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Ameaças do narcotráfico deixam alunos do sul do México sem aulas

Por Martí Quintana

Chilapa (México)

17/11/2017 06h01

Por ameaças de supostos grupos criminosos em redes sociais, várias cidades mexicanas como Chilapa, no estado de Guerrero, mantêm suas escolas fechadas, enquanto professores e alunos tentam voltar à normalidade em meio ao temor de represálias.

"Por Whatsapp estão sendo enviados comunicados criminosos no qual dizem que não pode haver aulas porque supostamente há muitos alunos envolvidos em certos problemas, e não querem ter que tirá-los das escolas", relatou à Agência Efe uma professora de Chilapa, que prefere manter o anonimato por segurança.

Esta professora lembra que após o poderoso terremoto de 19 de setembro, que afetou milhares de escolas mexicanas, foram fechados os centros educativos de toda esta região ao pé da montanha de Guerrero.

Quando quiseram reabrir há uma semana, professores e estudantes encontraram um problema ainda maior: a ameaça do narcotráfico de atuar com violência contra eles.

"Estão pedindo que não haja trabalhos, porém tudo isto está afetando todos os alunos desta cidade", lamentou a professora.

O titular da Secretaria de Educação de Guerrero, José Luis González da Vega, informou no último sábado que, pela insegurança gerada pelo crime organizado, havia mais de cem centros educativos de todos os níveis fechados nesta região do estado.

Muitas deles em Chilapa, uma cidade de cerca de 120 mil habitantes que fica aos pés das montanhas de Guerrero, Meca do cultivo de papoula no México.

Esta população é foco habitual de violência do crime organizado, que briga para controlar a principal rota de saída deste opiáceo com o qual se produz a heroína que é comercializada nos Estados Unidos.

Aparentemente, Chilapa parece tranquila nestes dias, embora com uma ampla presença de policiais e militares. Mas as escolas permanecem totalmente fechadas e o terror é vivido das portas para dentro.

"Está sendo criado um caos pela educação, devido a essas mensagens criminosas que estão sendo enviadas, dizendo que não querem que haja aulas. Porque se houver, vão inclusive matar os professores. Isso é o que dizem os comunicados", destacou a professora.

Perante este preocupante panorama, pais e docentes se organizaram para que os estudantes não percam o ano letivo.

"Ganhamos pouco, mas com esse pouco estamos pagando professores particulares em casa para que as crianças avancem", contou à Efe Virgínia González, mãe de um estudante de ensino médio.

Nestes dias, os professores enviaram pela internet distintas tarefas aos seus alunos, mas "não é a mesma coisa, há alguns que não entendem os temas", afirmou a professora.

Os professores inclusive marcaram data para vários exames, embora ainda não saibam quando será o regresso às salas de aula. Estão à espera de uma pronta volta à normalidade prometida pelas autoridades.

Segundo informou recentemente o governador de Guerrero, Héctor Astudillo, já pediu apoio federal para que o exército resguarde as escolas de Chilapa e outros municípios da região, como já acontece no balneário de Acapulco, muito castigado pelo crime organizado.

Enquanto os habitantes de Chilapa esperam uma melhoria da situação, Verónica resumiu sua vivência no dia a dia desta cidade, situada em uma das zonas mais pobres do México, que só aparece nos noticiários pelas suas violentas crônicas.

"Temos que confiar em Deus, agradecer pelo dia em que amanhecemos bem. Não há outra coisa que possamos fazer", ressaltou esta mulher.

Sem estudos, Verónica não quer que os seus filhos "vivam o que eu estou vivendo. Gostaria que eles tivessem mais esperança", concluiu.