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Governo alemão vai se ocupar de educação de imãs

Seda Serdar (av)

21/11/2019 16h58

Numa iniciativa para reduzir influência estrangeira sobre líderes religiosos muçulmanos, assim como barreiras linguísticas e culturais, a Alemanha está lançando um novo projeto-piloto para treinar imãs no país.Há muito, o governo alemão vem se debatendo com envolvimento estrangeiro na educação de imãs que dirigem comunidades muçulmanas por toda a Alemanha. Em reação, uma nova associação educacional foi lançada na Universidade de Osnabrück nesta quinta-feira (21/11), com patrocínio para startups do Ministério do Interior.

Embora algumas organizações muçulmanas venham treinando imãs para suas próprias comunidades na Alemanha, a maioria dos sacerdotes atuantes no país é filiada à União Turco-Islâmica de Assuntos Religiosos (Ditib). Dos 4,5 milhões de muçulmanos do país, cerca de 3 milhões são de origem turca.

Foi justamente essa influência externa que levou Berlim a dar um passo tão ousado, observa a deputada Filiz Polat, do Partido Verde: era uma medida que sua legenda "vinha requerendo há tempos".

A Ditib é a maior federação islâmica da Alemanha, contando 900 mesquitas filiadas. Seus imãs são educados, financiados e enviados pela Turquia. A barreira linguística e cultural, assim como a fidelidade de muitos deles ao governo turco, levou o governo alemão a tratar intensivamente do tema nos últimos anos.

Um dos maiores obstáculos para abordar a questão era a aquisição de financiamento, que agora encontra uma solução temporária, através do investimento planejado pelo governo. Segundo Polat, citando uma consulta oficial, o Ministério do Interior já confirmou seus planos para financiamento como startup.

Uma das organizações a participar da nova associação será o Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha (ZMD), confirmou seu presidente, Aiman Mazyek. "Não podemos sempre reclamar que haja imãs estrangeiros", comentou à DW. Mas o estabelecimento da associação é um passo concreto e "um desdobramento positivo, mas que deveria ter sido introduzido décadas atrás".

Nos termos da Lei Fundamental, o Estado alemão deve manter-se fora de assuntos das comunidades religiosas. No entanto, de acordo com a parlamentar Polat, a neutralidade do Estado é salvaguardada através da fundação de uma associação independente, localizada no estado da Baixa Saxônia.

"O seminário de rabinos de Potsdam recebeu financiamento como startup, e essa estratégia vingou", argumenta, referindo-se ao Colégio Abraham Geiger, patrocinado pelo Estado, um passo que "também seria constitucionalmente objetável".

Atualmente, teologia islâmica é ensinada em instituições acadêmicas nas cidades de Münster, Tübingen, Osnabrück, Giessen e Erlangen-Nurembergue. Em outubro, a Universidade Humboldt de Berlim também abriu um instituto de teologia islâmica.

No entanto, os teólogos formados não podem simplesmente trabalhar como imãs na Alemanha, já que os institutos não ensinam a leitura do Alcorão, como conduzir uma prece, nem outras tarefas práticas. Para tal, é necessário uma educação prática separada.

A Secretaria de Ciência e Cultura da Baixa Saxônia informa que seus planos incluem "o estabelecimento de uma associação registrada, em cooperação com organizações e congregações das mesquitas que estejam interessadas". Peritos em teologia islâmica integrarão essa nova associação. A secretaria também sugere que o método pode "funcionar como um modelo" para a educação de imãs em outros países.

O professor Rauf Ceylan, da Universidade de Osnabrück, que anteriormente esboçou um "roteiro" de como a educação de imãs deveria ser praticada na Alemanha, considera a nova iniciativa "um pé na porta" da problemática. No entanto, o projeto não deve começar com "grandes expectativas", ressalvou: "Precisamos simplesmente começar, e acho que quando a qualidade se revelar, o projeto vai ganhar aceitação, no longo prazo."

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Autor: Seda Serdar (av)