Opinião: Mídia europeia amordaçada por autocratas
Europeus gostam de se achar melhores do que os outros. Isso vale também para liberdade de imprensa, mas a situação não anda tão boa assim em países do Leste e Sudeste do continente, constata o jornalista Volker Wagener.A DW recebeu correspondência da Hungria. Um ex-funcionário de alto escalão do Ministério húngaro do Exterior relatou como ele e milhares de outras pessoas perderam seus empregos nos últimos anos. Ele gostaria de detalhar os bastidores de sua demissão e das expulsões em massa de servidores públicos e jornalistas malquistos na Hungria de Viktor Orbán e perguntou se a DW estaria disposta a publicar essas revelações. Sim, estamos. Até porque ele não pode mais fazer isso no próprio país. Ninguém mais publica esse tipo de informação. E, se alguém publicar, seu futuro é incerto.
A correspondência de Budapeste e o relatório anual sobre liberdade de imprensa da Repórteres sem Fronteiras combinam perfeitamente: a Hungria, antes um modelo de país do Leste Europeu, caiu 50 lugares, para a posição 73 no ranking de liberdade de imprensa. Em outras regiões do Leste e do Sudeste Europeu, a situação não parece ser melhor – ao contrário, parece ainda pior.
Quem investiga em busca da verdade arrisca a própria vida: é só ver os exemplos de Malta e da Eslováquia. Ou, posto de outra maneira, para esconder verdades desconfortáveis e lambanças políticas e criminosas recorre-se a assassinatos. Em resumo: a Europa que fica ao leste da antiga cortina de ferro político-ideológica é, de novo, uma região em crise quando o assunto é a mídia. Problemas existem apenas na África e na Ásia? Conte outra.
Nada expressa isso melhor do que o "paciente búlgaro". O país, que no momento ocupa a presidência rotativa da União Europeia (UE), está na posição 111 entre 178 nações. É o lanterninha da Europa. Os alemães, que estão na posição 15, também não estão em condições de encher a boca para dar lição de moral. Ainda dá para combinar essa posição alcançada com a nossa autoimagem de melhor aluno da turma, mas, para enviar lição de moral em direção ao leste, não dá.
Sobretudo a UE tem um problema. O presidente da França, Emmanuel Macron, defende dividir o bloco em duas categorias de velocidade de integração, mas é na realidade midiática que essa divisão fica de fato clara. E justamente os Estados do Visegrád – economicamente mais desenvolvidos para os padrões do Leste – são os que mais agridem a liberdade de expressão.
A Hungria na posição 73, a Polônia na 58, a Eslováquia na 27 e a República Tcheca na 24 são um certificado de incapacidade para a imagem que esses países têm de si mesmos, logo eles que gostam de se ver no coração da Europa.
Na semana passada, um veículo de mídia complacente com Orbán publicou uma chamada "lista negra". Na posição número um dos correspondentes estrangeiros mais indesejados estava o repórter da DW Keno Verseck. A lista é um sinal duplo: ela não representa apenas a realidade midiática segundo a visão de Orbán, que quer impor uma democracia iliberal – como consequência, também a imprensa precisa ser adestrada para se tornar "iliberal".
O outro sinal é um que deveria ser percebido em Bruxelas, mas também em Berlim e Paris. O bom e velho serviço internacional de notícias pode experimentar um renascimento nestes tempos digitais, como uma voz alternativa vinda do exterior. Quando o PiS, na Polônia, e o Fidesz, na Hungria, que na prática já instalaram autocracias, passam a monopolizar as "únicas e exclusivas verdades" – quer dizer, as suas –, essa situação clama por alternativas. Não por acaso formaram-se justamente em Berlim alguns grupos de jornalistas do Leste. Antigamente eles eram chamados de dissidentes.
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A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App
A correspondência de Budapeste e o relatório anual sobre liberdade de imprensa da Repórteres sem Fronteiras combinam perfeitamente: a Hungria, antes um modelo de país do Leste Europeu, caiu 50 lugares, para a posição 73 no ranking de liberdade de imprensa. Em outras regiões do Leste e do Sudeste Europeu, a situação não parece ser melhor – ao contrário, parece ainda pior.
Quem investiga em busca da verdade arrisca a própria vida: é só ver os exemplos de Malta e da Eslováquia. Ou, posto de outra maneira, para esconder verdades desconfortáveis e lambanças políticas e criminosas recorre-se a assassinatos. Em resumo: a Europa que fica ao leste da antiga cortina de ferro político-ideológica é, de novo, uma região em crise quando o assunto é a mídia. Problemas existem apenas na África e na Ásia? Conte outra.
Nada expressa isso melhor do que o "paciente búlgaro". O país, que no momento ocupa a presidência rotativa da União Europeia (UE), está na posição 111 entre 178 nações. É o lanterninha da Europa. Os alemães, que estão na posição 15, também não estão em condições de encher a boca para dar lição de moral. Ainda dá para combinar essa posição alcançada com a nossa autoimagem de melhor aluno da turma, mas, para enviar lição de moral em direção ao leste, não dá.
Sobretudo a UE tem um problema. O presidente da França, Emmanuel Macron, defende dividir o bloco em duas categorias de velocidade de integração, mas é na realidade midiática que essa divisão fica de fato clara. E justamente os Estados do Visegrád – economicamente mais desenvolvidos para os padrões do Leste – são os que mais agridem a liberdade de expressão.
A Hungria na posição 73, a Polônia na 58, a Eslováquia na 27 e a República Tcheca na 24 são um certificado de incapacidade para a imagem que esses países têm de si mesmos, logo eles que gostam de se ver no coração da Europa.
Na semana passada, um veículo de mídia complacente com Orbán publicou uma chamada "lista negra". Na posição número um dos correspondentes estrangeiros mais indesejados estava o repórter da DW Keno Verseck. A lista é um sinal duplo: ela não representa apenas a realidade midiática segundo a visão de Orbán, que quer impor uma democracia iliberal – como consequência, também a imprensa precisa ser adestrada para se tornar "iliberal".
O outro sinal é um que deveria ser percebido em Bruxelas, mas também em Berlim e Paris. O bom e velho serviço internacional de notícias pode experimentar um renascimento nestes tempos digitais, como uma voz alternativa vinda do exterior. Quando o PiS, na Polônia, e o Fidesz, na Hungria, que na prática já instalaram autocracias, passam a monopolizar as "únicas e exclusivas verdades" – quer dizer, as suas –, essa situação clama por alternativas. Não por acaso formaram-se justamente em Berlim alguns grupos de jornalistas do Leste. Antigamente eles eram chamados de dissidentes.
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