinho Quênia, onde está localizado o maior campo de refugiados do mundo.

Também na África Oriental, Uganda é extremamente popular por suas generosas políticas de refugiados perante os habitantes da República Democrática do Congo e do Sudão do Sul – países abalados pela guerra civil e por agitações. Os refugiados recebem em Uganda terras que podem cultivar eles mesmos.

No entanto, a fuga do Sudão do Sul é extremamente perigosa. Com medo de encontrar soldados, muitos viajam principalmente à noite. "Toda noite, rezamos para que possamos chegar a Uganda vivos", diz uma mulher em um relatório de julho de 2017 da organização humanitária Care.

A morte espera no caminho: América Central

Imigrantes chegam até a cidade de Nuevo Laredo, na fronteira com México com os EUA - Carlos Barria/Reuters - Carlos Barria/Reuters
Imigrantes chegam até a cidade de Nuevo Laredo, na fronteira com México com os EUA
Imagem: Carlos Barria/Reuters

Desde que o presidente dos EUA, Donald Trump, exigiu a construção de um muro ao longo da fronteira EUA-México, a migração voltou ao foco no continente americano. Não há números sobre quantas pessoas atravessam a fronteira a cada ano. De acordo com estimativas do Instituto de Políticas de Migração dos EUA, cerca de 11 milhões de imigrantes vivem nos EUA, e metade deles é do México.

Além disso, muitas pessoas usam o México como um país de trânsito, vindas de El Salvador, Guatemala e Honduras. De acordo com a Anistia Internacional, enquanto até 2010 principalmente homens jovens fugiam em direção ao norte, agora famílias inteiras estão se deslocando para escapar da violência de gangues criminosas em seus países de origem.

Quando elas não conseguem pagar traficantes de pessoas para ajudar na jornada, elas rapidamente se tornam vítimas fáceis do crime organizado: cartéis patrulham as margens do rio perto da fronteira e matam implacavelmente – como forma de dissuasão. Não há estatísticas exatas sobre os assassinatos, mas constantemente são encontradas valas comuns.

De acordo com a OIM, mais de 340 pessoas morreram perto da fronteira mexicana em 2017: aquelas que não foram assassinados por gangues morreram afogadas, provavelmente tentando atravessar um rio. Alguns também foram mordidos por cobras ou escorpiões ou morreram de sede no calor escaldante. Em muitos casos, a causa da morte não foi esclarecida. Frequentemente são encontrados restos humanos nas áridas montanhas do sul do estado americano do Arizona, por exemplo.

Desamparados no mar: Sudeste Asiático

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Refugiados rohingyas fogem de Mianmar para Bangladesh por violência do Exército
Imagem: AFP

Barcos repletos de refugiados não existem apenas no Mediterrâneo, mas também no Sudeste Asiático. De Mianmar e Bangladesh, cada vez mais pessoas tentam fugir para a Tailândia, Malásia e Indonésia.

A maioria são rohingyas, uma minoria muçulmana perseguida, torturada e oprimida em Mianmar, de maioria budista. Centenas de milhares de rohingyas fugiram para Bangladesh desde meados do ano. Muitas vezes, pessoas ficam por semanas no mar, à deriva, pois os Estados vizinhos abastecem os refugiados com combustível, água e comida, mas se recusam a acolhê-los.

A rota de refugiados através do Golfo de Bengala já se tornou economicamente interessante para muitos traficantes de pessoas, e dezenas de milhares de refugiados recorrem à ajuda deles todos os anos.

De acordo com a fundação Asienhaus, os contrabandistas atuam de forma extremamente brutal. Eles manteriam refugiados presos na selva, cobrando resgate para soltá-los e os torturariam nos barcos, espancando aqueles que pedem água ou comida durante a viagem.

A jornada pode ser fatal: mais de 200 valas comuns foram encontradas perto dos campos de refugiados na fronteira entre a Tailândia e Malásia. Mas permanecer em seus lares não é opção para os rohingyas. A organização Médicos sem Fronteiras informou que entre o final de agosto e o final de setembro cerca de 6.700 membros da minoria foram mortos em Myanmar, incluindo muitas crianças.