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Explosão da violência que provocou o êxodo rohingya completa 1 ano

25/08/2018 05h30

Yangun (Mianmar), 25 ago (EFE).- As autoridades e grande parte da população da Mianmar amanheceu neste sábado indiferente ao aniversário da crise que há um ano desencadeou o êxodo de mais de 700 mil membros da minoria rohingya para Bangladesh.

No dia 25 de agosto de 2017, um grupo de militantes do Exército de Salvação Rohingya de Arakan (ARSA, sigla em inglês), descrito como "terrorista" pelas autoridades do país, atacou cerca de 30 postos policiais no estado de Rakhine, no oeste do país.

O ataque estimulou uma operação militar em andamento na região que causou a fuga em massa da população rohingya, uma minoria em grande parte muçulmana, a quem as autoridades deste país de maioria budista negam a cidadania e qualificam de "bengalis".

Em comunicado, ARSA afirmou sua intenção de continuar com a luta para permitir o regresso dos rohingyas para Rakhine e acusou as autoridades de Mianmar de procurar a destruição do seu povo.

Não há menção destes eventos na primeira página de hoje do jornal oficial "Globais New Light of Mianmar", que inclui apenas uma pequena notícia nas suas páginas internas sobre uma visita organizada pelo governo de jornalistas locais e do exterior a estrangeiros a Rakhine recentemente.

Em uma aldeia deste estado, um muçulmano rohingya explicou hoje à Agência Efe através de uma rede social que a situação está "calma", mas existe uma grande presença de policiais da fronteiras e soldados na região.

O rohingya, que não revelou seu nome por medo de represálias, não tem liberdade de movimento e vive estreitamente vigiado, como o restante dos membros da sua comunidade.

Os soldados foram acusados pelo Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos de cometer uma operação de "limpeza étnica" com indícios de "genocídio" por meio de assassinatos, estupros em massa e queima de casas em agosto do ano passado.

O Exército negou as acusações, exceto no caso de sete soldados que foram condenados a dez anos de prisão pelo massacre de uma dezena de rohingyas, um caso descoberto por dois jornalistas que estão sendo processados por revelarem segredos de Estado.

Os militantes de ARSA mataram no ano passado 12 policiais e estão sendo acusados de assassinar também pelo menos 99 hindus, incluindo mulheres e crianças, em Rakhine, segundo as autoridades locais e a Anistia Internacional.

Em 2016, a ARSA protagonizou outro ataque neste mesmo estado, provocando a fuga para Bangladesh de pelo menos 60 mil membros desta comunidade.

A atual crise acontece após anos de discriminação contra os rohingyas, que exigem a cidadania e serem considerados um grupo étnico, assim como décadas de violência em Rakhine, como as operações militares dos anos 1970 e 1990 e a violência sectária de 2012.

As autoridades do país asseguram que estão prontas para receber os refugiados rohingyas e iniciar um processo de verificação de seu status legal, e para isso construíram instalações de recepção e casas perto da fronteira.

No entanto, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) não acredita que as circunstâncias atuais sejam propícias para que o retorno ocorra de maneira "segura, digna e voluntária".