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G20 começa com convocação de protestos e segurança reforçada

Bernd Riegert (em Buenos Aires)

30/11/2018 09h08

Para críticos da globalização, cúpula na Argentina é cara, supérflua e atrapalha o cotidiano dos portenhos. Governo cria forte esquema de segurança para a reunião de líderes. Custos são avaliados em 200 milhões de euros.O ativista Federico Moreno tem muita raiva do governo da Argentina, que ele classifica de neoliberal. Moreno organiza, para o partido esquerdista MAS, os protestos realizados diante do Congresso em Buenos Aires contra a cúpula do G20.

A ministra argentina da Segurança, Patricia Bullrich, recomendou que os 3 milhões de habitantes da capital deixem o centro da cidade para um fim de semana prolongado e declarou como feriado o primeiro dia da cúpula, que começa nesta sexta-feira (30/11).

"Se trabalhadores fazem greve por um dia, ela declara tragédia nacional. Mas quando Trump e companhia chegam, é simplesmente possível interditar a cidade inteira. Isso é injusto e mostra que a Argentina cedeu sua soberania ao G20", reclama Moreno.



De acordo com o governo, entre 25 mil e 30 mil policiais e soldados garantem a segurança da área em que a cúpula é realizada e dos hotéis das 20 delegações, controlam o trânsito e mantêm os manifestantes sob controle. Agências de inteligência estrangeiras fazem a segurança de seus próprios chefes de Estado. Um porta-aviões dos EUA percorre a costa.

Algumas delegações são enormes. O governo dos EUA usou dez aviões para transportar materiais e funcionários e trazer à Argentina, na noite de quinta-feira, o presidente Donald Trump. A comitiva do príncipe herdeiro da Arábia Saudita é composta por 400 pessoas, transportadas em seis aviões.

Na capital da Argentina, nem metrô nem ônibus funcionam nesta sexta-feira. As linhas de trem que levam à periferia, com seus 12 milhões de habitantes, também foram interrompidas. Voos são desviados, o comércio deve permanecer fechado. "O G20 só está na Argentina para mostrar como se oprime os pobres com planos de austeridade", opina Moreno.

A Argentina sofre com uma grave crise econômica e recorreu a empréstimos emergenciais do Fundo Monetário Internacional (FMI), que são condicionados a exigências de reforma. Estima-se que a realização da cúpula custe cerca de 200 milhões de euros. "Com esse dinheiro certamente poderiam ser feitas coisas que fazem mais sentido", afirma o ativista.



Dezenas de organizações sociais e políticas da América Latina se reuniram em Buenos Aires, na chamada Cúpula dos Povos, para servir de contraponto ao G20. Elas convocaram uma grande manifestação para a tarde deste sábado, mas os primeiros protestos em Buenos Aires estão previstos já para esta sexta-feira.

Após rusgas iniciais, a administração da cidade acabou permitindo que a passeata de sábado percorra as principais vias do centro da cidade, que deveriam permanecer interditadas. Moreno espera que tudo ocorra de forma pacífica, diferentemente da última cúpula do G20, em Hamburgo, realizada em 2017, quando a polícia travou batalhas de rua contra vândalos.

"Se houver violência, então ela com certeza virá de estrangeiros ou desordeiros de torcidas de futebol", prevê Moreno. O chefe de polícia de Buenos Aires anunciou que pretende agir com firmeza contra a violência, numa política de tolerância zero.



Nas margens do acampamento dos ativistas, bem ao lado de um boneco inflável de Trump, um pequeno grupo da Alemanha dispôs algumas cadeiras de praia e pendurou cartazes numa cerca. "Saudações de Hamburgo!", diz um deles, e "Bloqueiem o G20!", um outro.

Cerca de 15 ativistas de esquerda de Hamburgo chegaram a Buenos Aires para apoiar os militantes locais. Eles se dizem contra a violência. E afirmam que são simplesmente uma "delegação de St. Pauli", se referindo ao bairro de Hamburgo conhecido pela cena alternativa.

O local onde ocorrerá a cúpula e um teatro que abriga no sábado um banquete para os líderes internacionais dispõem de um esquema de segurança amplamente reforçado. Os participantes da cúpula usam até um aeroporto da cidade especialmente interditado para o evento. Os líderes do G20 pouco verão de Buenos Aires, dos protestos ou dos próprios portenhos.

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