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Hedy Lamarr, atriz e inventora, criou o sistema precursor do Wi-Fi moderno

23/04/2017 06h04

Magdalena Tsanis.

Madri, 23 abr (EFE).- Ela protagonizou o primeiro orgasmo feminino em primeiro plano no polêmico "Êxtase" (1933) e entrou para a história como a sensual Dalila do mítico filme de Cecil B. De Mille, mas Hedy Lamarr (1914-2000) foi também uma mente privilegiada que inventou uma técnica de encriptação precursora do Wi-Fi.

Aos 51 anos, a atriz austríaca escreveu suas memórias sem mencionar sua faceta de inventora - também idealizou um sistema melhorado de semáforos e um refresco em pastilha -, que finalmente estão detalhados na edição revisada da obra.

Seu invento, criado junto com George Antheil, foi "o salto de frequência", uma técnica de encriptação idealizada para teleguiar torpedos contra os nazistas.

O sistema foi chave no desenvolvimento do chamado 'espectro alargado', uma forma de utilizar várias frequências de rádio sem interferências na qual se baseiam as redes sem fios.

Lamarr e Antheil viajaram juntos em 1942 para ceder grátis a patente ao exército dos Estados Unidos, mas o governo não os levou a sério.

Embora nunca tenha sido usada durante a Segunda Guerra Mundial, a invenção foi recuperada durante a crise dos mísseis de Cuba em 1962. Mas apenas em 1997 o casal obteve o reconhecimento público, ao ser premiado pela Electronic Frontier Foundation e receber um Bulbie (o Oscar dos inventores).

Filha de um banqueiro austríaco e de mãe húngara, culta e poliglota, Lamarr nasceu em Viena em 9 de novembro de 1913 como Hedwig Eva Maria Kiesler. Recebeu uma educação excelente e começou a cursar Engenharia, mas seu primeiro marido, o fabricante de armas Friedrich Mandl, a obrigou a abandonar os estudos.

Acabou escapando, de seu marido e dos nazistas, primeiro para Paris e depois para Londres, onde conheceu Louis B. Meyer, o magnata da Metro Goldwyn Mayer.

Antes disso, já tinha feito suas primeiras incursões como atriz na Alemanha, embora a que mais deu o que falar e lhe abriu portas foi "Êxtase", proibido durante 20 anos em vários estados americanos.

Desde o começo, Lamarr demonstrou caráter e determinação para tomar as rédeas de sua carreira e negociar com os estúdios. Rejeitou o primeiro contrato que lhe ofereceu o mesmo Meyer em Londres, e depois rumou para os Estados Unidos e conseguiu um melhor.

Quando tinha alcançado certo status conseguiu se desfazer desse contrato para trabalhar livremente com outros estúdios. Menos sorte teve, segundo ela mesma confessa, na hora de escolher papéis. Rejeitou "Laura" de Otto Preminger, "À Meia Luz" de George Cukor e até "Casablanca", de Michael Curtiz.

Com Ingrid Bergman, que chegou à MGM quase ao mesmo tempo que ela, contou que tinha certa rivalidade e que definitivamente perdeu o respeito por ela no dia que viu como deixou em uma festa seu então marido, Peter Lindstrom, para ir embora com Roberto Rossellini.

Também fala de suas relações com John F. Kennedy, e do conselho que este lhe deu: "Hedy, assuma responsabilidades, é o segredo da vida, tente fazer tudo o que puder, identifique-se com todos, ligue-se a todos"; ou com Frank Sinatra, simplesmente um amigo.

Casada e divorciada seis vezes, as memórias de Lamarr são recriadas em episódios sexuais com homens e mulheres, embora muitas dessas aventuras devam ser analisadas, segundo se adverte no prólogo, já que o livro foi redigido a partir de gravações com a diva.

Quando foi publicado, o escândalo foi tal que a atriz desautorizou os escritores e disse que quase tudo era ficção. O último capítulo do livro é uma espécie de compêndio de seu pensamento sendo já uma mulher madura e inclui frases como estas: "Sou inimiga jurada de toda convenção" e "Qualquer garota pode ser glamorosa. Somente tem que ficar quieta e parecer estúpida".

Outra frase de impacto é: "Não temo a morte porque não temo nada que não compreendo. Quando começo a pensar nisso, peço uma massagem e acaba o problema".