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Em livro, papa revela preocupação com corrupção e drogas na América Latina

30/10/2017 13h07

Cristina Cabrejas.

Cidade do Vaticano, 30 out (EFE). - O papa Francisco lamenta o abandono do projeto da "Pátria Grande" e se mostra preocupado com "a corrupção e o eixo da droga" na América Latina, no primeiro livro-entrevista dedicado à sua região e que é lançado nesta segunda-feira na Argentina e nas próximas semanas nos outros países.

Em "Latinoamérica Conversaciones con Hernán Reyes Alcaide" (Editora Planeta) estão reunidos encontros que o jornalista argentino, correspondente desde 2015 da agência "Télam" em Roma e no Vaticano, teve com o pontífice e que mostram o olhar e as preocupações do maior representante da Igreja Católica com esta parte do mundo.

"O verdadeiro projeto da América Latina, o da Pátria Grande, de San Martín e de Bolívar (José de San Martín e Simón Bolívar); ou de Artigas (José Artigas), por exemplo, hoje está esquecido e é, para mim, um dos mais brilhantes. Esse projeto hoje não existe", responde o pontífice no livro.

Ele lamenta que a região tenha mudando o caminho que estava certo e acredita que a explicação possa estar na corrupção e nas droga.

"A América Latina neste momento também é vítima da cultura do dinheiro. A Pátria Grande hoje já não tem tanta força. Existe o Mercosul e prossegue a Unasul, mas a região está, em grande parte, a serviço do sistema internacional financeiro (...) E por isso a integração some", acrescenta.

No livro, o pontífice comenta também outros problemas da América Latina como "o poder de influência da Igreja, a injustiça social, a falta de cuidado com o meio ambiente " e diz que a região "é vista por muitos como terra de escravos".

O papa já falou sobre essas questões em várias ocasiões, mas Reyes, de 34 anos, conseguiu aprofundar o debate com um diálogo fluido, ameno e acessível a todos.

O autor, o primeiro não europeu a escrever um livro junto com o papa, explica em entrevista à Agência Efe que o texto foi pensado para dar uma visão geral da América Latina, mas sem entrar nas diferentes situações sociais e políticas de cada país para que a leitura seja atual. Segundo Reyes, a seleção de perguntas foi totalmente sua e não houve qualquer interferência de Francisco sobre que perguntar ou não.

Embora o papa não tenha alterado a ideia do jornalista, ele manda uma mensagem implícita aos frequentes pedidos de mediação do Vaticano para as diferentes situações políticas dos países latino-americanos.

"Não podem esperar da Santa Sé ou do papa que definam quando um governo é legítimo ou não é. Pode esperar que a Santa Sé defenda os desprotegidos, que encoraje o diálogo e a liberdade, que se manifeste perante violações dos direitos humanos, mas não que se situe em meio a disputas políticas locais como mais um ator político", ressalta.

Com 200 páginas, o livro traz ainda aspectos pessoais pouco tratados até agora, como a importância da "vivência pessoal na hora de formar sua visão ecumênica e a sua preocupação com o meio ambiente que tomou dimensão mundial com a encíclica "Laudato si'", de 2015", destaca Reyes. E revela as dificuldades do papa para utilizar as novas tecnologias, apesar de ser o chefe de Estado mais seguido no Twiter.

Ele reconhece que alguns criticam a sua forma simples de falar, mas insiste que para os jovens é preciso usar uma linguagem acessível.

Já aos católicos latino-americanos ele pede que "fortaleçam a democracia".

"Porque, como todo o sistema político, se não é cuidado, tende a se degradar. E existem países onde a democracia pode ser nominal, mas não é real".