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Corrupção desmonta partido que governou a Malásia durante 61 anos

30/12/2018 10h01

Noel Caballero.

Bangcoc, 30 dez (EFE).- Depois de governar a Malásia desde a independência em 1957 e de perder as eleições de maio, a Organização Nacional dos Malaios Unidos (UMNO) enfrenta um processo de decomposição enquanto permanece no epicentro de um multimilionário escândalo de corrupção.

Desde o começo de dezembro, cerca de 50 parlamentares e representantes locais da UMNO anunciaram que estão deixando o partido para se filiarem a outros - entre eles a atual legenda no poder - ou se posicionarem como candidatos independentes.

Najib Razak, ex-presidente da UMNO durante quase uma década, enfrenta por enquanto 38 acusações de abuso de poder e lavagem de dinheiro por causa do suposto desvio de dinheiro do fundo estatal 1Malaysia Development Berhad (1MDB) para suas contas pessoais.

A maioria das acusações está ligada à apropriação indébita de 2,6 bilhões de ringgits (US$ 621 milhões) procedentes do braço investidor pelo ex-presidente, que liderou o país de março de 2009 até a inesperada derrota da UMNO nas eleições de 9 de maio deste ano.

Embora Najib negue as acusações e atribua sua fortuna a doações de um príncipe saudita e à herança de família, a controvérsia minou o apoio a seu partido - líder da coalizão da Frente Nacional, ou "Barisan Nasional".

"O futuro da UMNO é incerto, especialmente quando continua reelegendo a velha-guarda para dirigi-la (...) Estes velhos líderes não só perderam o contato com a população em geral, mas também não têm uma ideia de como reconstruir o partido", afirmou à Agência Efe o professor Nadzri Mohammed Noor, da Universidade Nacional da Malásia.

Uma pesquisa do portal Sarawak Report e do jornal "Wall Street Journal" revelou em 2015 o desvio milionário do fundo estatal 1Malaysia Development Berhad (1MDB) para contas privadas do então chefe de Estado.

Os problemas de Najib na Justiça também atingem outros representantes da UMNO, como seu atual presidente e ex-ministro de Interior, Zahid Hamidi, que enfrenta mais de 40 acusações por corrupção, ou antigos diretores do agora extinto 1MDB.

"As carreiras políticas de Najib e Zahid estão acabadas", assegurou o professor malaio, classificando de "terrível" o período do ex-ministro de Interior à frente do partido, ao errar em "reconstruir o partido como uma oposição efetiva".

Acossado pelas autoridades e por seus correligionários, Zahid deu um passo para o lado ao delegar, no último dia 18, parte de suas responsabilidades ao vice-presidente Mohamad Hassan, mas se manteve como presidente da legenda.

"O enfoque político da velha-guarda, que é de elite e de base étnica, não caminha junto com a 'Nova Malásia' (...) continua usando a política da raça e tenta encontrar um novo aliado político", destacou Nadzri.

Hassan, por sua vez, anunciou recentemente uma reestruturação das operações da UMNO com o objetivo de "criar estratégias" para as futuras eleições, previstas para 2022, e estancar a sangria de deserções.

Segundo o acadêmico da Universidade Nacional da Malásia, o êxodo de parlamentares continuará durante 2019, já que muitos representantes da UMNO são empresários guiados pelo pragmatismo "acima dos princípios".

Alguns dos que deixaram o partido se transferiram para o Partido Indígena Unido da Malásia, ou Bersatu, liderado pelo nonagenário Mahathir Mohamad, atual primeiro-ministro e que comandou a UMNO e o país entre 1981 e 2003.

Apesar de todos os escândalos envolvendo a UMNO, Nadzri adverte que não se pode pensar que o partido está morto, devido à grande quantidade de votos - mais de 3 milhões, segundo o especialista - e à facilidade que tem para conseguir apoio financeiro. EFE