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Alemanha tem 2016 marcado por atentado e desgaste de Merkel no poder

26/12/2016 17h03

Gemma Casadevall.

Berlim, 26 dez (EFE).- A Alemanha vivenciou no fim de 2016 um atentado terrorista com características semelhantes ao que ocorreu em julho na cidade de Nice, na Riviera Francesa, e que provocou a morte de 12 pessoas e deixou mais de 45 feridos.

O tunisiano Anis Amri, de 24 anos, foi apontado pelas autoridades alemãs como o homem que estava ao volante de um caminhão que atropelou uma multidão na noite do dia 19 de dezembro em uma popular feira de Natal de Berlim.

A autoria do crime foi reivindicada pelo Estado Islâmico, que divulgou um vídeo no qual Amri jurava lealdade ao líder do grupo terrorista, Abu Bakr al Baghdadi - embora na gravação não haja qualquer menção ao atentado na capital alemã.

O caso chocou a opinião pública internacional. Amri já havia estado sob vigilância policial entre março e setembro deste ano na Alemanha, onde era considerado uma ameaça potencial pelas autoridades do estado da Renânia do Norte-Vestfália.

O tunisiano teria planejado um assalto que ajudaria a custear a compra de armas automáticas para serem usadas em um atentado. Além disso, Amri já tinha sido acusado de tráfico de drogas e de participar de uma briga de bar. Porém, como nada ficou comprovado, o monitoramento foi cancelado.

Amri acabou morto em uma troca de tiros com a polícia italiana no dia 23, após ser abordado em um patrulhamento de rotina e balear um dos agentes no ombro.

O ano de 2016 na Alemanha também evidenciou um desgaste de Merkel no poder, pressionada pela crise dos refugiados e o auge da direita radical, o que pretende enfrentar tentando sua terceira reeleição.

À frente da União Democrata-Cristã (CDU) desde 2000 e na Chancelaria desde 2005, a mais antiga líder da Europa se mostrou finalmente vulnerável em uma União Europeia que acumula fendas.

As cinco eleições regionais realizadas em todo o país em 2016 deram à Alternativa para a Alemanha (AfD) resultados expressivos para um partido respaldado pelo voto xenofóbico, que poderia se transformar na terceira força em escala nacional.

A grande vitória da AfD foi na Saxônia-Anhalt, onde obteve 24% dos sufrágios, o que foi atribuído ao voto de protesto típico do leste alemão, mais afetado pelo desemprego e precariedade.

Em Baden-Württemberg, símbolo de prosperidade e governado pelos Verdes, a direita radical obteve 15% dos votos, resultado parecido com o de Berlim, dominado pela social-democracia, enquanto em Meclemburgo-Pomerânia a AfD superou a votação da CDU.

O partido cresceu rápido em todo o espectro parlamentar e é provável que em 2017 consiga entrar no Bundestag (câmara baixa), onde em toda a história da República Federal da Alemanha a extrema-direita nunca esteve presente.

Merkel se culpou pelo auge do voto de protesto por ter aberto as fronteiras alemãs aos refugiados e por defender a medida afirmando que a Alemanha será capaz de acolhê-los.

Desde o início de 2015, a maior economia europeia recebeu 1,2 milhão de refugiados, mas Merkel rejeitou várias vezes a exigência da União Social-Cristã (CSU) de limitar a 200 mil o número anual de asilados.

Em busca de soluções, a chanceler impulsionou o acordo migratório com a Turquia, pelo qual foi criticada por se tornar "refém" do autoritário presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

A crença de que a Alemanha seria capaz de receber os refugiados perseguiu Merkel, como ela mesma reconheceu, embora isso não tenha desviado seu foco, tampouco a dissidência permanente da CSU, partido hegemônico na Baviera, estado pelo qual entrou no país a maioria dos refugiados.

O ano de 2016 começou com a comoção pelos abusos sexuais e roubos registrados na noite de réveillon na cidade de Colônia, com requerentes de asilo entre os suspeitos.

Em julho, a Baviera foi sacudida por dois atentados jihadistas cometidos por refugiados, e os meses seguintes foram de operações de segurança em todo o país contra o radicalismo islâmico.

A Alemanha vive o medo de, cedo ou tarde, ser alvo de algum atentado devastador, e Merkel reforçou as medidas de segurança e agilizou as expulsões de refugiados condenados.

A chanceler recusou durante meses se pronunciar sobre se tentaria a reeleição, em parte por não ter assegurado o apoio da CSU na Baviera.

Merkel agora tem o desafio de enfrentar o populismo global e o auge da extrema-direita europeia. Seus críticos interpretaram a nova candidatura como uma fraqueza e falta de alternativa na liderança de seu partido.

A líder também enfrenta ameaças de insubordinação na CDU, que no congresso rejeitou a dupla nacionalidade para filhos de imigrantes nascidos no país.

Apesar de questionada, Merkel parece disposta a chegar aos 16 anos no poder e se tornar a chanceler com mais tempo no comando do país, a exemplo de Helmut Kohl (1982-1998). Para tanto, deverá ser reeleita e cumprir seu mandato até o fiim.