Mega-aeroporto de Istambul inicia atividades
Considerado a menina dos olhos do presidente Erdogan, aeroporto deverá ser o maior do mundo quando estiver concluído, em 2028. Mas megaprojeto é alvo de inúmeras críticas de ambientalistas e operários.Os monitores já mostram os horários de partida. Um pouco mais adiante, porém, ainda se vê um canteiro de obras no terminal. Operários com coletes amarelos trabalham sobre um andaime. O aeroporto de Istambul iniciará suas atividades nesta quarta-feira (31/10) sem estar pronto.
Kadri Samsunlu, o chefe da empresa de administração aeroportuária IGA, se mostra satisfeito. De forma rotineira, ele apresenta os principais dados do megaprojeto: as duas primeiras de um total de seis pistas estão prontas, incluindo a torre de controle em elegante forma de tulipa.
Por volta de 225 mil postos de trabalho deverão ser criados com a construção do aeroporto, que deverá contribuir com cerca de 5% para o Produto Interno Bruto (PIB) da Turquia. "Construímos isso aqui com dinheiro turco, com trabalhadores turcos, com know-how turco", diz Samsunlu. "Isso nos dá uma enorme autoconfiança, e quando olho em volta, penso que conseguimos. Isso me deixa muito orgulhoso." De acordo com ele, já foram investidos 7,5 bilhões de euros, de um total previsto de 10,5 bilhões.
O lançamento da pedra fundamental deste que é o terceiro aeroporto de Istambul ocorreu em maio de 2015. Em menos de quatro anos, Samsunlu e seu pessoal ergueram o projeto colossal no norte da cidade – um prazo que parece um sonho para Berlim. Depois de 12 anos, ainda não há data certa para a abertura do novo aeroporto da capital alemã.
As dimensões do projeto turco são gigantescas: com 76 quilômetros quadrados, o novo aeroporto de Istambul é três vezes maior que o de Frankfurt. É o maior da Europa, com até 90 milhões de passageiros por ano. E este é apenas o primeiro de um total de quatro estágios planejados de expansão. Daqui a dez anos, espera-se que até 200 milhões de passageiros cheguem e partam a cada ano – mais do que em qualquer outro lugar do mundo.
O novo aeroporto gigantesco é também a menina dos olhos do presidente Recep Tayyip Erdogan e um símbolo da ascensão da Turquia a potência econômica global. Erdogan quer tornar Istambul um dos hubs aéreos mais importantes entre a Europa, a Ásia e os países árabes.
Atualmente, porém, a economia turca se encontra em crise, a lira perdeu drasticamente de valor e a inflação atinge níveis recordes. Mesmo assim, Erdogan determinou que o novo aeroporto fosse aberto a tempo para o 95º aniversário da fundação da República da Turquia, por Mustafá Kemal Ataturk.
Mas o megaprojeto também tem um lado negativo. De acordo com a imprensa local, agricultores foram expropriados para a construção. Ambientalistas criticaram o corte de enormes áreas de floresta como sendo o fim do "pulmão verde" de Istambul.
E os trabalhadores, que tiveram que erguer o aeroporto em tempo recorde, relatam condições terríveis no canteiro de obras: parcas medidas de segurança, acidentes com mortos, comida ruim, problemas de pagamento.
"Eles nos trataram como escravos", reclama Cemal Özder, que deu duro no aeroporto por nove meses. "Começávamos a trabalhar de manhã, às 8h, e muitas vezes fomos até as 23h. E alguns dizem que precisavam ir madrugada adentro e ainda voltar para o turno da manhã no dia seguinte. Eles faziam pressão o tempo todo: 'mais rápido, mais rápido, vocês têm que terminar', diziam."
Quando ele criticou publicamente as más condições de trabalho, foi demitido, relata Özder, que defende os direitos dos trabalhadores do aeroporto na confederação sindical turca DISK.
Desde o início da construção, em 2015, por volta de 35 mil operários trabalham no canteiro de obras do aeroporto. Segundo Özder, as medidas de seguranças são muitas vezes insuficientes. De acordo com o seu sindicato, ao menos 38 trabalhadores morreram. Algumas pessoas relataram até mesmo centenas de mortes. O governo e a companhia aeroportuária falam de 30 vítimas.
Em meados de setembro, milhares de trabalhadores entraram em greve. De acordo com os sindicalistas, o estopim da paralisação foi um acidente de ônibus, no qual 17 trabalhadores saíram em parte gravemente feridos. Também nesse acidente deve ter havido mortos, mas isso não pôde ser confirmado de forma independente.
O protesto foi dissolvido. De acordo com a mídia, 400 trabalhadores foram temporariamente detidos e vários ainda se encontram sob custódia. "Qualquer um que fale sobre os abusos corre o risco de ser preso", diz Özder. "Este pode até ser o maior aeroporto do mundo, mas, para mim, ele está marcado com o sangue dos trabalhadores."
Samsunlu admite ter havido problemas no canteiro de obras, mas afirma que eles foram resolvidos. "Os trabalhadores pediram mudanças, e nós atendemos os pedidos. Acho que as condições deles estão melhores agora e, em minha opinião, tudo isso é coisa do passado, os operários estão felizes."
Samsunlu diz querer olhar para frente e não para trás. Porque ainda há muito por fazer no novo aeroporto de Istambul, mesmo depois da abertura oficial, nesta segunda-feira, com a presença de Erdogan e vários chefe de Estado. As transferências em grande escala a partir do Aeroporto Atatürk, no oeste da cidade, ocorrerão no final deste ano. Somente em janeiro de 2019, todos os voos partirão do novo aeroporto. Até lá haverá apenas uma movimentação simbólica, com cinco partidas diárias.
Também não há conexão ferroviária. O aeroporto fica a 50 km do centro da cidade. A linha de metrô planejada deve estar pronta somente em 2020.
Já as especulações sobre o batismo do mega-aeroporto correram soltas e incluíram o nome de Abdul Hamid 2°, o último grande sultão do Império Otomano ou mesmo o nome de Recep Tayyip Erdogan. Este, porém, acabou com os boatos ao afirmar que o aeroporto se chamará Istambul, "a maior cidade e também a principal marca do nosso país".
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A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube
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Kadri Samsunlu, o chefe da empresa de administração aeroportuária IGA, se mostra satisfeito. De forma rotineira, ele apresenta os principais dados do megaprojeto: as duas primeiras de um total de seis pistas estão prontas, incluindo a torre de controle em elegante forma de tulipa.
Por volta de 225 mil postos de trabalho deverão ser criados com a construção do aeroporto, que deverá contribuir com cerca de 5% para o Produto Interno Bruto (PIB) da Turquia. "Construímos isso aqui com dinheiro turco, com trabalhadores turcos, com know-how turco", diz Samsunlu. "Isso nos dá uma enorme autoconfiança, e quando olho em volta, penso que conseguimos. Isso me deixa muito orgulhoso." De acordo com ele, já foram investidos 7,5 bilhões de euros, de um total previsto de 10,5 bilhões.
O lançamento da pedra fundamental deste que é o terceiro aeroporto de Istambul ocorreu em maio de 2015. Em menos de quatro anos, Samsunlu e seu pessoal ergueram o projeto colossal no norte da cidade – um prazo que parece um sonho para Berlim. Depois de 12 anos, ainda não há data certa para a abertura do novo aeroporto da capital alemã.
As dimensões do projeto turco são gigantescas: com 76 quilômetros quadrados, o novo aeroporto de Istambul é três vezes maior que o de Frankfurt. É o maior da Europa, com até 90 milhões de passageiros por ano. E este é apenas o primeiro de um total de quatro estágios planejados de expansão. Daqui a dez anos, espera-se que até 200 milhões de passageiros cheguem e partam a cada ano – mais do que em qualquer outro lugar do mundo.
O novo aeroporto gigantesco é também a menina dos olhos do presidente Recep Tayyip Erdogan e um símbolo da ascensão da Turquia a potência econômica global. Erdogan quer tornar Istambul um dos hubs aéreos mais importantes entre a Europa, a Ásia e os países árabes.
Atualmente, porém, a economia turca se encontra em crise, a lira perdeu drasticamente de valor e a inflação atinge níveis recordes. Mesmo assim, Erdogan determinou que o novo aeroporto fosse aberto a tempo para o 95º aniversário da fundação da República da Turquia, por Mustafá Kemal Ataturk.
Mas o megaprojeto também tem um lado negativo. De acordo com a imprensa local, agricultores foram expropriados para a construção. Ambientalistas criticaram o corte de enormes áreas de floresta como sendo o fim do "pulmão verde" de Istambul.
E os trabalhadores, que tiveram que erguer o aeroporto em tempo recorde, relatam condições terríveis no canteiro de obras: parcas medidas de segurança, acidentes com mortos, comida ruim, problemas de pagamento.
"Eles nos trataram como escravos", reclama Cemal Özder, que deu duro no aeroporto por nove meses. "Começávamos a trabalhar de manhã, às 8h, e muitas vezes fomos até as 23h. E alguns dizem que precisavam ir madrugada adentro e ainda voltar para o turno da manhã no dia seguinte. Eles faziam pressão o tempo todo: 'mais rápido, mais rápido, vocês têm que terminar', diziam."
Quando ele criticou publicamente as más condições de trabalho, foi demitido, relata Özder, que defende os direitos dos trabalhadores do aeroporto na confederação sindical turca DISK.
Desde o início da construção, em 2015, por volta de 35 mil operários trabalham no canteiro de obras do aeroporto. Segundo Özder, as medidas de seguranças são muitas vezes insuficientes. De acordo com o seu sindicato, ao menos 38 trabalhadores morreram. Algumas pessoas relataram até mesmo centenas de mortes. O governo e a companhia aeroportuária falam de 30 vítimas.
Em meados de setembro, milhares de trabalhadores entraram em greve. De acordo com os sindicalistas, o estopim da paralisação foi um acidente de ônibus, no qual 17 trabalhadores saíram em parte gravemente feridos. Também nesse acidente deve ter havido mortos, mas isso não pôde ser confirmado de forma independente.
O protesto foi dissolvido. De acordo com a mídia, 400 trabalhadores foram temporariamente detidos e vários ainda se encontram sob custódia. "Qualquer um que fale sobre os abusos corre o risco de ser preso", diz Özder. "Este pode até ser o maior aeroporto do mundo, mas, para mim, ele está marcado com o sangue dos trabalhadores."
Samsunlu admite ter havido problemas no canteiro de obras, mas afirma que eles foram resolvidos. "Os trabalhadores pediram mudanças, e nós atendemos os pedidos. Acho que as condições deles estão melhores agora e, em minha opinião, tudo isso é coisa do passado, os operários estão felizes."
Samsunlu diz querer olhar para frente e não para trás. Porque ainda há muito por fazer no novo aeroporto de Istambul, mesmo depois da abertura oficial, nesta segunda-feira, com a presença de Erdogan e vários chefe de Estado. As transferências em grande escala a partir do Aeroporto Atatürk, no oeste da cidade, ocorrerão no final deste ano. Somente em janeiro de 2019, todos os voos partirão do novo aeroporto. Até lá haverá apenas uma movimentação simbólica, com cinco partidas diárias.
Também não há conexão ferroviária. O aeroporto fica a 50 km do centro da cidade. A linha de metrô planejada deve estar pronta somente em 2020.
Já as especulações sobre o batismo do mega-aeroporto correram soltas e incluíram o nome de Abdul Hamid 2°, o último grande sultão do Império Otomano ou mesmo o nome de Recep Tayyip Erdogan. Este, porém, acabou com os boatos ao afirmar que o aeroporto se chamará Istambul, "a maior cidade e também a principal marca do nosso país".
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