Opinião: Boas notícias, más perspectivas do Brasil na COP24
Na Polônia, o governo brasileiro anunciou orgulhoso o cumprimento antecipado de metas climáticas. Mas o próximo presidente não tem interesse combater o aquecimento global e já abriu caminho para o desmatamento.Na última segunda-feira (10/12), o porta-voz do governo brasileiro ainda em exercício encaminhou-se decidido para o centro de imprensa da 24ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 24), em Katowice, Polônia. Sob o braço, trazia um comunicado oficial, que entregou pessoalmente aos jornalistas de todo o mundo.
No documento, o ministro do Ambiente Edson Duarte anuncia orgulhosamente que o Brasil já preencheu as metas climáticas previstas para 2020, reduzindo em 38% as emissões de gases causadores do efeito estufa, apenas através de medidas de proteção florestal.
Segundo o político do Partido Verde, trata-se de um sinal poderoso e oportuno de que justamente os países em desenvolvimento que encaram os desafios econômicos e sociais podem alcançar suas metas por meio de ação decidida.
O problema é que Duarte não estará muito mais tempo no cargo. No princípio de 2019, o governo Jair Bolsonaro assume o poder. E o presidente eleito não tem a menor simpatia pela defesa ambiental. Após vários anos como um dos motores da proteção climática internacional, pelo menos no médio prazo o país onde fica a importantíssima Região Amazônica recuará nesse setor.
Já se veem os primeiros sinais dessa mudança: a COP25, em 2019, deveria originalmente se realizar no Brasil, mas Bolsonaro não tem qualquer interesse que isso aconteça. Agora se procura um outro país sul-americano disposto a hospedar a conferência, talvez Bolívia ou Chile.
Ambientalistas como a presidente da Greenpeace, Jennifer Morgan, estão seriamente apreensivos quanto ao futuro papel dos brasileiros na luta contra o aquecimento global. Preocupa, por exemplo, Bolsonaro anunciar que permitirá mais desmatamento na mata tropical:
"É absolutamente necessário e importante a Greenpeace e todos os parceiros protegerem a Amazônia e lutarem por ela, independente de quem seja o presidente no Brasil", frisa Morgan.
O presidente eleito anunciou também que dissolverá o Ministério do Meio Ambiente, subordinando-o à pasta da Agricultura. Ao que tudo indica, assim como o americano Donald Trump, ele tenciona abandonar o Acordo do Clima de Paris de 2015, no qual os Estados-membros da ONU se comprometeram com novas metas climáticas nacionais a partir de 2020.
Representantes da população indígena brasileira temem que o novo governo desaproprie suas terras para entregá-las à mineração. Bolsonaro tem enfatizado repetidamente que aquilo que acontece com a floresta amazônica não interessa ao resto do mundo, é assunto do Brasil.
Indagado sobre o futuro chefe de Estado, o porta-voz da presidência liberal-conservadora ainda em exercício dá de ombros. Ambientalistas falam de medo entre a delegação, de mais tarde terem que responder pessoalmente por uma política pró-clima diante do novo, desenfreado, presidente.
As perspectivas não são boas. Nem para o Brasil, nem para o clima global.
Jens Thurau é especialista em questões climáticas da DW e foi enviado especial a Katowice, na Polônia, para a conferência do clima.
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A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube
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No documento, o ministro do Ambiente Edson Duarte anuncia orgulhosamente que o Brasil já preencheu as metas climáticas previstas para 2020, reduzindo em 38% as emissões de gases causadores do efeito estufa, apenas através de medidas de proteção florestal.
Segundo o político do Partido Verde, trata-se de um sinal poderoso e oportuno de que justamente os países em desenvolvimento que encaram os desafios econômicos e sociais podem alcançar suas metas por meio de ação decidida.
O problema é que Duarte não estará muito mais tempo no cargo. No princípio de 2019, o governo Jair Bolsonaro assume o poder. E o presidente eleito não tem a menor simpatia pela defesa ambiental. Após vários anos como um dos motores da proteção climática internacional, pelo menos no médio prazo o país onde fica a importantíssima Região Amazônica recuará nesse setor.
Já se veem os primeiros sinais dessa mudança: a COP25, em 2019, deveria originalmente se realizar no Brasil, mas Bolsonaro não tem qualquer interesse que isso aconteça. Agora se procura um outro país sul-americano disposto a hospedar a conferência, talvez Bolívia ou Chile.
Ambientalistas como a presidente da Greenpeace, Jennifer Morgan, estão seriamente apreensivos quanto ao futuro papel dos brasileiros na luta contra o aquecimento global. Preocupa, por exemplo, Bolsonaro anunciar que permitirá mais desmatamento na mata tropical:
"É absolutamente necessário e importante a Greenpeace e todos os parceiros protegerem a Amazônia e lutarem por ela, independente de quem seja o presidente no Brasil", frisa Morgan.
O presidente eleito anunciou também que dissolverá o Ministério do Meio Ambiente, subordinando-o à pasta da Agricultura. Ao que tudo indica, assim como o americano Donald Trump, ele tenciona abandonar o Acordo do Clima de Paris de 2015, no qual os Estados-membros da ONU se comprometeram com novas metas climáticas nacionais a partir de 2020.
Representantes da população indígena brasileira temem que o novo governo desaproprie suas terras para entregá-las à mineração. Bolsonaro tem enfatizado repetidamente que aquilo que acontece com a floresta amazônica não interessa ao resto do mundo, é assunto do Brasil.
Indagado sobre o futuro chefe de Estado, o porta-voz da presidência liberal-conservadora ainda em exercício dá de ombros. Ambientalistas falam de medo entre a delegação, de mais tarde terem que responder pessoalmente por uma política pró-clima diante do novo, desenfreado, presidente.
As perspectivas não são boas. Nem para o Brasil, nem para o clima global.
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