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Laudo sugere que cacique do Amapá morreu afogado

16/08/2019 14h32

Polícia Federal diz que exame do corpo de líder waiãpi não acusou sinais de violência, contestando relatos de que ele teria sido assassinado a facadas durante uma invasão de garimpeiros.A Polícia Federal informou nesta sexta-feira (16/08) que no exame necroscópico do cacique Emyra Waiãpi que não se encontraram sinais de violência no corpo, sugerindo que a provável causa da morte teria sido afogamento.

A morte de Emyra, no fim de julho ganhou destaque internacional e foi associada a uma invasão de garimpeiros à Terra Indígena Waiãpi, no Amapá. Na ocasião, índios e entidades indigenistas denunciaram que o líder indígena de 63 anos fora assassinado de forma violenta – alguns relatos mencionaram facadas – após uma invasão de garimpeiros na área que provocou a fuga de vários indígenas.

"Apesar das informações iniciais darem conta de invasão de garimpeiros na terra indígena e sugerirem possível confronto com os índios, que teria ocasionado a morte da liderança indígena, o laudo necroscópico não apontou tais circunstâncias", informou a PF em comunicado. O laudo, assinado por dois médicos legistas da Polícia Técnica do Estado do Amapá, estima que a morte do cacique ocorreu entre 21 e 23 de julho. O corpo foi exumado em 2 de agosto.

O laudo aponta a existência de uma lesão superficial na cabeça do índio waiãpi, mas minimiza seu efeito, pois o ferimento não teria atingido planos profundos ou causado fratura craniana. Além disso, os peritos afirmam não ter encontrado lesões ou sulcos que pudessem evidenciar a hipótese de enforcamento ou esganadura, nem lesões penetrantes na região do tórax – o que, segundo a PF, "desmente as primeiras notícias que davam conta de que a liderança teria sido atacada a facadas".

"O laudo conclui que o conjunto de sinais apresentados no exame, corroborado com a ausência de outras lesões com potencial de causar a morte, sugere fortemente a ocorrência de afogamento como causa da morte de Emyra Waiãpi", acrescenta a PF, explicando aguardar o laudo complementar toxicológico para auxiliar na investigação, "não interferindo [isto], contudo, na conclusão pericial quanto à causa da morte por afogamento". A previsão é que o laudo complementar toxicológico seja concluído em até 30 dias.

Em 27 de julho, agentes da PF se deslocaram para a terra indígena, após relatos de que garimpeiros teriam invadido a área em 23 de julho, porém atestaram posteriormente não ter encontrado sinais de invasão. Os waiãpis contestaram as conclusões da PF.

À época em que o caso ganhou repercussão e as informações iniciais ainda apontavam para uma morte violenta, o presidente Jair Bolsonaro contestou a versão de um assassinato cometido por garimpeiros. "Não tem nenhum indício forte que esse índio foi assassinado lá. Chegaram várias possibilidades, a PF está lá, quem nós pudermos mandar, nós já mandamos", disse Bolsonaro em 29 de julho. Bolsonaro ajuntou, ainda, que ONGs e entidades indigenistas usavam os índios como "massa de manobra".

A terra dos waiãpi fica a cerca de 300 quilômetros de Macapá, capital do Amapá, numa área próxima à fronteira com o estado do Pará. Quase 1.300 indígenas da etnia vivem na região.

Nos últimos meses, indígenas de várias áreas da Amazônia vêm denunciando um aumento de invasões por parte de garimpeiros e madeireiros. Recentemente, a liderança do povo yanomami denunciou que até 20 mil garimpeiros estariam atualmente no território, atrás de ouro. Eles desmatam, abrem cavas na terra e contaminam o solo e a água com mercúrio.

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