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Eleições na Bósnia aumentam a incerteza sobre futuro do país

07/10/2018 22h02

Sarajevo, 7 out (EFE).- A vitória do trio presidencial na Bósnia-Herzegovina do nacionalista sérvio Milorad Dodik, do nacionalista muçulmano Sefik Dzaferovic e do político de centro-esquerda croata Zeljko Komsic aumenta a incerteza sobre o futuro do país balcânico.

A Comissão Eleitoral Central do país divulgou os primeiros resultados após a apuração de 43,42% das urnas. Dzaferovic está com 37,97% dos votos, Komsic com 49,47% e Dodik 55,15%.

Exatos 53,36% dos 3,4 milhões de bósnios com direito a voto participaram neste domingo das eleições gerais para escolher as instituições centrais e as de suas duas entidades com ampla autonomia, a federação de muçulmanos e croatas e a República Srpska, de maioria sérvia.

Nestas oitavas eleições desde o fim da guerra (1992-1995) vão ser eleitos também os deputados do Parlamento Central, de complicada estrutura, os Parlamentos das duas entidades autônomas, o presidente da entidade servo-bósnia e os Parlamentos dos dez cantões que compõem a entidade muçulmano-croata.

As contínuas divergências internas e o escasso poder das instituições centrais desaceleraram as reformas de aproximação com a União Europeia (UE).

As diferenças entre os líderes dos povos que compõem o país chegam até a própria configuração do Estado, e enquanto as maiores legendas muçulmanas buscam mais centralização, os sérvios se opõem a qualquer perda de autonomia e os croatas querem mais direitos coletivos.

Dodik, líder da União dos Social-Democratas Independentes (SNSD), político de forte discurso nacionalista e dominante entre os servo-bósnios durante mais de uma década, declarou esta noite que sua lema em seu novo posto será "a República Sérvia antes de tudo".

Ele disse que vai rejeitar qualquer tentativa de subordinação da entidade servo-bósnia em relação às aspirações de centralização, para tornar mais efetivo o funcionamento do Estado.

"Acredito que na Bósnia-Herzegovina podem ser feitos progressos se houver respeito de todos", declarou o político, que muitas vezes qualificou o país como "fracassado".

Dodik, próximo à Rússia, é um crítico da política do Ocidente, que descreve como "de pressões e degradação do povo sérvio", e de favorecer as tentativas dos muçulmanos de centralizar o país.

Seus críticos temem que no posto na Presidência colegiada ele tentará obstruir o trabalho dessa instituição e dificultar a entrada da Bósnia na UE e na Organização do Atlântico Norte (Otan).



Sua eleição acrescenta incerteza e poderia significar uma constante crise em um país já profundamente dividido e pouco eficaz em nível central.

Os analistas veem estas eleições como decisivas para a Bósnia, já que, ou lhe permitirão avançar rumo a UE e Otan, ou freará essas ambições por causa de suas rivalidades étnicas.

Uma surpresa nesta eleição foi a escolha de Komsic como membro croata da chefia colegiada do país, já que o nacionalista Dragan Covic, atual co-presidente bósnio, era o favorito.

Komsic, líder da Frente Democrática (DF), que foi membro da Presidência bósnia de 2006 a 2014, atraiu votos dos muçulmanos, mais numerosos na Federação que compartilham com os croatas.

Este político, que defende um conceito de país de cidadãos e não de etnias, declarou esta noite que "servirá a todos os cidadãos da Bósnia-Herzegovina", e sua mensagem para o povo croata foi que "não há razões para medo nem apreocupação".

Covic, que pedia, sem sucesso, o direito dos bósnio-croatas de escolher sozinhos seus líderes sem o voto dos muçulmanos, disse neste domingo que os resultados eleitorais "podem gerar uma grande crise".

Está prevista uma difícil formação das instituições na entidade muçulmano-croata e em nível central, visto que se considera que a conservadora União Democrática Croata BiH (HDZ BiH), de Covic, será o partido mais votado entre os bósnio-croatas.

O novo membro muçulmano da Presidência bósnia, Dzaferovic, é o vice-presidente do nacionalista e governante Partido de Ação Democrática (SDA), a maior legenda entre os bósnios muçulmanos próximos da Turquia.

É considerado um político pragmático e sem carisma, mas conta com o apoio do líder do SDA e principal figura entre os políticos muçulmanos, Bakir Izetbegovic, que cumpriu dois mandatos seguidos na Presidência bósnia.

"A Bósnia-Herzegovina precisa de estabilidade, reformas econômicas, desenvolvimento e integração interna", declarou Dzaferovic depois de proclamar sua vitória.

"Devemos criar um ambiente estável, queremos ir para a UE e a Otan", disse Dzaferovic, afirmando que o SDA conseguiu uma grande vitória neste domingo e "será o pilar em torno do qual se formará o poder no país".