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Sobe para 128 o número de mortos em atentado contra ato pela paz na Turquia

Em Ancara

11/10/2015 08h01

Subiu para 128 o número de mortos no atentado ocorrido no sábado (10) durante uma passeata a favor da paz convocada por grupos de esquerda e sindicatos em Ancara, capital para Turquia, de acordo com o colíder do Partido Democrático dos Povos (HDP), Selahattin Demirtas, em discurso realizado neste domingo (11) em homenagem às vítimas, antes de a polícia dispersar com gás lacrimogêneo e golpes de cassetete a multidão que participavam do ato.

Tudo indica que dois suicidas detonaram duas bombas no meio da multidão, que tinha se reunido perto da Estação Central de Trens da capital turca. O primeiro-ministro da Turquia, Ahmet Davutoglu, afirmou que "há nítidas indicações" nesse sentido, embora não tenha querido atribuir a responsabilidade do fato a uma organização específica. As bombas explodiram às 10h04 (horário local, 4h04 em Brasília).

Neste domingo, as forças de segurança turcas ergueram barricadas em todas as ruas que levam à praça de Ancara, onde ocorreu o atentado mais sangrento da história do país, informou a imprensa local. Os agentes não permitiram a passagem de delegações de vários partidos políticos e organizações civis que pretendiam homenagear às vítimas.

Uma nota divulgada pelo partido da esquerda pró-curda, a quarta força do parlamento turco, diz que já foram identificados 120 corpos, faltando outros oito. Já os números oficiais do governo, atualizados na noite de ontem, indicam 95 mortes.

Dois candidatos a deputado nas próximas eleições da Turquia, marcadas para ocorrer no próximo dia 1º de novembro, foram vítimas das explosões de ontem em Ancara, afirmou o HDP. Já o partido social-democrata CHP, o maior da oposição, informou que 11 membros de sua organização juvenil morreram no massacre.

O governo da Turquia, por sua vez, atualizou hoje os números de feridos em comunicado divulgado pelo escritório do primeiro-ministro: 160 pessoas ainda estão nos hospitais, 65 em unidades de tratamento intensivo. No total, 508 pessoas deram entrada nos hospitais após a tragédia, e 317 delas já receberam alta, acrescenta o comunicado, que não atualizou o número de mortos.

Apesar de o governo ter condenado o atentado, o massacre reacendeu as tensões entre os setores da esquerda e o partido islamita AKP, no poder desde 2002, a três semanas das eleições gerais antecipadas no país.

A declaração do primeiro-ministro interino, Ahmet Davotuglu, ao declarar três dias de luto "a todas as vítimas do terrorismo", entre eles soldados e policiais mortos em ataques da guerrilha curda, contribuiu para ampliar a sensação que, inclusive em momentos trágicos, o governo tenta obter os votos nacionalistas.

"Aqueles que fizeram isso com a mentalidade de que o 'Estado é nosso' vão pagar por isso. Não queremos ações de vingança. O primeiro passo será no dia 1º de novembro", disse o colíder do HDP, Selahattin Demirtas, durante a cerimônia no local do atentado, citando a data das eleições.

Ninguém reivindicou a autoria do atentado, mas, segundo o jornal "Hürriyet", a polícia já identificou os restos mortais dos dois autores do ataque. Eles usaram bombas com TNT, que continham bolas de aço para conseguir um efeito mais mortífero.

A mesma estratégia foi usada no ataque suicida que deixou 34 mortos em uma assembleia de ativistas pró-curdos em Suruç, que, conforme as investigações, foi realizado por um jovem turco islamita treinado pelo Estado Islâmico (EI).

Na madrugada de hoje, a polícia da Turquia prendeu 14 pessoas suspeitas de pertencer ao EI na Turquia, informa o "Hürriyet", mas a operação não teve relação com o atentado de ontem.

"Pediram paz e viram morte"

As explosões na manifestação foram tão fortes que explodiram as espessas janelas da estação ferroviária. "É a pior tragédia terrorista na história da Turquia. Depois da explosão, fui lá perto e posso garantir que nunca na vida vi uma coisa igual. Havia partes de corpos por todos os lugares. As pessoas pediam a paz, mas viram a morte", disse à Agência Efe Farouk Bildirici.

Outros viveram o atentado ainda mais de perto. "Até o maço de cigarros no meu bolso está com sangue. Meus amigos da universidade morreram. Um amigo meu, médico, de 30 anos, morreu. Ontem à noite saímos juntos. Agora não está mais aqui", contou por telefone à Efe uma jovem psicóloga que estava na manifestação, enquanto se dirigia a um hospital para doar sangue.

"Vão nos matar. O Estado vai matar um por um", disse a jovem psicóloga, que afirmou que as autoridades foram coniventes com o ato.

Mas há quem se mostre decidido a enfrentar o governo, como Yüksel Eken, um contador aposentado, que estava muito perto da explosão hoje. "Fui à passeata para pedir a paz. Os que explodiram estas bombas tem que saber que o pior que eu vi na minha vida não vai me impedir de marchar a favor da paz", afirmou à Efe.

Imprensa proibida de noticiar

O Conselho Supremo de Rádio e Televisão da Turquia (RTÜK) decretou uma "medida temporária" que proíbe a imprensa de divulgar notícias sobre o atentado.

O órgão afirmou que tomou a decisão para "prevenir danos à segurança nacional ou graves perturbações da ordem pública", segundo o comunicado divulgado pela agência "Anadolu".

Os meios de comunicação estão descumprindo a ordem, até mesmo as emissoras públicas do país, e seguem divulgando informações relacionadas com o atentado, além de entrevistas com figuras públicas ou análises sobre a possível responsabilidade do ataque.

O RTÜK tem imposto vários bloqueios ao longo do ano ao trabalho da imprensa após atentados terroristas com "acompanhamento desigual".