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Presidente do Paraguai diz que narcotráfico é "realidade cultural" do país

Jorge Saenz/AP
Imagem: Jorge Saenz/AP

Em Assunção

01/07/2015 17h17

O presidente do Paraguai, Horacio Cartes, disse nesta quarta-feira (1º) no Congresso, durante o discurso de avaliação de sua gestão do último ano, que o crime organizado e o narcotráfico são "uma realidade cultural" no país.

O Paraguai é o principal produtor de maconha da América do Sul e o segundo de toda a América, atrás apenas do México, segundo as autoridades. Cerca de 80% dessa produção é destinada ao Brasil por terra e pequenos aviões.

Cartes assegurou que a presença do narcotráfico e os grupos criminosos organizados, especialmente na região norte do país, são consequência de "60 anos de abandono".

O presidente paraguaio afirmou, além disso, que desde que assumiu a presidência, em 2013, as apreensões de maconha se duplicaram, tanto no número de quilos da erva já colhida como quanto ao número de hectares de plantações destruídas.

"Não devemos focar as políticas nas substâncias, mas nas estruturas que fazem do narcotráfico um negócio. Duplicar a apreensão de droga dimensiona um sintoma, mas não resolve a raiz do problema. Apostamos na inteligência para desbaratar as estruturas criminosas que fazem do narcotráfico um negócio", comentou.

Cartes acrescentou que estas ações produziram um prejuízo financeiro ao negócio do narcotráfico de mais de US$ 500 milhões, e enfatizou que "os crimes emblemáticos de figuras públicas já não ficam impunes".

A existência de supostos vínculos entre o tráfico de drogas e alguns políticos paraguaios, conhecida com o nome de "narcopolítica", foi revelada após o assassinato em outubro do ano passado do jornalista Pablo Medina, que investigava estas conexões.

Neste sentido, o presidente paraguaio disse que o governo espera "em breve" a extradição de Vilmar Acosta Marques, acusado de ser o autor intelectual do assassinato de Medina e de seu assistente, Antonia Almada, que está atualmente detido no Brasil.

Cartes também se referiu aos grupos armados que ameaçam criadores de gado e fazendeiros no norte do país, o Exército do Povo Paraguaio (EPP) e a Associação Camponesa Armada (ACA), e destacou que 72% das mortes de pessoas vinculadas a esses grupos aconteceram durante sua gestão.

Em 2013, o governo de Cartes criou as Forças de Tarefa Conjunta, um contingente de militares e policiais destinado ao combate desses grupos, aos quais o Estado responsabiliza pela morte de 42 pessoas desde 2008.