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A bomba 'improvisada' pela Rússia que faz a Ucrânia clamar por aviões de guerra

Rússia usa bombas alteradas para poderem ser disparadas de caças - Reprodução
Rússia usa bombas alteradas para poderem ser disparadas de caças Imagem: Reprodução

Lilia Rzheutska

24/04/2023 04h00

Se antes as bombas aéreas teleguiadas eram utilizadas esporadicamente, agora isso ocorre todos os dias na guerra da Ucrânia. No início de abril, a Força Aérea ucraniana informou que a Rússia disparava até 20 dessas bombas por dia ao longo de toda a fronteira, em substituição a mísseis. As bombas ainda têm um ar de improviso, já que ganham "asas" para serem lançadas em aviões de combate.

"Os russos lançam mais e mais dessas bombas por que seus estoques de mísseis já estão se esgotando. Restam alguns poucos, por isso, passaram a usar as bombas aéreas, que são mais baratas", afirmou à DW Yuriy Ihnat, porta-voz das Forças Aéreas ucranianas.

O que são bombas aéreas teleguiadas?

Especialistas ucranianos explicam que há dois tipos de bombas teleguiadas russas. O primeiro destes são as UPAB-1500B, que incluem um sistema de navegação inercial por satélite.

A bomba é projetada para atacar alvos sólidos em terra ou na água, como casamatas de concreto reforçado, postos de comando, pontes ferroviárias e navios de guerra ou de transportes. Esses artefatos, criados por engenheiros russos, são de fabricação recente, mas, segundo especialistas, não é possível utilizá-las massivamente devido aos altos custos de produção.

O Exército russo, no entanto, usa atualmente na Ucrânia, na maioria dos casos, bombas antigas altamente explosivas e originalmente não teleguiadas do tipo FAB, que pesam 500, 1000 quilos ou 1,5 tonelada.

Os peritos avaliam que esses projéteis podem ser convertidos em bombas teleguiadas com o simples acréscimo de asas e de um sistema de navegação GPS, que as tornam um armamento de alta precisão.

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Bombas teleguiadas russas são lançadas de aviões como o Sukhoi Su-24
Imagem: Artem Alexandrovich//StockTrek Images/IMAGO

Oleh Katkov, editor-chefe do jornal ucraniano de comércio Defense Express, avalia que essa conversão é de baixo custo e não requer muito tempo.

Essa informação foi confirmada pelo especialista militar do Centro ucraniano Dmytro Tymchuk para Estudos de Segurança, Oleksandr Kovalenko. "Pode-se produzir com rapidez esse tipo de bombas, das quais ainda existem muitas em estoque", afirmou.

Segundo Kovalenko, a Rússia ainda será capaz de atacar a Ucrânia com essas antigas bombas soviéticas por muito tempo. O especialista ressalta que esses artefatos são de baixa qualidade, uma vez que as asas são simplesmente soldadas a um pedaço de ferro velho.

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Ucrânia utiliza sistemas antiaéreos da era soviética, como o S-300, para interceptar bombas teleguiadas russas
Imagem: Sergei Savostyanov/ITAR/TASS/imago

Sistemas de mísseis antiaéreos não bastam

As aeronaves capazes de transportar as bombas teleguiadas são os aviões de combate Su-30, Su-35, Su-24, Su-34 e alguns helicópteros de ataque. Segundo Yuriy Ihnat, as aeronaves russas deixaram de voar sobre o território ucraniano um mês após o início da invasão ao país vizinho, em fevereiro do ano passado.

Os russos se limitam a lançar essas bombas teleguiadas de dentro de seu território, próximo da fronteira ucraniana, ou das áreas sob domínio russo ao longo das frentes de batalha.

"Os aviões russos conseguem lançar essas bombas 50 a 70 quilômetros dentro do território ucraniano. A distância depende da altitude e da velocidade da aeronave e do quanto eles estão próximos das fronteiras ou das frentes de batalha", explicou.

"Mas, esses aviões não voam além da fronteira porque sabem que podem ser abatidos. Quanto mais alto um avião voa, maior a possibilidade de ser detectado por nossas estações de radar", diz o porta-voz da Força Aérea ucraniana.

Para se defender das bombas teleguiadas, a Ucrânia utiliza sistemas de mísseis antiaéreos da era soviética, em particular, os modelos Buk ou S-300. Esses sistemas, porém, têm pouca eficácia, uma vez que é bastante difícil interceptar bombas aéreas com a utilização de mísseis.

"Os mísseis antiaéreos não atingem diretamente os alvos, mas explodem próximo a eles e os perfuram com fragmentos. Isso normalmente não funciona no caso de uma bomba aérea", enfatizou Ihnat. Ele diz que a Ucrânia precisa de sistemas de defesa modernos, especialmente os Patriot e os SAMP-T para destruir essas bombas.

A Ucrânia, porém, não possui sistemas antiaéreos suficientes para cobrir toda a extensão das frentes de batalha ou de suas fronteiras com a Rússia e o Belarus. Além disso, esses sistemas modernos não devem ser colocados próximos da zona de combates, uma vez que as forças russas tentariam imediatamente destruí-los, mesmo que somente por questões propagandísticas, diz Oleg Katkov.

"Este seria o objetivo número um dos russos. Eles utilizariam tudo o que têm contra os sistemas Patriot", observou. Katkov acredita que os russos estariam até dispostos a sacrificar seus caças apenas para infligir perdas significativas na Ucrânia.

Ucrânia precisa de aviões de combate

Segundo os especialistas, a melhor proteção para a Ucrânia das bombas teleguiadas seriam os modernos caças americanos F-16. "As bombas são difíceis de serem atingidas, dessa forma, seria mais fácil destruir seus transportes, ou seja, os aviões russos", diz Oleksandr Kovalenko.

"Para conseguir combatê-los, a Ucrânia precisa de caças de quarta geração com alcance de mais de 100 quilômetros, como os F-16 ou os aviões de combate polivalentes Eurofighter Typhoon e Rafale", explica o especialista.

Ele se diz convencido de que é impossível proteger as regiões de fronteira e as frentes de batalha das bombas teleguiadas russas, a não ser que a Ucrânia possa utilizar os aviões de combate adequados.